Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Uma das personalidades mais famosas da história da França, Catarina de Médici continua levantando debates onde quer que seu nome seja mencionado. Sua figura está intimamente ligada a episódios tristes do passado, como o massacre de São Bartolomeu, ocorrido na madrugada do dia 24 de agosto de 1572, quando milhares protestantes foram assassinados nas ruas de Paris. Mas ela também marcou um período de grande ebulição cultural. Graças a essa florentina, membro do poderoso clã dos Médici, o espírito do Renascimento continuou a florescer em solo francês, por meio da edificação e da reforma de belos palácios, como o Louvre e as Tulherias, e pelo patrocínio a artistas locais. Recentemente, novos estudos biográficos estão sendo lançados visando a desconstrução do estereótipo da “rainha má” e da “envenenadora”, que talharam a escrita historiográfica sobre Catarina ao longo dos séculos. Ela viveu em uma época assinalada por tensões políticas e religiosas e lutou com unhas e dentes para salvar a Coroa, que estava sob ameaça das facções rivais de nobres protestantes e católicos.

Samantha Morton na série “Harlots”. Ela interpretará Catarina de Médici na nova série da Starz, “The Serpent Queen”.
Não obstante, Catarina de Médici também já foi personagem em uma série de dramas históricos arrebatadores, mais notavelmente “La Reine Margot” (no Brasil “A Rainha Margot”), filme de 1994 dirigido pelo francês Patrice Chéreau, que rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Cannes para Virna Lisi no papel da rainha-mãe. Embora o longa-metragem, baseado no romance homônimo de Alexandre Dumas, tenha reforçado o imaginário tendencioso sobre a caracterização de Catarina, ele projetou a personagem internacionalmente. A partir de então, muitos leitores procuraram saber mais a respeito da rainha que supostamente usava veneno para se livrar de seus inimigos e que ordenou a execução de milhares de huguenotes na festa de casamento de sua filha. Apesar de a maioria dessas informações sejam contestadas à luz de pesquisas modernas, elas se cristalizaram na memória coletiva e desta para as telas de TV.

A italiana Virna Lisi como Catarina de Médici no filme “La Reine Margot” (1994). Sua interpretação ajudou a projetar a personagem internacionalmente.
Em 2013, a CW produziu a série “Reign“, focada na vida de Mary Stuart, rainha da Escócia. As duas primeira temporadas se passam no reino da França, onde Mary viveu parte de sua vida, e mostra os conflitos da jovem soberana com sua sogra, interpretada por Megan Follows. A Catarina de Médici de “Reign” é, de longe, a representação mais glamourizada da personagem, se comparada com as versões mais recentes de Virna Lisi em “La Reine Margot” (1994), Evelina Meghnagi em “The Princess of Montpensier” (2010), Amanda Plummer em “Nostradamus” (1994), ou Hannelore Hoger em “Henri 4” (2010). Por outro lado, a interpretação de Follows, embelezada com roupas que mais parecem ter saído de uma versão renascentista de “Barrados no Baile”, conquistou o público jovem e aumentou a legião de admiradores de Catarina de Médici no saboroso reino da ficção. Agora, a Starz está para produzir uma nova série focada inteiramente na história da rainha florentina da França.

Megan Follows na versão mais glamourizada da personagem em “Reign”.
Intitulada “The Serpent Queen” (A Rainha Serpente), a produção traz a atriz Samantha Morton no papel de Catarina. Os fãs de dramas históricos certamente se lembrarão dela por ter interpretado Mary Stuart no filme “Elizabeth – The Golden Age” (2007). Nos últimos anos, o serviço de streaming tem se destacado na bem-sucedida adaptação dos romances da escritora inglesa Philippa Gregory sobre a Guerra das Duas Rosas e a Dinastia Tudor. Na sua bagagem, temos “The White Queen” (2013), sobre a rainha Elizabeth Woodville, “The White Princess” (2017), que conta a história da rainha Elizabeth de York, e por fim “The Spanish Princess” (2019), série focada na trajetória da primeira esposa de Henrique VIII, Catarina de Aragão e que já está na sua segunda temporada. “The Serpent Queen”, por sua vez, promete ser um mergulho “na lenda sombria de Médici”, com produção e roteiro de Justin Haythe (“Revolutionary Road”).

Samantha Morton como Mary Stuart no filme “Elizabeth – The Golden Age” (2007).
Com efeito, a série também conta com a produção executiva de Francis Lawrence (da franquia “Jogos Vorazes”) e Erwin Stoff (de “Matrix”). Além deles, Stacie Passon (“Transparente”) foi confirmada na direção de vários episódios, incluindo o de estreia. “The Serpent Queen” foi descrita como:
Um relato astuto de uma das mulheres mais influentes que já usou uma coroa. Considerada uma imigrante comum e simples, Catarina de Médici entra na corte francesa do século XVI como uma adolescente órfã, que deve trazer uma fortuna em dote e produzir muitos herdeiros, apenas para descobrir que seu marido está apaixonado por uma mulher mais velha, que o seu dote não foi pago e que ela não pode conceber. No entanto, apenas com sua inteligência e determinação ela conseguirá manter seu casamento vivo e dominar melhor do que ninguém o jogo sangrento que é a monarquia, governando a França por 50 anos.
A série será baseada na biografia escrita por Leonie Frieda, “Catherine de Medici: Renaissance Queen of France“, publicada aqui no Brasil pela editora Planeta (2019). Inicialmente, o roteiro contempla oito episódios, produzidos para a Starz pela Lionsgate Television e pela 3 Arts Entertainment. O programa deve ir ao ar nos Estados Unidos e Canadá, além de ficar disponível na plataforma de streaming da Starzplay.
Fonte: Deadline – Acesso em 12 de abril de 2021.