PARTE IV.I – “Olha ela aí, ali e nos jornais”
Por: Renato Drummond Tapioca Neto
É evidente que em meio à criação de Madame Royale (Maria Teresa), passeios matinais e peças teatrais, Maria Antonieta arrumaria tempo para as suas diversões noturnas, regadas a muito champagne e petiscos diversos, com seu círculo íntimo de amizades, do qual o conde sueco Hans Axel de Fersen, participante na guerra de independência dos Estados Unidos, tornou-se integrante. Muito já se foi dito sobre o relacionamento dos dois; biografias já foram escritas; filmes foram produzidos. Porém, o mais interessante sãos as cartas trocadas entre ambos, que possuem vários parágrafos riscados pelo conde Fersen, certamente para encobrir alguma passagem que denunciasse a natureza das relações entre ele. Teriam se tornado amantes? Muitos censuraram a figura da Maria Antonieta por isso, mas é preciso levar em consideração que ela se casou muito jovem com um homem que lhe era indiferente e por muito tempo seu matrimônio foi motivo de deboche na corte. Em Fersen, talvez, ela teria encontrado o amor que não recebera dos braços de Luís XVI.

Retrato do conde Fersen, pintado por Lorenz Pasch.
Por essa época, circulavam-se panfletos difamatórios nos quais a rainha liderava uma imensa orgia no Petit Trianon, em que tanto homens quanto mulheres, fossem nobres ou criados, saciavam sua incansável sede de prazer. Mas, no que concerne ao conde Sueco, faz-se interessante o fato de que ele possivelmente foi o único caso extraconjugal de Maria Antonieta (segundo a biógrafa Antonia Fraser). Entretanto, Evelyne Lever ressalta que entre o inverno de 1779-80,
… floresceu um sério romance entre Maria Antonieta e Fersen. No entanto, o jovem tinha suficiente consciência dos riscos dessa ligação para que se comprometesse verdadeiramente. […] Embora suas cartas tenham sido destruídas, sabemos que se escreveram e que a rainha providenciou a promoção do homem que amava na corte (LEVER, 2004, p. 148).
Embora existam outros supostos boatos de adultério por parte da consorte real, em se tratando de Fersen, é certo que os dois praticavam uma forma de cordialidade bastante comum entre os nobres daquele período e de gerações passadas: o amor cortês (mesmo os diários de o referido conde induzir que a intimidade dos dois era algo mais profunda). Quanto à propaganda indecorosa, que era publicada na Inglaterra e contrabandeada para a França, ela, por sua vez, preferiu não dar atenção para esse tipo de manifesto antimonarquista, mal sabendo que era este o começo da sua própria ruína e da de seus amigos.
Referências Bibliográficas:
FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Tradução de Maria Beatriz de Medina. 4ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2009.
LEVER, Evelyne. Maria Antonieta: a última rainha da França. Tradução de S. Duarte. 1ª edição. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.