O Escândalo da Rainha: O Martírio de Maria Antonieta – Parte II

“Isso, Madame, é Versalhes”

(Condessa de Noailles à Maria Antonieta no filme “Marie Antoinette” de 2006)

por: Renato Drummond Tapioca Neto

Mesmo tendo sido curta, a infância de Maria Antonieta fora bastante proveitosa: recebera uma educação elevada para os padrões da época e tivera uma mãe que, apesar de usá-la como um peão no jogo de interesses diplomáticos, lhe dedicara bastante amor e carinho, mas já era hora de deixar a Áustria para trás e a ilusão de um casamento por amor. Até esse ponto, sua vida fora, com toda simplicidade da palavra, “comum” para uma princesa de sangue real (possivelmente esse foi único período tido como “normal” na escandalosa trajetória de Maria Antonieta). No início de 1770, ela já se despedia de sua família para fazer uma exaustiva viagem de carruagem, acompanhada por um séquito de damas e cortesãos, até a fronteira entre os dois reinos, aonde uma comitiva de boas vindas, chefiada pelo Conde e Condessa de Noailles, lhe esperava. Como era de costume em tais ocasiões, a noiva deveria despir-se de tudo que pertencia à corte estrangeira, incluindo criados e mesmo a própria roupa do corpo. Ou seja, ela deixaria de ser arquiduquesa da Áustria para se tornar a Delfina da França.

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Luís Augusto, futuro Luís XVI

Encerrado esse processo de “afrancesamento”, ela então seguira de carruagem ao encontro do Rei Luís XV e de seu neto, Luís Augusto, que a aguardavam ha alguns quilômetros da fronteira. Mas como era o jovem Delfim? Ao ler este episódio no livro de Antonia Fraser, “Marie Antoinette, The Journey”, não pude deixar de fazer uma comparação com a Infanta Carlota Joaquina que, em 1785, deixara a Espanha para casar-se com D. João VI de Portugal. Tal como Maria Antonieta, Carlota ficara encantada ao ver o retrato do Infante português, mas ao deparar-se com a realidade passara por grande decepção. Quanto a Antonieta, esta se comportou moderadamente bem diante da presença do corpulento Luís Augusto, que era muito desenvolvido para a sua idade (quinze anos). Na opinião de Antonia Fraser:

… Ali estava um jovem com olhos de pálpebras pesadas e sobrancelhas grossas e escuras, parecendo em geral estranho – ou seria taciturno? – e, embora só fizesse dezesseis anos em agosto, já bem corpulento. Em resumo, Luís Augusto não era bem a imagem idealizada dos retratos e miniaturas que Maria Antonieta recebera, que, compreensivelmente, tinham reduzido com tato a linha do seu maxilar e minimizado o seu tamanho… (FRASER, 2009, p. 85).

Em muito a beleza da jovem superava a de seu futuro marido: seus cabelos eram loiros, tinha belos olhos azuis, bochechas rosadas, corpo esbelto e uma tez alva e lisa. Por isso que as francesas morriam de inveja da arquiduquesa. Após as apresentações oficiais era hora de conhecer sua nova morada, o magnífico palácio de Versalhes, e os seus agregados.

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Cena do filme “Marie Antoinette” (2006), dirigido e escrito por Sofia Copola.

Os nobres que recepcionaram a nova Delfina da França na entrada do palácio de Versalhes não foram nada simpáticos para com ela, uma vez que a aliança franco-austríaca não era bem vista por aqueles que detestavam a presença de estrangeiros no país.  A cerimônia de casamento ocorreu em abril de 1770, seguida por um grande baile e queima de fogos, que antecederam a tão aguardada noite de núpcias. No filme Marie Antoinette (2006), roteiro e direção de Sofia Copola, Ha um hilário vislumbre da presença da corte no leito conjugal até o momento em que Luís XV lhes deseja boa sorte na tarefa que supostamente deveria ser comprida. (isso era bastante comum em se tratando de casamento entre filhos de reis – Henrique VII da Inglaterra, por exemplo, acompanhou seu filho Arthur e sua esposa Catarina de Aragão até o quarto para garantir que os dois dormiriam juntos). Pois é, deveria, mas não aconteceu e assim, por sete longos anos de casamento, Luís Augusto não deflorou a Delfina, despertando a preocupação da Imperatriz Maria Teresa, pois um casamento real não consumado poderia ser anulado.

Referências Bibliográficas:

FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Tradução de Maria Beatriz de Medina. 4ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2009.

LEVER, Evelyne. Maria Antonieta: a última rainha da França. Tradução de S. Duarte.  1ª edição. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

2 comentários sobre “O Escândalo da Rainha: O Martírio de Maria Antonieta – Parte II

  1. Casamentos de ordens diplomáticas eram precisos, pois entorno deles giravam grandes interesses, mas por outro lado, as junções trariam consigo verdadeiras provações, que em muitas das vezes seriam bastantes complexas de serem vividas pelas pessoas em questão. Acredito que grandes dificuldades fizeram com que muitas rainhas vivessem vidas infelizes por conta de tais uniões, que só serviram a interesses entre as dinastias em questão.

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