O Escândalo da Rainha: O Martírio de Maria Antonieta – Parte VI.I

PARTE VI. I – O Último Adeus

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

O julgamento de Maria Antonieta, tal como o de Luís XVI, não passou de um teatro organizado pelo Tribunal Revolucionário para dar àquelas mortes um caráter de justiça, quando, na verdade, as sentenças já haviam sido previamente discutidas pelos seus articuladores. Enquanto vivos, o casal de soberanos continuariam sendo um símbolo do regime recém-deposto e também um foco para atrair investidas de potências estrangeiras, especialmente a austríaca. Em todo o momento durante as sessões, Antonieta permaneceu calma, embora em seu íntimo soubesse que seu tempo estava acabando. Ela inclusive lembrou aos jurados que, de acordo com seu contrato de casamento, no caso da morte do rei ela voltava a ser uma arquiduquesa austríaca, devendo, portanto, retornar para sua terra-natal. Mas de nada adiantou. Sua maior tristeza, porém, era deixar dois filhos pequenos: Maria Teresa, de 15 anos, e Luís Carlos, proclamado pelos monarquistas como Luís XVII. Desde que fora afastada dos filhos, eles constituam sua única preocupação e, nas horas finais, seus pensamentos estavam voltados para eles. 

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Última carta de Maria Antonieta

O inquérito durara cerca de dois dias e o veredicto fora unânime: culpada.  Maria Antonieta fora condenada à morte pela guilhotina. Na madrugada do dia da execução, ela solicitou a um dos guardas  Conciergerie papel e tinta e começou a escrever uma carta à sua cunhada, Madame Isabel, na qual descreve a efemeridade da aurora de seus tempos. Segue abaixo o trecho mais tocante do texto:

Eu fui educada na religião católica, apostólica e romana, naquela de meus pais, e nela eu cresci e sempre professei; não tendo (agora) nenhuma consolação espiritual a esperar, não sabendo se existem aqui (na França) ainda padres desta religião, e mesmo (se existissem ainda padres) o lugar (a prisão) onde eu estou os exporia a muitos riscos, se eles me falassem, ainda que fosse só uma vez. Eu peço sinceramente perdão a Deus por todas as faltas que eu cometi desde que nasci. Eu peço perdão a todos aqueles que conheço, e a Vós, minha irmã, em particular, de todos os sofrimentos que, sem querer, poder-lhe-ia ter causado; eu perdôo todos os meus inimigos pelo mal que me têm feito. Adeus, minha boa e terna irmã. Possa esta carta chegar até você. Pense sempre em mim. Eu te abraço de todo meu coração, assim como minhas pobres e queridas crianças. Meu Deus, quanto me corta o coração deixá-las para sempre!

Infelizmente, Madame Isabel jamais chegaria a ler esta missiva. Ela foi confiscada pelo Tribunal Revolucionário e só foi encontrada no meio dos papeis de Robespierre muitos anos mais tarde. A última carta de Maria Antonieta à sua querida “irmã” é hoje considerada como o testamento que jamais escrevera. O trecho que acaba de ser exposto, fora grafado nas paredes da cela à qual ela estivera presa, transformada posteriormente em capela.

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Maria Antonieta a caminho da guilhotina

A execução da ex-rainha da França ocorreu no dia 16 de outubro de 1793, na Place de La Concorde. Para a ocasião, Maria Antonieta prestara uma última homenagem simbólica à monarquia, vestindo-se inteiramente de branco. Adiante, tivera de ser escoltada da prisão até o cadafalso erguido na praça, trancafiada e amarrada dentro de uma carroça. Alguns dos presentes emudeceram diante da humilhante condição que aquela mulher encontrava-se. Outros, lhe dirigiam impropérios enquanto a carruagem passava. Nada fizeram para impedir o horror que seria cometido dentro de poucos instantes e até mesmo a própria vítima se recusara a receber qualquer tipo de ajuda. Então, com toda a coragem e dignidade de sua linhagem, a “Viúva Capeto” subiu no palanque ao encontro da arma que para sempre selaria o seu destino: a guilhotina. Sem dizer qualquer palavra e com uma expressão de leveza, Maria Antonieta partira para a imortalidade. A reação da população, em seguida, foi demonstrada pela extasiada frase: “Viva a República”. Já os monarquistas, estes se reconfortaram ao saber que sua rainha morrera com toda a majestade que cabia à sua convicção. O corpo e a cabeça foram sepultados originalmente onde hoje é a “Chapelle Expiratoire”, ao lado de Luís XVI.

Referências Bibliográficas: 

FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Tradução de Maria Beatriz de Medina. 4ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2009.

LEVER, Evelyne. Maria Antonieta: a última rainha da França. Tradução de S. Duarte.  1ª edição. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

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