Em 2 de junho de 1953, a rainha Elizabeth II era solenemente coroada na Abadia de Westminster. A monarca já ocupava o trono há pouco mais de um ano desde a morte de seu pai, o rei George VI, em 6 de fevereiro de 1952. Para o primeiro grande evento de seu reinado, que seria televisionado para milhares de lares no Reino Unido (estima-se que 27 milhões de pessoas estavam assistindo à transmissão feita pela BBC naquele dia, enquanto outras 11 milhões a ouviam pelo rádio), a soberana de 27 anos apareceu ricamente paramentada com joias históricas e com um vestido e manto confeccionados especialmente para a ocasião. Desenhado por Norman Hartnell, estilista da Coroa, o traje carrega consigo um profundo apelo simbólico, que faz referência a todos os países sobre os quais Elizabeth reinava. 69 anos depois, o conjunto volta a ser exibido ao público no castelo de Windsor, juntamente com o manto e os demais ornamentos que a rainha usou na gloriosa cerimônia e posou para os retratos oficiais. A exposição faz parte da comemoração do Jubileu de Platina da monarca, que no mês passado se tornou a segunda soberana mais longeva da história depois de Cristo, ficando atrás apenas de Luís XIV da França.

Vestido e manto da coroação da rainha Elizabeth II, dentro do mostruário no castelo de Windsor!

Fotografia de Elizabeth II com o vestido e o manto da sua coroação, em 2 de junho de 1953.
O dia 2 de junho de 1953 amanheceu frio em Londres, embora fosse verão na Europa. Contudo, a baixa temperatura e a chuva que caia esporadicamente não foram impedimento para que britânicos de todas as partes do Reino Unido se aglomerassem ao longo do trajeto entre o Palácio de Buckingham e a Abadia de Westminster. Elizabeth entrou na carruagem do rei George III, que recebeu uma nova camada de tinta dourada especialmente para a ocasião, e fez o percurso enquanto acenava graciosamente da janela do veículo para os milhares de súditos durante toda a rota. Ela usava o Diadema de Estado do rei George IV, o mesmo colar de diamantes que a rainha Vitória usou para as comemorações do seu Jubileu de Ouro em 1887, os brincos de diamantes da rainha Mary de Teck e o riquíssimo vestido desenhado por Norman Hartnell. A peça é bordada com emblemas florais que representam os países da Comunidade de Nações, tais como a rosa Tudor inglesa, o cardo escocês, o alho-poró galês, a folha de bordo canadense, a flor de acácia australiana, a flor de lótus do Ceilão e o lótus da Índia, a samambaia prateada da Nova Zelândia, a proeta da África do Sul, entre outras. Preso aos seus ombros, um manto de cor púrpura, bordado com fios dourados e o monograma real da nova soberana.

Croqui do vestido da coroação da rainha Elizabeth II, desenhado pelo estilista Norman Hartnell.

Retrato da coroação, pintado por Sir Herbert James Gunn.
Conta-se que Norman Hartnell fez ao todo 8 croquis de possíveis trajes para a soberana, que acabou optando pela magnífica peça de cetim bordada com pérolas, lantejoulas de cristais e fios de ouro e prata. Quando Elizabeth desceu da carruagem para entrar na Abadia, sua figura parecia resplandecer com o mesmo brilho dos diamantes do Diadema de Estado. Já o manto da coroação, foi trabalhado por nada menos que doze costureiras selecionadas da Royal School of Needlework, usando 18 tipos de fios de ouro para bordar os padrões entrelaçados de espigas de trigo e ramos de oliveira na orla, que simbolizam paz e prosperidade. O robe demorou cerca de 3.500 horas para ficar pronto, entre março e maio de 1953 e possui seis metros e meio de comprimento. Forrado com pele de arminho (tradicionalmente utilizada nos trajes de coroação dos soberanos europeus), o manto foi fabricado em veludo e seda original inglesa pela Ede & Ravenscroft. Agora, as duas peças aparecem mais uma vez combinadas, dentro de um mostruário de vidro no magnífico St George’s Hall, a maior sala do castelo. Em frente ao conjunto, o retrato oficial da coroação da soberana, pintado em 1953 por Sir Herbert James Gunn.

A peça é bordada com emblemas florais que representam os países da Comunidade de Nações, tais como a rosa Tudor inglesa, o cardo escocês, o alho-poró galês, a folha de bordo canadense, a flor de acácia australiana, a flor de lótus do Ceilão e o lótus da Índia, a samambaia prateada da Nova Zelândia, a proeta da África do Sul, entre outras.

Parte de trás do vestido, bordado com pérolas, lantejoulas de cristais e fios de ouro e prata.

O manto da coroação foi trabalhado por nada menos que doze costureiras selecionadas da Royal School of Needlework, usando 18 tipos de fios de ouro para bordar os padrões entrelaçados de espigas de trigo e ramos de oliveira na orla, que simbolizam prosperidade e paz. O robe demorou cerca de 3.500 horas para ficar pronto, entre março e maio de 1953 e possui seis metros e meio de comprimento.
Sobre as joias que acompanham o traje e o retrato na exposição, destaca-se o colar de diamantes que a rainha Vitória encomendou em 1858 e com o qual foi retratada pela primeira vez naquele mesmo ano, quando tinha 40 anos, pelos habilidosos pinceis de Franz Xaver Winterhalter. Em seguida, a trisavó da rainha Elizabeth II adicionou o imponente diamante Lahore como pingente ao colar, o que deu à joia seu acabamento atual. Vitória foi fotografada com a peça nas imagens oficiais dela como Imperatriz da Índia em 1876 e nas pinturas feitas por ocasião do seu Jubileu de Ouro. Após a morte da monarca, em 1901, a peça foi legada sucessivamente às soberanas consortes do Reino Unido, como Alexandra da Dinamarca, Mary de Teck e Elizabeth Bowes-Lyon, até passar para as mãos de Elizabeth II. A atual monarca a usou não apenas no dia da sua coroação, como também em aberturas das sessões anuais do Parlamento e outros eventos oficiais da Coroa, sendo uma de suas joias favoritas. Trata-se de uma das peças mais importantes da coleção real, não só pelo valor dos diamantes, mas principalmente pela sua historicidade.

Colar de diamantes da rainha Vitória.

Brincos de diamantes da rainha Mary de Teck.

Broches de diamantes e esmeralda, representando as nações do Reino Unido.
Além do colar e dos brincos de diamantes da rainha Mary de Teck, fazem parte da exibição um conjunto de quatro broches de Elizabeth II, confeccionados em formato de flores, representando cada qual uma nação do Reino Unido: um ramo de trevo da Irlanda do Norte, o narciso do País de Gales, o cardo da Escócia e a rosa da Inglaterra. A soberana costumava usar cada um deles quando fazia uma visita aos respectivos países. Os broches são principalmente feitos em ouro e cravejados com diamantes nas cores branco, rosa e amarelo; para o trevo da Irlanda do Norte, também esmeraldas. A exposição Platinum Jubilee: The Queen’s Coronation (Jubileu de Platina: A Coroação da Rainha), com as peças em destaque, permanecerá no castelo de Windsor até o dia 26 de setembro desse ano.
Acervo das Imagens: Royal Collection Trust
Sites: Anglotopia e BBC News – Acesso em 7 de julho de 2022.
Referências Bibliográficas:
HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.
MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.
MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2002.
God Save The Queen
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