Feito para uma rainha: o mistério do relógio de ouro perdido de Maria Antonieta!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Em 1783, a popularidade da rainha Maria Antonieta andava cada vez mais fraca. A soberana havia se isolado em seu retiro campestre no Petit Trianon, onde se cercou de um grupo seleto de amigos e ignorou quase completamente a orgulhosa e áspera nobreza que vivia no Palácio de Versalhes. Contudo, ainda existia quem a admirasse por sua elegância e seus modos graciosos, especialmente entre os gendarmes (os mesmos que mais tarde se juntaram ao Terceiro Estado na Revolução). Um deles, oriundo de família rica, encomendou ao mais famoso relojoeiro da época, Abraham-Louis Breguet, a fabricação do relógio mais bonito do mundo, feito especialmente para a esposa do rei Luís XVI. A peça deveria ser única, não apenas por seu requinte, como por sua complexidade. Breguet então aceitou o desafio e começou a trabalhar na montagem do objeto, que infelizmente nunca chegaria às mãos de sua destinatária. Apenas 10 anos depois, Maria Antonieta foi guilhotinada e o relógio, de tão complexo que era, nunca chegou a ser tocado por ela. Porém, a história da peça acabou ficando intrinsecamente ligada ao seu nome. O mais fascinante é que o relógio, uma vez pronto, se tornou alvo do desejo não apenas de colecionadores, mas também de ladrões!

Relógio feito por Abraham-Louis Breguet para a rainha Maria Antonieta. Foto: David Silverman / Getty Images Hungary.

Aparentemente, a peça que Breguet estava montando se tratava de um relógio de bolso, com apenas um detalhe: todas as suas partes deveriam ser fabricadas em ouro. Cada engrenagem, ponteiro e mola, que faziam o objeto funcionar automaticamente, deveriam ser moldadas a partir do metal precioso. O único problema é que suas 830 peças levaram mais de 30 anos para ficarem prontas. Nesse meio tempo, não só Maria Antonieta havia morrido, como também o próprio Abraham-Louis Breguet. A conclusão do trabalho ficou então por conta de seu filho, que deu um acabamento bastante sofisticado ao temporizador, com uma tampa de cristal que permitia ao portador do objeto ver as suas centenas de engrenagens funcionando conjuntamente. Uma vez pronta, a peça se tornou uma das mais belas e caras expressões da arte da relojoaria. Mais tarde, ela foi adquirida pelo ex-prefeito de Londres, Sir David Salomons. Após a sua morte, em 1925, o contador foi catalogado por um advogado britânico no inventário da coleção de relógios de bolso dos séculos XVIII e XIX, que haviam pertencido a Salomons. Em 1970, sua filha resolveu exibir a magnífica obra no Museu de Arte Islâmica.

Par de pulseiras de diamantes adquiridas por Maria Antonieta em 1776, que foram leiloadas pela Christie’s. Objetos ligados à rainha possuem um valor bastante alto no mercado.

Por estar associado ao nome da última rainha da França absolutista e por ter sido fabricado em ouro e cristal por um dos maiores relojoeiros do século XVIII, sobrevivendo intacto por quase 200 anos, o item se tornou um dos mais caros relógios do mundo, ocupando atualmente o quarto lugar no ranking internacional. Seu valor está estimado em 30 milhões de dólares, o equivalente a mais de 161 milhões de reais. Logicamente, uma peça desse quilate chamaria a atenção não apenas de colecionadores e estudiosos, como também de ladrões! Sim, o relógio foi roubado do seu mostruário no Museu no dia 17 de abril de 1983, juntamente com outros 100 relógios raros da coleção que se encontravam em exposição. Por mais de 23 anos, as circunstâncias do roubo permaneceram um verdadeiro mistério a ser resolvido, quando a polícia israelense teve notícias de que indivíduos não identificados estavam tentando vender relógios caros no mercado de peças ilegais. Assim, eles descobriram que um homem local, chamado Naaman Diller, havia conseguido burlar o sistema de segurança da Instituição e saqueou as peças de valor imprescindível, espalhando-as por cofres localizados em diferentes partes do mundo, como na Europa, nos Estados Unidos e em Israel.

Embora feito para Maria Antonieta, ela morreu antes do relógio ficar pronto e, portanto, nunca o usou!

Com efeito, toda essa reviravolta não seria do conhecimento do leitor e da leitora se a viúva de Diller, falecido no ano de 2004, não tivesse tomado a decisão de vender os tesouros roubados de seu marido. De um total de 106 relógios que estavam em sua posse, 39 passaram por um processo de restauração e depois foram restituídos ao seus locais de origem, incluindo o relógio feito para a rainha Maria Antonieta. Atualmente, a peça pode ser admirada em todo o seu esplendor no Museu de Arte Islâmica. Objetos ligados à esposa de Luís XVI são itens muito raros, que podem ser vistos apenas em algumas exposições da Europa e dos Estados Unidos, principalmente no Palácio de Versalhes e no Petit Trianon (locais onde a soberana viveu). Durante a Revolução Francesa, seus móveis foram roubados e seus vestidos (que outrora ocupavam três cômodos de Versalhes) foram quase completamente destruídos. Sendo assim, qualquer artigo que apareça no mercado de leilões tem seu valor infinitamente multiplicado apenas por estar associado ao seu nome. Embora ela nunca tenha usado o relógio feito pelas mãos habilidosas de Abraham-Louis Breguet, sem dúvidas sua armação é digna de uma rainha!

Fonte:

Index. Marie Antoinette-ét ellopták, Paul Newman ingyen vált meg milliárdokat érő órájától. 2023 – Acesso em 21 de fevereiro de 2023.

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