“Marie Antoinette”: tudo o que você precisa saber acerca da nova série sobre a famosa rainha da França!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Em 1770, a jovem arquiduquesa Maria Antônia, de apenas 14 anos, viajava da Áustria até a França para se casar com o herdeiro do trono, o delfim Luís Augusto. A partir de então, seu nome ficaria gravado para sempre na história como Marie Antoinette (em português, Maria Antonieta). Sua imaturidade, candura e inocência contrastavam sobremaneira com aquele universo de fofocas, conspirações e intrigas na corte, que faziam do magnífico Palácio de Versalhes o centro da Europa. Forçada a lidar com a apatia do marido, que era mais interessando por seu trabalho como mecânico do que pela esposa, e com as línguas viperinas das damas franceses, Antonieta criou para si uma espécie de mundo particular, do qual faziam parte apenas seus poucos amigos íntimos. Enquanto isso, o país enfrentava uma grave crise financeira, que mais tarde resultaria na eclosão da maior de todas as Revoluções do Ocidente. Esse enredo, tão explorado por filmes e romances, é o pano de fundo para a mais nova série da PBS, em parceria com o Canal+ e a BBC 2, sobre a última rainha do absolutismo francês. Intitulada “Marie Antoinette”, a produção traz a atriz Emilia Schüle no papel da protagonista.

Emilia Schüle como Maria Antonieta na nova série da PBS, “Marie Antoinette”.

Louis Cunningham como o delfim e futuro rei Luís XVI.

Desde que Sofia Coppola lançou em 2006 sua adaptação para a biografia de Antonia Fraser, “Marie Antoinette”, com a atriz Kirsten Dunst na pele da famosa rainha, produções de época ganharam um grande interesse do público. A versão de Coppola misturava a moda e os cenários do século XVIII com uma trilha sonora pra lá de rock ‘n roll, transformando os personagens numa espécie de celebridades. As cores alegres, misturadas com cenas de festas regadas a muito champanhe, com apelo sexual e paixões avassaladoras, fizeram da adaptação um tremendo sucesso. Sua fórmula acabaria sendo repetida em muitas outras produções ambientadas no passado, como “Reign” (2013), “Versailles” (2015), “Bridgerton” (2021) e, mais recentemente, “The Empress” (2022), sobre a vida da imperatriz Elisabeth da Áustria. Embora alguns críticos mais puristas tenham torcido o nariz para esse tipo de “distorção” da história, como essas séries foram classificadas, o fato é que elas caíram no gosto popular. A partir de então, muitos espectadores passaram a se interessar mais sobre as vidas de Mary Stuart, Luís XIV, da rainha Charlotte ou de Sissi. Páginas em redes sociais foram criadas para essas personalidades e muitos youtubers dedicaram vídeos voltados especialmente para a narrativa dos principais acontecimentos de suas vidas.

Quando o assunto é ficção, as possibilidades de criação são muito maiores do que aquelas permitidas a um historiador ou biógrafo, por exemplo. Nesse terreno, o aspecto lúdico das séries e filmes possuem um poder muito mais atrativo do que o textual. Afinal, qual espectador não se sentiria minimamente tentado a assistir uma produção com a seguinte sinopse:

Maria Antonieta é apenas uma adolescente quando deixa a Áustria para se casar com o delfim da França. Quando ela chega a Versalhes, ela deve obedecer às numerosas e complexas regras da corte francesa. A princesa rapidamente sofre por não ser capaz de viver sua vida da maneira como ela quer, enquanto sua mãe, a imperatriz da Áustria (Marthe Keller, “Marathon Man”), continua empurrando-a para continuar a linhagem Bourbon e, assim, garantir a aliança entre os dois países. No entanto, diante do caráter esquivo e solitário de Luís, a missão acaba sendo mais complicada do que o esperado. Como panfletos difamatórios e rumores persistentes sobre sua vida privada minam seu status, seus oponentes dentro da família real farão tudo o que puderem para derrubá-la.

Pressionada a engravidar o quanto antes para cimentar a aliança franco-austríaca com o nascimento de um herdeiro do sexo masculino, Maria Antonieta procurou uma válvula de escape para sua difícil situação. Seus gastos exorbitantes com roupas e joias se tornaram de conhecimento público, enquanto rumores acerca de sua vida amorosa faziam ferver o imaginário coletivo. Panfletos difamatórios, nos quais ela protagonizava verdadeiras orgias no Palácio de Versalhes, circulavam por toda a corte, pela cidade de Paris e por outros reinos da Europa.

Emilia Schüle e Martijn Lakemeier em “Maria Antonieta”.

Gaia Weiss como Condessa du Barry com Nicola Perot como o Duque de Aiguillon.

Ao lado de Emilia Schüle, está o ator Louis Cunningham, de Bridgerton, na pele do delfim e depois rei Luís XVI. Complementando o elenco, temos a atriz Marthe Keller (Marathon Man) como a mãe de Maria Antonieta, a imperatriz da Áustria, Maria Teresa. Juntando-se ao trio principal, tem-se Jack Archer (Call the Midwife), Gaia Weiss (Vikings), James Purefoy (Roma), Oscar Lesage (Ligações Perigosas), Jasmine Backborow (Shadow and Bone), Roxane Duran (Mrs. Harris Goes to Paris), Caroline Piette (Beats Per Minute) e Crystal Shepherd-Cross (Crônicas do Sol). A série de oito episódios da PBS foi criada e escrita pela co-roteirista do filme “A Favorita” (2018), Deborah Davis, em parceria com Pete Travis e Geoffrey Enthoven na direção. Claude Chelli, Stéphanie Chartreux, Margaux Balsan e Deborah Davis são os produtores executivos.

O casamento de Maria Antonieta e Luís XVI demorou sete anos até ser consumado e uma filha gerada, a princesa Maria Teresa Carlota, conhecida pelo título de Madame Royale. Apenas em 1781 nasceria o primeiro herdeiro do sexo masculino, o delfim Luís José. Naquele período, a mulher era responsabilizada diretamente pelo insucesso do casamento. Da Áustria, a imperatriz Maria Teresa enviava cartas virulentas para a filha, exortando-a a usar todo o charme possível para seduzir o seu marido. Não obstante, a jovem era obrigada a conviver nos seus primeiros anos na corte da França com a presença de Madame Du Barry, amante titular do rei Luís XV. Em “Marie Antoinette”, ela será interpretada pela atriz Gaia Weiss. Na opinião de Peter Aspden, para o Financial Times:

Em Maria Antonieta, a ingênua arquiduquesa austríaca chega à corte francesa aos 14 anos com compreensível trepidação. Os sete ou oito anos de confusão que levaram à eventual consumação de seu casamento com Luís XVI são mostrados em detalhes cômicos e dolorosos. […] O sexo é valorizado, neste caso, esmagadoramente por sua função procriadora. Sem um herdeiro do sexo masculino, a aliança matrimonial está sempre em perigo de ruptura. Mas as mulheres em cena se reúnem e fazem o grande momento acontecer. Os homens são em sua maioria infelizes neste cenário, impulsionados por intenções luxuriosas, mas não sutis em suas tentativas de compreender o quadro maior. […] O pivô nesta leitura feminina é a Condessa du Barry, amante do antecessor de Luís no trono, cuja compreensão terrena de seu apelo e status lhe permite dominar a corte (uma performance feminina alfa perfeita de Gaia Weiss), até que ela exagera em sua mão. De forma reveladora, quando as manobras eróticas são substituídas no final da série por homens falando sobre política, a série perde seu entusiasmo.

Assim como no filme dirigido por Sofia Coppola, a série “Marie Antoinette” apresenta ao espectador a figura do conde Fersen, interpretado por Martijn Lakemeier, como amante da delfina e depois rainha da França. Até hoje, os biógrafos se debatem acerca da natureza do relacionamento entre os dois. Para Eveline Lever, a paixão não passou de um sentimento platônico, enquanto Antonia Fraser defende a ideia de que os dois foram amantes no sentido estrito do termo. No tempo em que Antonieta viveu, era comum que as mulheres da aristocracia, depois de gerarem um herdeiro do sexo masculino e um suplente, arrogassem para si o direito de manter um caso extraconjugal, desde que essa relação não criasse alarde e maculasse a reputação dos maridos. A série, por outro lado, deve introduzir a figura de Fersen como amante da soberana muito antes da data que os biógrafos estipulam para o início de sua relação, ou seja, por volta de 1784.

Emilia Schüle como Maria Antonieta e Louis Cunningham com Luís XVI.

Emilia Schüle como Maria Antonieta e Louis Cunningham com Luís XVI.

Gillean Graig, em sua crítica da série para o Church TImes, descreveu “Marie Antoinette” como “uma colmeia fervilhante de intriga, espionagem e uma luta implacável para se construir e minar todos os outros”. Como já era de se esperar, ele aponta para a falta de compromisso do roteiro com os fatos e o exagero no figurino e nos cenários:

Parece fantástico, com toda a beleza e opulência da moda de Luís XVI, interiores e jardins cuidadosamente exibidos; mas, como drama, não importa a história precisa, é uma grande decepção, a mais leve confecção, desprovida de alimento. Há um motivo para se regozijar: as representações televisivas do covarde ancien régime normalmente apresentam cardeais, bispos e abades dúbios e hipócritas – mas aqui o clero está incrivelmente ausente, e a Igreja quase não está em lugar algum para ser vista. Minha esperança de ser capaz de pelo menos chafurdar em uma linda liturgia e cerimonial foi totalmente frustrada: até mesmo o casamento real foi reduzido a trocar o anel (o noivo o soltou) e “Você pode beijar a noiva” (ele não o fez).

Por falar nas locações para as gravações das cenas, a equipe de produção parece que fez direitinho a lição de casa. “Marie Antoinette” foi filmada em vários lugares por onde a esposa de Luís XVI passou. Estes incluem o magnífico Palácio de Versalhes, sede da monarquia francesa no século XVIII; o Château de Bagatelle, um pequeno palacete em estilo neoclássico que pertenceu ao conde de Artois, irmão mais jovem de Luís XVI (mais tarde rei Carlos X); o encantador Château de Rambouillet, situado na região da Île-de-France, a cerca de 31 milhas a sudoeste de Paris. A propriedade havia pertencido aos reis da dinastia Valois e foi lá onde Francisco I morreu, em 1547. Outras personalidades importantes, como o conde de Tolouse, o próprio Luís XVI e o imperador Napoleão I também passaram algumas temporadas no local, até ele ser transformado em residência de veraneio para os presidentes da República Francesa, já no século XIX.

Outro belíssimo local de filmagens foi o Château de Fontainebleau, a joia do rei Francisco I, construído no mais puro estilo renascentista. Napoleão Bonaparte tinha um apreço muito especial pela construção, tanto que seu trono ainda hoje pode ser admirado pelos visitantes que passeiam pelo Vale do Loire e vão ao Château. Maria Antonieta e Luís XVI passaram algumas noites em Fontainebleau, antes que a Revolução Francesa estourasse, na expectativa de conseguir fugir de Versalhes. Entre as demais locações, podemos citar o Château de Vaux-le-Vicomte, construído pelo arquiteto Louis Le Vau (que também esteve envolvido no projeto de Versalhes) para o Superintendente das Finanças do rei Luís XIV, Nicolas Fouquet. Considerada como a maior propriedade privada com o título de Monument historique (Monumento histórico) na França, o Château foi confiscado pela Coroa no século XVII após seu proprietário ser condenado e preso por alta traição. Além de Vaux-le-Vicomte, o Chateau de Lesigny e a mundialmente famosa Avenue des Champs-Élysées também serviram de espaços para gravações, emprestando assim maior verossimilhança para o enredo.

Luís XV (James Purefoy) e Madame du Barry (Gaia Weiss)

Por falar nas locações para as gravações das cenas, a equipe de produção parece que fez a lição de casa com êxito. “Marie Antoinette” foi filmada em vários lugares por onde a esposa de Luís XVI passou.

Em entrevista para a Variety, a roteirista e produtora executiva Deborah Davis falou sobre como foi escrever a personagem Maria Antonieta. Ela disse que “encontrou a lutadora, e eu amei estar com ela durante todo o caminho através de suas batalhas. Maria Antonieta vem de uma linhagem muito longa de mulheres extremamente fortes e espirituosas, e ela as aceitou”. Já Emine Saner, do The Guardian, ficou muito entusiasmada com a série. Ela disse: “Se você amou A Favorita, você vai adorar este divertido drama de época. Estranho, engraçado, grotesco em alguns lugares… este drama da escritora do filme com Olivia Colman retrata a rainha francesa como uma adolescente ingênua e brincalhona – e é extremamente divertido”. Dan Einav, do Financial Times, disse: “Então, embora a série possa ter alguma licença criativa e saltos imaginativos, ela o faz na esperança de recuperar sua humanidade e dar textura e agência a uma mulher que não era apenas uma materialista notória, mas que foi tratada como uma mercadoria”.

Confira abaixo o Teaser Trailer:

Fontes:

Church Times. TV review: Marie Antoinette, How to Live to 100, and Mystery Road: Origin. 2023 – Acesso em 10 de fevereiro de 2023.

Collider. ‘Marie Antoinette’: PBS Period Drama Gets Spring Release Date. 2023 – Acesso em 10 de fevereiro de 2023.

Financial Times. Why 18th-century Versailles outstrips 1970s LA for sexual frankness. 2023 – Acesso em 10 de fevereiro de 2023.

Good to Know. Where is Marie Antoinette filmed? Locations featured in the BBC period drama. 2023 – Acesso em 10 de fevereiro de 2023.

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