A mobília perdida da rainha: cômoda e poltrona que pertenceram a Maria Antonieta vão a leilão!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

O Palácio de Versalhes até hoje mantém a reputação de ser uma das construções mais luxuosas, senão a mais imponente da Europa. Porém, boa parte de sua mobília original foi saqueada durante o período da Revolução Francesa, especialmente os objetos que costumavam ficar nos aposentos do rei e da rainha. Não à toa, alguns de seus visitantes já alegaram sentir uma sensação de vazio em determinados cômodos. Onde antes existiam poltronas ricamente estofadas, tapeçarias, quadros, armários, mesas com várias cadeiras, escrivaninhas, pianos, entre outros móveis, restou apenas a visão de paredes decoradas que, de tempos em tempos, precisam de restauração. Os aposentos de Maria Antonieta, por exemplo, embora ainda apresentem a opulência de sua antiga proprietária, com sua cama e o magnífico dossel, perderam muito de sua mobília. Parte dela, contendo ainda o monograma da rainha entalhado na madeira ou bordado no tecido, foi contrabandeada para fora da França e/ou vendida para outros castelos e palácios europeus no século XIX. Agora, a casa de leilões Christie’s anunciou a venda em Paris de dois móveis “extremamente raros” que pertenceram à última soberana do absolutismo francês.

Atualmente, quase tudo relacionado ao nome de Maria Antonieta gera uma renda enorme.

Nos últimos anos, Maria Antonieta vem sendo sujeito especial de fascínio por parte do público, desde a estreia do aclamado filme de Sofia Coppola, Marie Antoinette (2006), estrelado por Kirsten Dunst. Recentemente, ela retornou para as telas como personagem de uma série inteiramente dedicada à sua vida, na qual é interpretada pela atriz alemã Emilia Schüle. A primeira temporada conta com um total de oito episódios, focados principalmente na juventude de Antonieta em Versalhes, abarcando seus anos como delfina da França e depois rainha, ao lado de um despreparado Luís XVI. Para aumentar ainda mais o fascínio em torno da figura, a Christies está ofertando na Classic Week, em Paris, dois bens que pertenceram à soberana, em uma dia especialmente dedicado para ela. Trata-se de uma cômoda ricamente ornamentada e de uma poltrona decorada, com preços estimados entre 800.000 e 1.200.000 euros (respectivamente 4.142.603,47 e 6.213.676,74 reais, em câmbio atual). O design da cômoda, em estilo Luís XV, por exemplo, apresenta um belíssimo acabamento com técnica de laca chinesa, mais conhecida como Vernis Martin.

O design da cômoda, em estilo Luís XV, por exemplo, apresenta um belíssimo acabamento com técnica de laca chinesa, mais conhecida como Vernis Martin.

Com efeito, Maria Antonieta teria recebido a cômoda de presente em 1770, no Château de Compiègne, juntamente com outra peça idêntica, que hoje se encontra em exposição no Palácio de Versalhes. Naquele ano, ela havia deixado Viena como uma arquiduquesa austríaca para se tornar a esposa do herdeiro do trono da França e sua futura rainha. Ao chegar, Antonieta recebeu uma vasta coleção de joias, móveis e outros bens de valor, que fariam inveja a qualquer outra soberana do continente europeu. As duas cômodas sobreviveram à Revolução Francesa e apresentam um acabamento decorado em ouro e carmim, com pés curvos e ricos detalhes pintados nas portas. A casa de leilões descreveu a peça como bastante valiosa e única no mercado. O móvel, por sua vez, foi carimbado por Pierre Macret.

Já a poltrona, com madeira pintada em creme e estofado forrado em veludo azul celeste, foi feita por volta de 1788 e estampada por George Jacob. Assim como a cômoda, o móvel se constitui em um exemplo único do período, com seus belíssimos padrões intricados em estilo turco, entalhados sobre a madeira. A peça foi encomendada pela própria rainha, que naquela época se mudava para diferentes cômodos do Palácio de Versalhes, para ficar mais próxima de seus filhos. Dessa forma, a monarca ordenava que cada novo espaço ocupado por ela fosse redecorado ao seu gosto, em sintonia com as tendências e estilo do período. Infelizmente, Maria Antonieta teria pouco tempo para desfrutar da nova mobília, uma vez que no ano seguinte a família real foi feita prisioneira pela população de Paris e levada para o Palácio das Tulherias. Quatro anos depois, em 1793, tanto Luís XVI quanto sua esposa foram decapitados na fase do Terror da Revolução Francesa.

a poltrona, com madeira pintada em creme e estofado forrado em veludo azul celeste, foi feita por volta de 1788 e estampada por George Jacob.

No período em que o Palácio de Versalhes ficou abandonado, quase todos os seus tesouros foram saqueados, como móveis, obras de arte, metais preciosos que decoravam seus corredores e, principalmente, a comida que ainda se encontrava estocada no prédio. Posteriormente, muitos dos objetos remanescentes foram vendidos pela Convenção Nacional, incluindo algumas das joias mais importantes da Coroa. Para se ter uma ideia, só em 1793 cerca de 17.000 lotes foram leiloados, apesar de muitas peças terem sido recuperadas pela curadoria do Palácio em anos recentes. Não obstante, a venda das duas peças do quarto da rainha ocorre praticamente um ano após o leilão de um magnífico par de braceletes de diamantes, que haviam pertencido à sua coleção de joias. Os ornamentos vinham dentro de um estojo forrado em veludo azul, contendo o rótulo: “pulseiras da rainha Maria Antonieta”. Cada uma das peças era composta por três fios de diamantes e fechos grandes, totalizado 112 pedras preciosas. Os braceletes foram arrematados em 2021 pela grande soma de 7 milhões de libras!

Par de pulseiras de diamantes adquiridas por Maria Antonieta em 1776, que foram leiloadas pela Christie’s, dentro de seu estojo forrado em veludo azul. As joias foram arrematadas em 2021.

Pouco antes de morrer, em 1793, Maria Antonieta havia redigido uma carta para sua filha, Maria Teresa Carlota, que então se encontrava encarcerada na Torre do Templo, afirmando que uma caixa contendo suas joias pessoais havia sido enviada secretamente para a Áustria em 1791, incluindo os dois braceletes. Uma vez livre da prisão e acolhida por ser parentes em Viena, a única filha sobrevivente de Luís XVI e sua esposa recebeu os pertences de sua mãe, que, por sua vez, estavam em posse de seu primo, o imperador. Atualmente, quase tudo relacionado ao nome de Maria Antonieta gera uma renda enorme. O Palácio de Versalhes possui grande interesse na aquisição de objetos que pertenceram à rainha, já que grande parte do turismo local se deve ao nome dela. Para além de Versalhes, outros lugares pelos quais ela passou, como a Conciergerie, na qual ela esteve presa antes de ser condenada à morte, ou então seu túmulo na Basílica de Saint-Denis, se tornaram locais de peregrinação para diversos admiradores e estudiosos da mais famosa rainha da França.

Fonte: Tatler – Acesso em 09 de novembro de 2022.

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