Jardim privado de Maria Antonieta em Versalhes é restaurado de acordo com sua aparência original!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Ao longo de sua vida, Maria Antonieta cultivou uma paixão calorosa pela jardinagem, algo que ela carregava consigo desde a mais tenra idade, graças ao seu pai, Francisco Estêvão da Lorena. O finado imperador adorava a prática da horticultura, legando assim para sua filha mais jovem o interesse pela natureza. Quando estava em Choisy, por exemplo, a rainha passava seu tempo pintado as rosas, jacintos, tulipas e as íris que decoravam as aleias por onde ela caminhava. Esses desenhos eram também utilizados como tema de decoração nos seus vários boudoirs e vestidos. Movida por esse gosto, a soberana fez dos parques de Versalhes uma espécie de laboratório para suas inspirações criativas. Para tanto, ela contratou pintores, arquitetos e paisagistas como Hubert Robert e Mique, encarregados de ornamentar sua aldeia modelo no Petit Trianon e seu bosque privado em Versalhes. Também conhecido como Le Bosquet de La Reine, o lugar passou por um meticuloso processo de restauração, para deixa-lo mais parecido com a época em que a soberana passeava por ele.

Desde abril de 2020 que a curadoria do palácio de Versalhes começou a fazer estudos e reparos nos jardins privados da última rainha do absolutismo francês. O lugar ocupava orginalmente uma área de quatro acres e foi plantado no século XVII por Luís XIV, que ordenou a criação de um intricado labirinto de pequenos arbustos. Cem anos depois, porém, esse estilo já havia caído em desuso pelos paisagistas. Maria Antonieta tinha uma adoração pelo jardim inglês, mais romântico e bem menos formal do que aquele planejado pelo Rei Sol. Assim sendo, ela contratou o arquiteto Michel-Barthélémy Hazon, para que projetasse um novo modelo que substituísse as árvores plantadas em sentido reto e os desenhos lineares do reinado passado. Barthélémy planejou uma área preenchida por bancos e costurada por várias trilhas, que levavam a diversas árvores frutíferas, arbustos e canteiros plantados com uma variedade de rosas, tulipas, crisântemos, jasmins e amores-perfeitos.

Com efeito, tais espécies foram escolhidas porque floresciam em diferentes épocas do ano, de modo que a beleza das flores nunca deixaria de emprestar seu encanto ao local. Havia também um praça central, plantada com tulipas em fileiras retas, como se fossem soldados prestando continência àqueles que tinham o prazer de passar por ali. Conhecida por ser uma mulher impaciente, Maria Antonieta dava pressa aos seus paisagistas e jardineiros para que dessem cabo do projeto o quanto antes. “Conheceis vossa senhora… ela gosta de gozar dos seus prazeres sem demora”, dizia. Segundo Antonia Fraser:

Uma das suas damas tinha a responsabilidade especial de cuidar para que, por toda parte em seus aposentos, os grandes vasos chineses e os vasinhos de cristal, porcelana de Sèvres ou vidro de Veneza estivessem cheios de flores. Também havia o seu amor pelas flores selvagens, como as violetas, e pelas essências florais que substituíam os pesados perfumes almiscarados, agora considerados fora de moda (FRASER, 2009, p. 202).

Além das flores e árvores, foram incluídas no bosque estátuas de bronze, que refletiam o verde das folhagens de uma forma magnífica, dando a sensação de um verdadeiro Éden sobre a Terra. Após sua conclusão, em 1778, Maria Antonieta usava o jardim de forma exclusiva, permitindo a entrada apenas de seus familiares e daqueles que lhe eram mais chegados.

Com a Revolução Francesa, o local ficou completamente abandonado e a relva tomou conta de tudo. Até mesmo parte das estátuas de bronze foram roubadas! Até o início do ano passado, o local continuava em estado de decadência, quando a curadoria do Palácio investiu cerca de 1,8 milhões de euros para sua restauração. Seis mil arbustos floridos, 600 árvores, 38 variações de rosas e 148 tulipas da Virgínia, nos Estados Unidos, deram vida nova à seção dos jardins de Versalhes após anos de descaso. “Esse processo de restauração exigiu oito anos de pesquisa para saber como era o jardim original e dois anos de reformas para fazer as mudanças necessárias”, disse Efe Veronique Ciampini, conservacionista do Palácio de Versalhes. “As espécies plantadas mudaram ao longo dos anos, mas mantivemos os planos da época, que nos contam a disposição da vegetação e as anotações dos jardineiros, que sempre registravam o que plantavam”.

Com efeito, algumas plantas originais do século XVIII continuam de pé, embora outras espécies tenham perecido com o passar dos anos e o descuido. Já outras, entraram em extinção. A estrutura do arvoredo voltou ao seu traçado original: um retângulo forrado por arbustos frondosos que o separam do resto do jardim. O jardim está dividido por quatro avenidas diagonais em forma de largas vias, que conduzem a uma esplanada central. Além disso, o planejamento oferece sol e sombra em igual medida e tantas trilhas que é quase impossível ao visitante passar duas vezes pelo mesmo caminho. O Palácio de Versalhes está aberto para visitação da terça aos domingos, das 9h00 às 18h30.

Bibliografia:

FRASER, Antonia. Maria Antonieta: biografia. Tradução de Maria Beatriz de Medina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2009.

Sites:

La Prensa Latina Media – Acesso em 09 de junho de 2021.

The Architect’s Newspaper – Acesso em 09 de junho de 2021.

The New York Times – Acesso em 09 de junho de 2021.

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