De Ana Bolena a Maria Antonieta: inteligência artificial é usada para recriar a face de grandes personalidades do passado!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Antes da invenção da máquina fotográfica no século XIX, a pintura era a melhor forma de se capturar as feições de um indivíduo. Porém, além de ser um recurso caro ao qual poucos tinham acesso, os pintores lançavam mão de sua criatividade para retocar na tela aquilo que consideravam imperfeito no rosto do modelo. Conforme Bernini certa vez observou, “o segredo nos retratos é aumentar a beleza e emprestar grandiosidade, diminuir o que é feio ou mesquinho, ou até suprimi-lo, quando é possível faze-lo sem incorrer em servilismo” (apud BURKE, 2009, p. 36). Nesse caso, a realidade era suavizada nas telas para produzir um resultado mais agradável aos olhos do observador. Quando olhamos para o retrato pintado de um rei ou rainha, por exemplo, temos à vista uma peça de propaganda política, fundamental para solidificar a imagem da realeza. Joias caras, perucas, maquiagem, peles e tecidos elegantes eram combinados para produzir o efeito desejado e assim glorificar a figura do soberano. Com a fotografia, essas intervenções do pincel do artista se tornaram obsoletas, embora muitos fotógrafos tenham desenvolvido técnicas semelhantes para alcançar o resultado desejado por seu patrono.

Dessa forma, é preciso ter em mente a ideia de que as pinturas de retratos no antigo regime eram antes de mais nada uma representação da realidade, prismada pelo olhar do artista e/ou pela vontade do retratado. Contudo, como seria se pudéssemos voltar ao tempo com uma câmera e tirar fotos de personalidades como Ana Bolena, Henrique VIII, Elizabeth I ou Maria Antonieta? Essa curiosidade foi o ponto de partida para que o diretor de cinema Nathan Shipley utilizasse um software de inteligência artificial para criar versões realistas de alguns retratos de reis e rainha famosos, entre outras personagens marcantes do passado. Por outro lado, deve-se levar em consideração que o trabalho de Shipley se trata de uma releitura e não exatamente de uma reconstrução forense do rosto desses indivíduos, uma vez que outros materiais seriam necessários para produzir um resultado mais fidedigno (como análise do crânio, mandíbula, etc.). Dito isso, vejamos abaixo uma pequena amostra de algumas de suas incríveis recriações das figuras mais controversas da História Mundial.

Henrique VII (1457 – 1509)

Fundador da dinastia Tudor, Henrique VII ascendeu ao trono da Inglaterra em 1485, após vencer Ricardo III no campo da Batalha de Bosworth. Para recriar o rosto do monarca, Nathan Shipley utilizou uma tela de 1505, pintada por artista desconhecido.

Henrique VIII (1491 – 1547)

Para recriar o rosto do famoso monarca inglês, Nathan Shipley usou como referência uma rela pintada por Hans Holbein (o Jovem).

Ana Bolena (1501? – 1536)

Infelizmente, não chegou à posteridade qualquer retrato autêntico de Ana Bolena, pintado em seu tempo de vida. Exceto por uma medalha de 1534, todos as outras imagens são cópias feitas a partir do final do século XVI, como a tela em questão. Shipley deu a Ana uma pele azeitonada, olhos grandes e castanhos e um rosto oval, de acordo com as características descritas sobre a segunda esposa de Henrique VIII.

Ana Bolena (1501? – 1536)

A segunda versão de Shipley para o roto de Ana Bolena difere uma pouco da primeira, especialmente a cor dos olhos, que aqui aparecem mais claros. Esse retrato, de artista desconhecido, foi produzido entre o final do século XVI e o início do século XVII, possivelmente com base na efígie de Ana Bolena cunhada na moeda de 1534. Ana Bolena morreu decapitada em 19 de maio de 1536, acusada de traição, adultério e incesto.

Lady Elizabeth (1533 – 1603)

Depois da anulação do casamento de seus pais, a princesa Elizabeth perdeu seu status real e ficou conhecida pelo título de Lady. Nesse retrato de artista desconhecido, a futura rainha tinha aproximadamente 13 anos, época em que foi readmitida na linha sucessória por seu pai.

Elizabeth I (1533 – 1603)

Para recriar o rosto da rainha Elizabeth I nessa versão, Nathan Shipley utilizou um retrato da soberana produzido na década de 1570, anteriormente atribuído a Federico Zuccari.

Elizabeth I (1533 – 1603)

À medida em que envelhecia, Elizabeth I continuava insistindo para que seus pintores a retratassem sempre como uma mulher jovem, ou o que os historiadores chamam de “máscara da juventude”. Todavia, esse retrato, pintado no final do século XVI e o início do XVII, apresenta a rainha como uma mulher idosa, sem os artifícios usado pelos artistas para disfarçar os sinais da idade. Ela faleceu em 24 de março de 1603, meses antes de completar 70 anos.

Edward VI (1537 – 1553)

Reconstrução da face do jovem herdeiro masculino do rei Henrique VIII, baseado em um retrato de artista desconhecido, possivelmente de escola flamenga. Edward foi fruto do terceiro casamento do rei, com Jane Seymour.

Maria I (1516 – 1558)

Numa das versões mais perfeitas criadas por Nathan Shipley, o cineasta utilizou um retrato da rainha Maria I da Inglaterra pintado por António Moro em 1554. Maria foi a primeira filha de Henrique VIII que sobreviveu à primeira infância, fruto de sua união com Catarina de Aragão. Em 1553, ela se tornou a primeira mulher coroada como rainha reinante da Inglaterra, após a morte prematura de seu meio-irmão, Edward VI. Foi sucedida em 1558 por Elizabeth I.

William Shakespeare (1564 – 1616)

Até mesmo o famoso bardo inglês, autor de “Romeu e Julieta”, entre tantas outras peças que se tornaram cânones do Teatro, ganhou uma versão super realista.

Mona Lisa

Um dos rostos mais famosos do mundo, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci também ganhou uma versão realista, conservando seu olhar enviesado e sorriso enigmático.

Retrato de uma arquiduquesa austríaca

Por muitos anos, esse retrato de uma arquiduquesa austríaca, pintado em 1767 por Martin Van Meytens, foi catalogado como Maria Antonieta aos 13 anos. Recentemente, a tela foi reetiquetada como Maria Josefa, irmã mais velha de Maria Antonieta, falecida no ano em que o quadro foi pintado.

Maria Antonieta (1755 – 1793)

A famosa rainha da Revolução Francesa, morta pela guilhotina em 1793, ganhou uma versão super realista neste retrato baseado em uma tela atribuída a Jean-Baptiste Gautier-Dagoty, pintada quando a esposa de Luís XVI tinha 18 anos. Na época, era moda entre a aristocracia empoar os cabelos com farinha, o que lhes dava esse aspecto embranquecido.

Fontes:

Panda Curioso e Hypeness

9 comentários sobre “De Ana Bolena a Maria Antonieta: inteligência artificial é usada para recriar a face de grandes personalidades do passado!

  1. Que espanto ver essa gente reconstituída “voltando a viver” virtualmente ! O passado é um futuro usado, na impossibilidade atual de ser fazer expectativas quanto ao futuro, retornemos então às delícias do passado, terreno seguro e pacífico. Lia agora sobre a trágica e interessante Louise da Bélgica. cunhada da nossa Leopoldina Cristina, Duquesa de Saxe, filha de Pedro II , Este lance de realeza trágica é muito saboroso ! Que vida teve esta princesa belga, filha do rei mais rico da Europa, morreu na miséria total.. Seu marido esteve no Brasil catando ouro e oportunidades, não achou nada. Ele também esteve no brejeiro e interessante Reino do Havaí, que me fascina pelo seu exotismo valente. Recentemente consegui, com a ajuda da sorte, elucidar a intrigante “rusga” que Gusty de Saxe, genro de PII, tinha com ele. Durante anos a curiosidade fustigou-me para saber o motivo dessa desavença, claro que deveria envolver dinheiro..Era uma cláusula do contrato nupcial que ele cobrava insistentemente ao Brasil, conseguiu e ganhou o equivalente a uma tonelada de ouro ,Devia-se à morte de sua esposa e ao abandono de bens no Brasil. PII relutou, mas teve que pagar a contragosto. Este blog é boa válvula de escape, lazer bom, eficiente anestésico, é muito bem feito. História também é uma eficiente distração para amenizar os dias que se arrastam sem terem onde ir. Abç ae ! Tragédia também é cultura !

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