Le Hameau de la Reine: conheça o adorável refúgio campestre de Maria Antonieta!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Um dos fatos mais curiosos da vida de Maria Antonieta de Habsburgo-Lorena, rainha da França, consiste no seu apego a um estilo de vida mais “simples”, que desenvolveu após o nascimento de sua primeira filha, Maria Teresa. Cansada de todo o protocolo da corte de Versalhes, de suas rígidas regras de etiqueta e vestimenta, a esposa de Luís XVI resolveu se refugiar no palacete que havia recebido de presente do rei, o Petit Trianon, outrora propriedade de Madame Du Barry. Nessa pequena construção, adjacente ao palácio de Versalhes, a soberana se cercou de um seleto grupo de amigos, abandou os vestidos e penteados extravagantes e adotou um simples chapéu de palha e uma chemise de musselina branca como trajes habituais. Como pano de fundo para esse estilo bucólico, a rainha consumiu muito de seu tempo supervisionando a construção de uma aldeia modelo no Petit Trianon, mais conhecida como Le Hameu de la Reine.

Concebida pelo pintor romântico Hubert Robert, com projeto de Richard Mique, o retiro campestre de Maria Antonieta nada tinha de rústico, exceto pela sua fachada, que imitava uma vila camponesa da província. O interior dos chalés, porém, eram ricamente decorados com mármore. Para a ornamentação daquele pequeno conjunto de casinhas com janelas de treliça e estuque, aplicado para imitar tijolos velhos e rachados e vigas de madeira, a rainha encomendou nada menos que 1.000 vasos de porcelana branca com seu monograma gravado em azul, para serem enchidos com flores das mais variadas espécies. Por entre as doze casinhas da aldeia-modelo, das quais apenas nove ainda existem, vacas, bezerros e ovelhas caminhavam pelo gramado, compondo assim o clima pastoril tão almejado por Antonieta. A Torre d’Água Marlborough, um moinho e um pombal completavam esse quadro.

O vídeo abaixo, disponibilizado pelo site do palácio de Versalhes, apresenta ao telespectador um pequeno vislumbre do retiro campestre de Maria Antonieta. Confira:

Segundo Antonia Fraser, o rei e a rainha visitaram a vila-modelo por 216 dias, desde sua construção em 1783, até o ano da Revolução, em 1789. O estilo arquitetônico da aldeia não é facilmente identificável, uma vez que misturava arquiteturas rurais variadas. Porém, os chalés possuem uma unidade inegável, dispostos como estão na margem leste do grande lago, em forma de arco. Se acordo com as informações contidas no site do palácio de Versalhes:

O povoado é dividido em três setores distintos estabelecidos por Richard Mique. O primeiro, localizado ao sul da ponte de pedra que atravessa o rio, contém as casas destinadas ao prazer: o moinho (cuja roda é apenas um simples elemento decorativo), o boudoir, a casa da rainha , bilhar e mais quente. Tratava-se de construções que escondiam interiores elegantes, às vezes ricamente mobiliados, nos quais a rainha podia receber a sociedade que convidava para Trianon. Além da ponte, as casas são mais dedicadas à operação agrícola adequada: celeiro, laticínios para preparação, laticínios para limpeza, pesca e casa de guarda. A torre com vista para o lago é chamada de “Marlborough Tower” por causa da música em voga no momento da construção. Mais para trás, a fazenda completa o conjunto e sua atividade se desenvolve até as vésperas da Revolução, compreendendo celeiro, pocilga, curral e galinheiro.

Ao contrário do que geralmente se diz, Maria Antonieta não se vestia de fazendeira ou ordenhadora na aldeia-modelo, ou brincava de casinha nela com suas amigas. Seu retiro campestre era antes um lugar para passeio, no qual se via desobrigada de todo o protocolo da corte. Uma fazenda próxima fornecia a maior parte dos produtos necessitados pela rainha nas suas visitas.

Para além das distrações da soberana, a vila servia também como um lugar onde seus filhos podiam brincar livremente e respirar ar puro. A última vez em que Maria Antonieta viu o seu retiro campestre foi no início de outubro de 1789, pouco antes de o povo levar os soberanos prisioneiros para Paris. Posteriormente, os altos custos dispendidos na construção do hameau foram utilizados como prova contra a rainha no seu julgamento. Os prédios estavam completamente abondados quando Napoleão os restaurou entre 1810 e 1812, embora tenha demolido os edifícios mais danificados pela ação do tempo, como o celeiro. Outras restaurações aconteceram ao longo do século XX, aproximando o retiro de Maria Antonieta de sua aparência original, incluindo a reconstrução da fazenda, que tinha quase completamente desaparecido.

Esse vídeo, embora narrado em francês, apresenta um pouco do interior dos chalés da vila-modelo da rainha:

O Hameau de La Reine faz parte do parque de Versalhes, lugar onde a rainha adorava dar bailes campestres, nos quais crianças eram especialmente bem-vindas e canções folclóricas eram entoadas. Por esses gramados, Maria Antonieta tentou claramente encontrar um paraíso perdido. Como o próprio tempo mostrou, suas tendências nostálgicas, de recriar um estilo de vida para seu próprio deleite, ficariam para sempre gravadas nessas não tão singelas paredes de estuque.

Referências:

FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Rio de Janeiro: Record, 2009.

 

3 comentários sobre “Le Hameau de la Reine: conheça o adorável refúgio campestre de Maria Antonieta!

  1. Foi com prazer que li e vimos vídeos. Eu tbm se fosse tão rica e poderosa, criaria algo assim para meu deleite.Gosto de conhecer estes detalhes históricos e muito pouco ditados na história.

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