Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Maria Antonieta de Habsburgo-Lorena, rainha da França, é, definitivamente, uma das personagens mais famosas da história. O marketing em torno de sua imagem continua tão forte quanto o fora em seu tempo de vida. Tudo ligado ao seu nome logo vira tendência: desde artigos de confeitaria, souvenires, a itens de papelaria, móveis, filmes e, principalmente, a moda. O reinado de Antonieta nesta última área é inconteste. Ela já foi exaltada por estilistas como John Galliano, artistas como Madonna e também em matérias da revista Vogue americana. Anualmente, biografias e livros recém-publicados enchem as prateleiras de livrarias ao redor do mundo, provando que ainda existe muito para ser explorado na história da icônica soberana, decapitada em 16 de outubro de 1793, em meio ao Terror de Robespierre. Sua jornada, que se inicia em 1755 na dourada corte de Viena e termina no cadafalso é repleta de fatos interessantes. A seguir, selecionamos alguns objetos ligados à sua pessoa, que podem nos contar um pouco mais da história trágica da última rainha do absolutismo francês.
1) IMAGEM

Maria Antonieta, por Joseph Ducreux (1769)
Assim que o contrato de casamento entre a arquiduquesa Maria Antônia e o delfim Luís Augusto foi acordado pelas monarquias da Áustria e da França, um processo de mudança de imagem precisou ser executado, para transformar a jovem noiva de princesa austríaca em delfina. Professores, músicos, modistas, cabeleireiros e mais um time de instrutores foi enviado para Viena, a fim de prepara-la para o seu futuro papel. Em cerca de um ano, a transformação estava quase completa. Para comprovar o afrancesamento da filha mais nova da imperatriz Maria Teresa, o rei Luís XV, que havia se recusado em concordar com um casamento entre seu neto e Maria Antônia até que a aparência da jovem estivesse enquadrada nos padrões franceses, enviou o pintor Joseph Ducreux para registrar com seus pincéis a metamorfose da princesa numa autêntica delfina. Ao que tudo indica, o rei da França aprovou bastante o resultado do processo depois de contemplar o retrato pintado da jovem. A tela original, que selou o contrato matrimonial, porém, se perdeu com o tempo. Mas, no final de 1769, Joseph Ducreux pintou outro retrato da arquiduquesa, onde ela aparece como uma típica princesa Bourbon.
2) CONTRATO DE CASAMENTO
Para se casar com o delfim da França, a arquiduquesa Maria Antônia precisou se tornar francesa em tudo, até mesmo no nome. A partir de 1770, ela passou a adotar o diminutivo francês Marie Antoinette (em português, Maria Antonieta). O primeiro documento oficial onde aparece sua nova assinatura é o contrato de casamento. Nele, podemos ver a firma do noivo, “Louis Auguste”, abaixo da de seu avô, Luís XV como “Louis”; a assinatura da noiva, por sua vez, aparece em terceiro e está marcada por um borrão de tinta, o que indica sua pouca familiaridade com o “Antoinette”, em vez de “Antoine”. Além disso, o “e” de Jeanne também parece estar faltando.
3) MECHA DE CABELO
Maria Antonieta era conhecida pela sua basta cabeleira loira, que ela usava geralmente armada em penteados extravagantes, como os poufs de quase um metro de altura, e sempre empoados. Ao longo da vida, ela adotou um costume de presentear seus amigos mais queridos, como a princesa de Lamballe, com joias e camafeus contendo uma mecha de seus cabelos. Conhecidas como joias de afeto, esse costume era bastante popular entre a aristocracia no final do século XVIII e durante o XIX. Assim, o presenteado guardaria para sempre um pedaço daquele que o presenteou. Existe no museu Britânico um relicário, contendo uma mecha de cabelos trançados que se acredita terem pertencido a Maria Antonieta. Itens como esse, preservando o cabelo da rainha, ainda podem ser encontrados em outros museus e galerias da França e da Europa.
4) VESTIDO
O amor de Maria Antonieta pela moda era bastante conhecido. Diz-se que seu guarda-roupas chegou a ocupar três cômodos do palácio de Versalhes e que ela dificilmente usava o mesmo vestido mais de uma vez. Suas vestes, que provocaram tanto a admiração quanto o escândalo das cortes europeias, porém, foram quase completamente destruídas durante a Revolução Francesa. Todavia, acredita-se que um vestido, atualmente exposto no Royal Ontario Museum (Toronto, Canadá) antigamente fora propriedade da soberana. A peça teria sido confeccionada por Rose Bertin, principal modista de Maria Antonieta.
5) CADERNO DOS TRAJES
Segundo a Condessa de Boigne, contemporânea da rainha. “ser a mulher mais à la mode de todas parecia [a Maria Antonieta] a coisa mais desejável que se poderia imaginar; e essa fraqueza, indigna de uma grande soberana, foi a única causa de todos os defeitos exagerados que o povo tão cruelmente lhe atribuiu”. Todos os dias, quando acordava, as damas da soberana lhe traziam um livro contendo estampas de todas suas roupas para que ela escolhesse o que queria vestir no dia sem precisar visitar seu vasto depósito de trajes. Tal artefato sobreviveu à Revolução Francesa e hoje se encontra preservado em Paris.
6) ESPARTILHO
Poucos meses após chegar a Versalhes, Maria Antonieta provocou a cólera de sua mãe por se recusar a usar o espartilho de barbatana de baleia. Depois de severa repreessão da imperatriz Maria Teresa e de outros membros da corte, ela finalmente concordou em usa-lo. Este corpete verde-maçã é uma das poucas peças de roupa de Maria Antonieta que sobreviveram à Revolução Francesa. Encontra-se preservado no Musee Galliera, em Paris.
7) O COLAR DE DIAMANTES
Uma réplica do colar de diamantes, originalmente criado por Boehmer e Bassenge para tentar Madame Du Barry, amante de Luís XV da França. Com a morte do velho rei, os joalheiros não tardaram em oferecer a peça à nova Rainha, Maria Antonieta, então uma jovem fútil e fácil de surpreender. Entretanto, ao que parece, a peça não agradou a soberana, que, por sua vez, rejeitou comprar a mesma em mais de uma ocasião. Infelizmente, mal sabia ela que em 1785 seu nome e o do famoso colar estariam ligados numa conspiração tão suja, que arruinaria ainda mais as bases do regime monárquico. A trama, que ficou conhecida como L’affair Du Collier (o caso do colar), fora a gota final que faria transbordar um rio de calúnias contra Maria Antonieta, acabando por desacreditá-la de forma irreparável perante seus súditos.
8) NECESSAIRE
Estando aprisionada junto com a família no Palácio das Tulheiras desde 6 de outubro de 1789, Maria Antonieta arquitetou uma fuga para ela, o rei e seus filhos. O plano, executado em 1791, porém, falhou pouco antes de completar o seu propósito. Para a ocasião, a rainha levou consigo uma necessaire, que era uma espécie de combinação de estojo de beleza e cesta de piquenique (coleção particular).
9) CHEMISE
Esta chemise foi uma das poucas peças a que Maria Antonieta, então conhecida na França como viúva capeto, usou na prisão da Conciergerie (chamada de antecâmara da morte), antes de ser guilhotinada na Place de La Concorde em 16 de Outubro de 1793. Além de ser um testemunho das péssimas condições em que a rainha se encontrava, tal artefato estabelece um poderoso contraste com os belíssimos vestidos com que outrora ela caminhara pelos salões de Versalhes.
10) ÚLTIMA CARTA
A última carta de Maria Antonieta, escrita por ela em 16 de outubro de 1793 foi endereçada à sua cunhada, Madame Elisabeth, que ainda se encontrava prisioneira no Templo. A irmã de Luís XVI, porém, morreu sem ter conhecimento da missiva. A mesma só foi encontrada muitos anos depois, entre os papeis de Robespierre. Confira a seguir um trecho do documento:
… Morro na religião católica, apostólica, romana, na de meus pais, naquela em que fui criada e que sempre professei. Não tendo nenhuma consolação espiritual a esperar, ignorando se aqui ainda existem padres dessa religião, mas sabendo que, mesmo que existam, o lugar em que me acho exporia a grandes perigos aquele que aqui entrasse, ainda que só uma vez, peço sinceramente perdão a Deus de todos os erros que tenha cometido em toda a minha vida. Espero que, na sua bondade, Ele quererá acolher os meus últimos votos, como os que fiz sempre, recebendo a minha alma na sua misericórdia e na sua bondade. Peço perdão a todos os que conheço e a você, minha irmã, em particular, de todas as ofensas que sem querer lhe tenha feito. Perdoo a todos os meus inimigos o mal que me fizeram. Tinha amigos: a ideia de separa-me deles para sempre e o seu sofrimento são uma das maiores tristezas que levo comigo ao morrer; que ao menos saibam que até o último instante me lembrei deles.
Adeus, minha boa e terna irmã: possa essa carta chegar às suas mãos. Lembre-se sempre de mim. Beijo-a com todo o coração, assim como aos meus pobres e queridos filhinhos. Meu Deus, como é dilacerante separar-me deles para sempre. Adeus, adeus, não me ocuparei mais agora senão dos meus deveres espirituais. Como não sou livre nas minhas ações, talvez me tragam algum padre, mas juro que não lhe direi palavra e o tratarei como a um ente absolutamente estranho…
Nesse ponto, Maria Antonieta interrompe a carta e assina seu nome. Com efeito, não tinha mais condições físicas e mentais para continuar escrevendo, e então se atirou na cama, com as mãos no rosto, e começou a chorar. Sua execução viria logo em seguida.
Gosto muito da história da França, seus Reis e rainhas, sua arte, Paris me encanta, andar por suas ruas e avenidas é um dos meus grandes prazeres. Tudo que se refere a França me desperta interesse…amei o texto. Obgda
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COMO SEMPRE, EXCELENTE!
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Adoro esse site. Seus artigos sobre as grandes rainhas e damas da antiguidade são ótimos, bem escritos, com detalhes curiosíssimos, como esses sobre os 10 objetos. Obrigada.
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São histórias realmente interessantes tem me intretido nessa época de covid 19
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