Por: Renato Drummond Tapioca Neto
O provável relacionamento amoroso entre Maria Antonieta de Habsburgo-Lorena, última rainha da França, com o conde sueco Axel de Fersen já foi alvo de muitos estudos e especulações. De acordo com a maioria dos biógrafos da soberana, entre eles Antonia Fraser e Stefan Zweig, Antonieta teria mantido relações carnais com o nobre em várias ocasiões, e inclusive trocado correspondências, muitas delas destruídas ou danificadas por agentes externos. Agora, grande parte dessa documentação, que datam de junho de 1791 a agosto de 1792 (pouco mais de um ano antes da morte da rainha) estará disponível digitalmente no site dos Arquivos Nacionais (Archives Nationales), segundo a revista Sciences et Avenir.
Tais cartas, contudo, foram escritas numa espécie de código por Maria Antonieta, provavelmente para evitar que estranhos tivessem acesso ao conteúdo das mesmas. Entretanto, os criptógrafos Valérie Nacheff (professora de matemática na Universidade de Cergy-Pontoise) e Jacques Patarin (professor na Universidade de Versalhes) conseguiram decifrar o código utilizado pelos amantes, revelando assim a devoção de Antonieta pelo conde sueco. Além do mais, a correspondência fora escrita em tinta invisível (revelada apenas com o calor), de modo a atestar o receio que a rainha tinha de que seu relacionamento com Fersen fosse comprovado perante os olhos das pessoas (embora para os franceses da França pré-revolucionária não fossem necessários provas concretas para justificar as acusações contra sua soberana).
O código utilizado pela rainha nas cartas é conhecido como “poli-alfabética”, que exige dois elementos a serem decifrados: a tabela de decodificação e uma palavra-chave que se altera a cada mensagem, fazendo com que o trabalho dos criptógrafos fosse longo e tedioso. Até agora não ficou claro para os pesquisadores como Antonieta informava a Fersen sobre a troca de palavras-chave: especula-se que a informação poderia ser costura em forros de chapéus ou bonés de secretários, algo que certamente só uma análise da biografia de ambos poderá explicar.
Parte dessa correspondência já havia sido publicada em 1877 pelos descendentes de Fersen. Porém, em um determinado momento elas simplesmente desapareceram, por ação de seus proprietários, que não acharam correto expor a vida íntima daqueles que já haviam morrido. Acreditou-se, ainda, que a documentação havia sido parcialmente destruída, até que foram expostas no dia 7 deste mês, na sessão de abertura do ciclo de conferências “Trésors du Patrimoine Écrit”, organizado pelo l’Institut National du Patrimoine em parceria com os Archives Nationales. Além disso, muitas passagens que não haviam sido publicadas anteriormente foram reveladas pelo trabalho paciente de Valérie Nacheff e Jacques Patarin, comprovando assim a natureza do relacionamento da rainha com o conde.
Em muitas das cartas, Maria Antonieta demonstrava sua preocupação para com o amado e reforçava sua devoção pelo mesmo, como neste trecho de uma carta datada de 29 de junho de 1791 (8 dias depois da malfadada fuga de Varennes): “nada no mundo pode me impedir de amar você até a morte”, e assinava com um apaixonado “adeus, mais amado dos homens”. Em outras correspondências, a soberana confidenciava a Fersen seus planos para forjar novas alianças com as potências estrangeiras e para a restauração da monarquia absolutista na França. Alguns trechos, contudo, foram rasurados pelos autores, dificultando o entendimento do conteúdo de algumas das cartas.
Todavia, essa questão está prestes a ser solucionada pelos criptógrafos envolvidos no trabalho: estão sendo feitos contatos com os laboratórios do Louvre e de Grenoble, especializados no estudo de documentos e obras históricas. Com a análise ótica e física nestes importantes centros de pesquisa, talvez seja possível separar as diferentes camadas de tinta e identificar o texto por baixo dos borrões, para dessa forma por em evidência os muitos segredos que ainda estão ligados à última rainha da França.
Bibliografia consultada:
FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Tradução de Maria Beatriz de Medina. 4ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2009.
ZWEIG, Stefan. Maria Antonieta. Tradução de Medeiros e Albuquerque. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
Mt. interessante! Para fazer isto M.A. não podia ser tão simples de espirito como muitos a veem. Para Fersen o prémio da «pior ideia», essa que acabou em Varennes!
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O amor vence o tempo\mediante a qualquer situação\\
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Sempre o Feminino paga,com escolhas incorretas\\\\ou sofre||||
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