Anel de ouro relacionado a Ana Bolena é encontrado depois de quase 500 anos!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Quando em posse de um detector de metais, um simples cidadão pode encontrar os objetos mais inusitados. Desde tampas de garrafa, latas de refrigerante, ou os elos partidos de uma corrente, até os mais incríveis tesouros. Em 2021, uma parte da coroa perdida do rei Henrique VIII foi encontrada graças aos característicos sinais de bipe da máquina. Outra descoberta fascinante foi um colar em formato de coração, que ligava o famoso monarca Tudor à sua primeira rainha consorte, Catarina de Aragão (contendo as iniciais do casal entrelaçadas), também achado graças ao acessório. Agora, o Palácio de Hampton Court, sede da monarquia henriquina, exibe um anel com quase 500 anos, que teria pertencido à família de Ana Bolena, segunda das seis esposas do rei. O objeto, moldado em ouro maciço, foi encontrado por Ashley Solly, que caminhava com seu detector de metais pelo terreno da Ilha de Sheppey, em Eastchurch. A joia, avaliada em 40.000 libras, teria sido perdida quando a família se encontrava em Shurland Hall, propriedade de um parente dos Bolena, Sir Thomas Cheney. A mansão, que foi recentemente restaurada, recebeu o rei e sua Lady em outubro de 1532, quando eles viajavam para a França!

O detector de metais, Ashley Solly, de Ashford, encontrou um anel de sinete de ouro de £ 40.000, que se acredita ter pertencido à família de Ana Bolena.

Contudo, não se sabe se o anel pertenceu de fato a Ana ou a algum outro membro de sua família. A peça está gravada com uma cabeça de touro, que aparece no brasão dos Bolena, cuja nomenclatura original, “Bull-en”, faz referência ao animal. Uma versão similar da insígnia aparece em um documento datado do mesmo período, assinado pelo pai de Ana, Sir Thomas. Ao lado do aro, podemos ver uma representação da virgem Maria com o menino Jesus no colo. Graças à contribuição financeira do Arts Council England/V&A Purchase Grant Fund, do Art Fund e da Família Meakins, a peça foi adquirida pelos Palácios Históricos Reais e hoje faz parte da Royal Collection. De acordo com a legislação inglesa, qualquer peça de valor histórico encontrada no país deve ser primeiramente ofertada ao Estado, para em seguida ir à leilão, caso o objeto não seja de interesse de qualquer Museu Nacional. Uma vez adquirido das mãos do Sr. Ashley Solly, a peça foi diretamente para a exibição no Grande Salão do Palácio de Hampton Court. Artefatos relacionados à mãe da rainha Elizabeth I são artigos muito raros e, com certeza, a descoberta da peça pode agregar mais informações à sua biografia.

Um raro anel com sinete de ouro Tudor, que se acredita ter pertencido a um membro da família Bolena. O anel está gravado com uma cabeça de touro, que também aparece nos brasões da família, inclusive numa versão contida no selo de um documento de Thomas Bolena, que data desse período. O anel se encontra em exibição no Grande Salão do Palácio de Hampton Court desde o dia 8 de fevereiro de 2023. Ele foi comprado pela Historic Royal Palaces, com o generoso apoio do Arts Council England/V&A Purchase Grant Fund, do Art Fund e da Família Meakins.

Teria sido em Shurland Hall onde, de acordo com a crença dos ilhéus, Henrique VIII teria levado Ana Bolena para sua lua de mel, antes de seu casamento secreto em janeiro de 1533. Possivelmente, teria sido nessa ocasião em que a joia foi deixada de lado, numa época em que a família da noiva se encontrava em rápida ascensão. Na sua juventude, Ana vivia no castelo de Hever, em Kent, não muito distante de Edenbridge. Mais tarde, ela foi admitida no séquito de damas de Catarina de Aragão, quando a família real se encontrava no Castelo de Leeds. A data precisa em que os olhos do rei se voltaram para a filha mais jovem de Sir Thomas Bolena até hoje é matéria de especulação entre os historiadores. Porém, um conjunto de 17 cartas trocadas entre os dois, hoje arquivadas na Biblioteca do Vaticano, permite estipular o ano de 1526 como o início do romance. A princípio, Henrique planejava fazer de Ana sua amante, dando-lhe o cargo de Maîtresse-en-titre, até então inédito na corte inglesa. Como a dama recusou a oferta, o soberano cogitou seriamente a possibilidade de anular seu primeiro casamento e tomá-la por esposa. Na época, Henrique ansiava desesperadamente por um filho para sucedê-lo no trono.

Shurland Hall, em Eastchurch. Imagem: John Nurden.

O resultado do que ficou conhecido como “o grande caso do rei” levou Henrique a romper com a Igreja Católica e a fundar a Igreja Anglicana, da qual ele seria seu Chefe Supremo. Tendo nas mãos tanto o poder secular quanto o temporal, ele se tornou o primeiro monarca absolutista da história moderna. Mas, como Ana não conseguiu gerar um herdeiro do sexo masculino para a Coroa, sua posição na corte começou a enfraquecer, dando oportunidade para que seus inimigos, incluindo o secretário do rei, Thomas Cromwell, orquestrassem sua queda. Condenada por alta traição, adultério e incesto, a rainha foi decapitada na Torre de Londres em 19 de maio de 1536. Exatamente dez dias depois, Henrique VIII se casava em terceiras núpcias com Jane Seymour de Wolf Hall, com quem teria um filho no ano seguinte, o futuro rei Edward VI. Pouco após sua morte, os retratos oficiais de Ana Bolena e quase todos os documentos que remontavam à sua época como soberana consorte foram destruídos, numa clara intensão de apagá-la dos anais da história inglesa. Sendo assim, quando qualquer objeto relacionado a ela é descoberto, a notícia gera grande alarde entre os historiadores.

Retrato póstumo de Ana Bolena. Cópia elisabetana de um original perdido. Atualmente em exposição na National Portrait Gallery, em Londres.

Ashley Solly, que trabalha como rodoviário, tropeçou na peça por acaso em agosto de 2019, enquanto fazia uma varredura na área da Ilha. Atualmente avô de cinco crianças oriundas de Guernsey Way, Ashford, ele passava apenas um final de semana na região, enquanto os membros do clube Medway History Finders se preparavam para um comício no feriado bancário de três dias. Ao retornar à Ilha em 2022, ele se recordou: “Era um domingo antes do comício. Os outros rapazes disseram que já tinham verificado o campo, mas eu queria ter uma chance própria. Eu só tinha começado a detecção de metais como hobby alguns meses antes, para entrar em forma”. Prestes a completar 60 anos no dia 27 de fevereiro de 2023, Ashley disse: “Comecei às 9h e estava sozinho no campo quando houve um sinal sonoro depois de cerca de 20 minutos no meu Equinox 800 e o anel surgiu. Estava limpo e em perfeitas condições. Foi um bom dia!”. Após encontrar a peça, ele a levou no dia seguinte para especialistas do Museu Britânico, que seriam capazes de comprovar a sua autenticidade.

Henrique VIII, segundo obra de Hans Holbein, o Jovem!

Emocionado com o achado, ele disse: “Originalmente, todos pensavam que poderia ter sido perdido por um bispo durante o reinado de Henrique VIII. Mas os especialistas reconheceram que tinha o escudo dos Bolena. Eles pensaram que poderia valer até £ 50.000, mas o Museu Britânico pagaria apenas £ 15.000”. Após um inquérito, foi determinado que a peça se tratava de um tesouro e o Sr. Solly recebeu permissão para mantê-lo. De repente, os Palácios Históricos Reais decidiram comprá-lo pela soma de £ 40.000. Solly, que dividiu o lucro inesperado com o proprietário da terra (conforme rege a legislação para casos como esse), disse: “É um maravilhoso presente de aniversário antecipado”. O rodoviário pretende investir o valor da venda e revela que não desistiu de seu trabalho com o detector de metais. Todos os domingos, ele vai à caça ao tesouro, porém não encontrou itens de grande valor desde então, exceto “muitas moedas velhas”. Cerca de 400 detectores passaram o final de semana do feriado bancário, peneirando 500 acres de terras agrícolas, em busca de outros tesouros enterrados como o que foi encontrado pelo Sr. Ashley Solly.

Anel de ouro maciço, encontrado pelos detectores de metais Medway History Finders, na Ilha de Sheppey.

O porta-voz do clube, Andrew Hunter, disse na época: “Estamos muito animados. Esta terra nunca foi pesquisada antes, tanto quanto sabemos. Esperamos descobrir artefatos das eras viking, romana e anglo-saxônica”. Ana Bolena e Henrique VIII visitaram Shurland Hall por três dias em 1532 a caminho de Calais, na França, em busca do apoio do rei Francisco I para a causa da anulação do casamento real. A estadia levou Thomas Cheyne à falência, pois ele teve que alimentar com seus próprios recursos uma comitiva de 300 pessoas que acompanhavam o monarca e sua Lady, recém-nobilitada com o título de Marquês de Pembroke. Curiosamente, o anel não foi o único tesouro encontrado na área. Na mesma época, outro explorador, chamado Philip Bowes, descobriu um anel de prata de mais de quatro séculos, avaliado em £ 18.000. Já o anel de ouro dos Bolena, agora em exibição no Palácio que Ana viveu em seu tempo como rainha, se encontra ao lado de outros objetos que teriam lhe pertencido, incluindo um entalhe de madeira que supostamente decorava seu quarto, representando um falcão coroado segurando um cetro com uma das garras. O símbolo que a segunda esposa do rei Henrique VIII escolheu para representar seu status régio!

Fonte: 

Kent Online. 400-year-old ‘Anne Boleyn’ gold ring found on Sheppey by a metal detectorist is now on display at Hampton Court Palace. 2023 – Acesso em 24 de fevereiro de 2023.

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