Uma monarca artista: quadros pintados pela rainha Vitória vão a leilão!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Vitória do Reino Unido era uma soberana complexa e de personalidade multifacetada. Embora a imagem de uma rainha com intelecto limitado e eternamente enlutada pelo marido morto tenha se enraizado no imaginário coletivo, a pesquisa historiográfica aponta para outras interpretações. Desde criança, Vitória era estimulada a escrever sobre tudo o que via e ouvia. Graças ao desenvolvimento dessa habilidade, ela fez anotações em uma série de volumes de diários, que hoje se constituem numa fonte importantíssima para se compreender o panorama político europeu na segunda metade do século XIX. Para além da prática da escrita, a monarca também exercitava sua capacidade como desenhista e pintora. Tanto ela quanto o príncipe Albert receberam aulas de pintura e a rainha adorava fazer registros do cotidiano de sua vida familiar, de paisagens e de naturezas-mortas. Com efeito, dois de seus trabalhos com pintura acabam de ser anunciados pela Casa de Leilões Hansons Auctioneers, de Londres.

Charles Hanson, dono da Hansons, segurando as telas da rainha Vitória. Fotografia de Mark Laban.

No período em que Vitória viveu, qualquer peça fabricada pelas mãos de um membro da realeza ganhava um valor especial, simplesmente pelo fato de estar ligado a alguém que possuía sangue real. Desde bordados, tecidos costurados, a pequenos objetos e até mesmo rascunhos feitos em um pedaço de papel, aquarelas e/ou pinturas à óleo, tudo era imbuído de um valor simbólico. No que se refere à rainha, mesmo com sua miopia se agravando com o passar dos anos, ela não abandonou os pincéis. Nas duas telas identificadas como sendo de sua lavra, observamos, respectivamente, dois jarros com flores de diferentes tonalidades. Em uma das telas, podemos ver um buquê de íris roxas, enfeitadas com penas de pavão. Sobre a mesa que sustenta a urna de vidro transparente, um buquê de flores amarelas oferece um verdadeiro contraste para com os matizes frios do arranjo de cima. Já na segunda das telas, notamos uma miscelânea de florais nas cores rosa, amarelo, laranja e branco, agrupadas dentro de um vaso azul, sobre uma mesa forrada com tecido amarelo.

Nota de proveniência das obras de arte da rainha Vitória.

Por décadas, essas telas permaneceram em Orborne House, a residência de verão favorita da rainha, instalada na Ilha de Wight. Construída pelo príncipe Albert, foi naquela casa em que a soberana veio a falecer no dia 22 de janeiro de 1901. Vitória havia reinado por 63 anos e 7 meses, tornando-se a monarca mais longeva da história do Reino Unido, até ser ultrapassada por sua trineta, a rainha Elizabeth II, que ocupou o trono por 70 anos. O sucessor de Vitória, o rei Edward VII, havia doado Orborne House como assentamento para o Royal Navy College. Embora a mansão tenha se transformado hoje em um museu, parte de sua coleção foi leiloada em 1945, incluindo as duas telas da rainha, entre outros objetos que pertenceram a ela. Um colecionador particular então adquiriu as pinturas. Chris Kirkham, diretor associado da Hansons, disse:

Fiquei igualmente surpreso e encantado quando descobri as pinturas. Pediram-me para avaliar alguns itens em uma casa de campo em Surrey, mas não tinha ideia da magnitude e importância das antiguidades escondidas.

Em seguida, Kirkham foi em busca de alguma evidência que comprovasse a autenticidade das telas. Acontece que elas haviam sido identificadas décadas antes por Alexander Mountbatten, primeiro marquês de Carisbrooke e último neto vivo da rainha Vitória, falecido em 1960. Na opinião de Kirkham, ele seria a pessoa mais indicada para confirmar a originalidade de algum trabalho de sua avó.

Daguerreótipos da rainha Vitória, feitos por volta de 1850. Acervo do Museu de Londres.

Estima-se que as telas sejam leiloadas por um valor de 30 mil libras esterlinas (aproximadamente 192.828,98 reais). Caso as obras alcancem esse preço, elas ocuparão o terceiro lugar no ranking dos trabalhos mais vendidos da rainha Vitória. Nos últimos anos, poucas peças de sua autoria foram a leilão, embora nem todas tenham conseguido encontrar um comprador. De um total de 15 peças, cinco não chegaram a ser vendidas. Um bom exemplo é uma aquarela retratando o príncipe Edward e o príncipe Alfred. Elas foram adquiridas em duas vendas da Bonhams Kinghtsbridge, nos meses de maio e novembro de 2020. Para Kirkham, a telas com jarros de flores se constituem em algo fabuloso: “ouvimos muito sobre as pinturas do rei Charles, por isso é particularmente interessante ver o trabalho de sua ancestral, a rainha Vitória”. Outro objeto que deve ir a leilão no próximo dia 28 de janeiro pela Hansons é uma caixa de correio com as iniciais da soberana, com um valor estimado entre 4000 e 6000 libras esterlinas.

Fonte: The Collector – Acesso em 23 de Janeiro de 2023

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