As sobrinhas-netas de Ana Bolena: os ancestrais da rainha Elizabeth II e da princesa Diana!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Em 24 de março de 1603, falecia a rainha Elizabeth I da Inglaterra. Com ela, também se extinguia a dinastia dos Tudor, uma vez que a monarca, fruto do segundo casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, não se casara ou deixara sucessores diretos nascidos de seu corpo. Assim, a Coroa passou para seu parente mais próximo, seu primo e afilhado James VI da Escócia, que se tornou James I da Inglaterra. Não obstante, Elizabeth reinara por um período de aproximadamente 45 anos e vivera por quase 70. Durante esse tempo, houve muito desenvolvimento artístico, econômico e militar no país, com os ingleses angariando a fama de serem os melhores navegadores do mundo. Contudo, a descendência da família Bolena, assim como a dos Tudor, não desapareceu com a “boa rainha Bess” (como ela era conhecida). Embora Ana e seu irmão, George, tenham sido decapitados em 1536 por ordem do rei Henrique, o pai de ambos, Sir Thomas, possuía uma filha mais velha, a famosa Maria Bolena (que fora amante do monarca antes dele se envolver com Ana). Por meio dela e de seus muitos netos e netas, a linhagem conseguiu sobreviver, misturando-se com o passar dos séculos a algumas das casas mais nobres do Reino Unido, como os Spencer, e inclusive com a família real, os Windsor. Entre as suas descendentes mais famosas, por exemplo, estão ninguém menos que a princesa Diana e a rainha Elizabeth II!

Ao que tudo indica, Maria Bolena era a filha mais velha de Sir Thomas Bolena com Elizabeth Howard, razão pela qual ela foi a primeira entre seus irmãos a se casar. Sua biógrafa, Alison Weir, estipula seu nascimento entre 1498 e 1499. Quando ela atingiu uma idade casadoura, foi desposada por William Carey, que se tornou barão por mercê do rei. Foi por volta dessa época em que Maria começou uma relação extraconjugal com o monarca, garantindo assim para os Bolena posição e prestígio na corte. Inclusive, foi cogitada a possibilidade de que seus dois filhos nascidos de seu casamento com William, Henry e Catherine (batizados em homenagem ao rei e à rainha Catarina de Aragão, de quem Maria era dama de companhia), fossem filhos do soberano. Embora a biógrafa Alison Weir descarte a possibilidade de Henry ser filho do soberano, ela acredita na hipótese de que Catherine possa sim ser uma bastarda real, tendo que vista que seu nascimento coincidiu com a época do término do relacionamento do rei com Maria, em 1524. Pouco tempo depois, por volta de 1526, Henrique voltara seus olhos para Ana, enquanto sua irmã mais velha caíra em desgraça. Qualquer que seja a verdade acerca da paternidade de Catherine, foi principalmente através dela que a linhagem dos Bolena sobreviveu, chegando até os dias de hoje.

A rainha Elizabeth II descende dos Bolena através de sua mãe, Elizabeth Bowes-Lyon.

Dessa forma, podemos dizer que a segunda esposa de Henrique VIII, Ana Bolena, pode ser considerada a tia-avó da monarquia britânica. A linhagem passou através de Catherine Carey, casada com Sir Francis Knollys. Vejamos como sua descendência chegou até a falecida soberana:

Maria Bolena (falecida em 1543), casada com William Carey.
|
Catherine Carey (1524-1569), casada com Sir Francis Knollys.
|
Lettice Knollys (1543-1634) casada com Walter Devereux, 1° conde de Essex.
|
Robert Devereux, 2° conde de Essex (1565-1601), casado com Frances Walsingham.
|
Frances Devereux (1599-1664), casada com William Seymour, 2° duque de Somerset.
|
Jane Seymour (1637-1679) casada com Charles Boyle, 3° visconde Dungarvan.
|
Charles Boyle, 2° conde de Burlington (falecido em 1704), casado com Juliana Noel.
|
Richard Boyle, 3° conde de Burlington (1695-1753) casado com Dorothy Savile.
|
Charlotte Elizabeth Boyle (1731-1754) casada com William Cavendish, 4° duque de Devonshire.
|
Dorothy Cavendish (1750-1794), casada com William Cavendish-Bentinck, 3° duque de Portland e Primeiro-Ministro.
|
Tenente-Coronel Lord Charles Bentinck (1780-1826), casado com Anne Wellesley (Lady Abdy).
|
Reverendo Charles Cavendish-Bentinck (1817-1865), casado com Carolina Louis Burnaby.
|
Cecilia Nina Cavendish-Bentinck (1862-1938), casada com Claude Bowes-Lyon, 14º Conde de Strathmore e Kinghorne.
|
Elizabeth Bowes-Lyon, a rainha-mãe (1900-2002), casada com o rei George VI.
|
Rainha Elizabeth II (nascida em 1926), casada com o príncipe Philip, duque de Edimburgo.

Conforme podemos observar, a rainha Elizabeth II descende dos Bolena através de sua mãe, Elizabeth Bowes-Lyon. Já a princesa Diana descende por meio de Dorothy Sydney, mãe de Sir Robert Spencer. A família da falecida princesa de Gales já vivia na Inglaterra há pelo menos 250 anos quando George, eleitor de Hanôver, fora convocado para assumir o trono britânico após a morte da rainha Anne da casa Stuart. A partir daí, a linhagem de reis e rainhas reinantes da Grã-Bretanha seguiu de forma ininterrupta, com o nome da Casa Real mudando em duas ocasiões. De Hanôver para Saxe-Coburgo-Gota em 1901 (com a morte da rainha Vitória e a ascensão de seu filho, o rei Edward VII) e depois para Windsor em 1917. A alteração do nome se deveu, em grande parte, ao sentimento anti-alemão que então vigorava na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial. Nesse contexto, muitas famílias precisaram anglicizar seu sobrenome. Assim, os Battenberg se tornaram Mountbatten e os Saxe-Coburgo-Gota/Hanôver adoraram o nome de Windsor, o mesmo do castelo medieval que servia de morada para os reis ingleses desde o século X. Consequentemente, a saudosa Lady Di tinha mais sangue britânico nas veias do que a própria família real!

A princesa Diana descende por meio de Dorothy Sydney, mãe de Sir Robert Spencer.

A princesa Diana era sobrinha neta de Ana Bolena com treze gerações de diferença. Isso faz de Diana uma prima distante da rainha Elizabeth I, que governou de 1558 a 1603. A linhagem passou da seguinte forma:

Maria Bolena (irmã mais velha de Ana)
|
Catherine Carey
|
Lettice Knollys
|
Dorothy Devereux
|
Dorothy Percy
|
Dorothy Sidney
|
Sir Robert Spencer
|
Sir Charles Spencer
|
John Spencer
|
John Spencer
|
George John Spencer
|
Frederick Spencer
|
Charles Robert Spencer
|
Albert Edward John Spencer
|
Edward John Spencer
|
Princesa Diana

Curiosamente, quando o Royal Warrant de 1917 ratificou a mudança de nome da dinastia para Windsor, outros haviam sido cogitados, inclusive Tudor, Stuart e Tudor-Stuart. Isso serviria para lembrar aos súditos da Coroa que a atual família real descendia de dinastias genuinamente britânicas. Contudo, os nomes foram descartados, devido ao despotismo do reinado dos monarcas Tudor, notadamente Henrique VIII e Elizabeth I, e pelo fato das Revoluções que eclodiram na Inglaterra no século XVII terem transcorrido justamente sob o cetro dos Stuart, minguando assim a importância da monarquia no país. Dessa forma, Windsor parecia o caminho mais viável a ser adotado. O mais curioso nisso, porém, é que tanto Elizabeth II quanto a princesa Diana descendiam das duas famílias reais, através da famosa Mary Stuart, rainha dos Escoceses, e seu filho, James VI e I. Mary possuía ascendência Tudor, uma vez que ela era bisneta de Henrique VII, fundador da dinastia (sua avó era a princesa Margaret Tudor, rainha consorte da Escócia). Em outras palavras, graças a Lady Di e à rainha Elizabeth II, os Tudor e os Bolena, o casamento que resultou na reforma protestante inglesa e na fundação da Igreja Anglicana, retornaram à linha direta do trono mais uma vez, desde que a primeira Elizabeth deu seu último suspiro, há mais de 400 anos!

Bibliografia Consultada:

DIMBLEBY, Jonathan. O príncipe de Gales. Tradução de Vera Dias de Andrade Renoldi. São Paulo: Editora Best Seller, 1994.

HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.

IVES, Eric W. The life and death of Anne Boleyn: ‘the most happy’. – United Kingdom: Blackwell Publishing, 2010.

MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.

MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2002.

MORTON, Andrew: Diana – sua verdadeira história em suas próprias palavras. Tradução de A. B. Pinheiros de Lemos e Lourdes Sette. 2ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.

WEIR, Alison. Mary Boleyn: the mistress of kings. – New York: Ballantine Books, 2011.

WILKINSON, Josephine. Mary Boleyn: the true story of Henry VIII’s favourite mistress. – Gloucestershire: Amberley Publishing, 2010.

 

Um comentário sobre “As sobrinhas-netas de Ana Bolena: os ancestrais da rainha Elizabeth II e da princesa Diana!

Deixe um comentário