Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Um dos maiores ícones do século XIX, a imperatriz Elisabeth da Áustria e rainha da Hungria personificou aos olhos de muitos de seus contemporâneos o epítome de graça e beleza que uma soberana consorte poderia encarnar. Sempre na vanguarda da moda, ela ditou tendências que foram adotadas por outras princesas e conseguiu cristalizar sua imagem como uma mulher de aparência etérea, tal como uma estátua de mármore. Contudo, essa fachada escondia por trás um ser humano que passava por vários problemas de natureza psicológica e física. Sua obsessão pela magreza possivelmente fez com que desenvolvesse distúrbios alimentares e um complexo com relação à própria aparência. Depois dos 30 anos, ela não mais posava para as câmeras de um fotógrafo ou para os pincéis de um artista. Ficaria, portanto, eternizada na lembrança de seus súditos como o belo retrato de corpo inteiro que Winterhalter lhe pintou. Com efeito, as perdas pelas quais ela passou na vida, como o possível suicídio do filho, a execução do cunhado e a morte da irmã num trágico incêndio em Paris, certamente colaboraram para que ela mergulhasse num constate estado de melancolia, que no século XIX era uma palavra que hoje estaria mais próxima para depressão.
Além disso, a xenofobia da corte vienense, as divergências entre ela e o marido, o imperador Francisco José, fizeram de Elisabeth uma figura distante, à procura de algum lugar onde pudesse se sentir livre do ambiente claustrofóbico da Áustria. Esse enredo encontrou seu trágico desfecho no dia 10 de setembro de 1898, quando a imperatriz foi assassinada em Genebra. Quase 60 anos depois, sua história foi romantizada na trilogia de filmes protagonizados pela atriz Romy Schneider. Elisabeth passaria então a ser carinhosamente conhecida pelo apelido de “Sissi”. Hoje em dia, o mesmo país que tanto a hostilizara enquanto seu coração batia, arrependeu-se do tratamento que lhe fora concedido outrora, dedicando-lhe uma infinidade de exposições, estátuas, biografias, romances, filmes e seriados. Tal como outras famosas soberanas da passado, a exemplo de Maria Antonieta, Elisabeth passou a habitar no reino da ficção, no qual seu súditos não cansam de lhe render sincera homenagem. Muitos turistas e moradores locais podem visitar o Sisi Museum, localizado no Hofburg (Palácio Imperial), em Viena e conhecer mais sobre a história dessa mulher que se tornou uma lenda. Nessa matéria, selecionamos 10 itens que ajudam a contar um pouco da sua trajetória.
1) NECESSAIRE DE VIAGEM

Necessaire de viagem que pertenceu à imperatriz Elisabeth da Áustria, atualmente exposta no Palácio Hofburg. A maleta foi dada de presente a Sissi quando ela tinha 11 anos e ainda era uma princesa bávara.
A soberana que se tornaria mundialmente conhecida pelo apelido de Sissi veio ao mundo em Munique, no dia 24 de dezembro de 1837. Batizada como Elisabeth Amalie Eugenie von Bayern, ela era a quarta criança nascida do casamento entre Maximiliano José, duque na Baviera e membro da Casa de Wittelsbach, com Maria Ludovika Wilhelmine. Crescendo entre as propriedades de Herzog-Max-Palais, em Munique, e o Castelo de Possenhofen, a infância de Elisabeth provavelmente foi o momento mais dourado de sua vida. Longe do ambiente sufocante de uma corte real, ela e seus irmãos e irmãs corriam alegremente pelos campos dos palácios de sua família, nos quais o clima era muito descontraído. Isso lhe ajudou a cultivar um espírito indômito e uma natureza livre, que não se conformava com protocolos e o cumprimento de uma agenda oficial. Por outro lado, seu destino, assim como o de outras garotas aristocráticas nascidas na sua geração, era o casamento dinástico. Como Elisabeth tinha uma irmã mais velha, Helene, esperava-se que a jovem só se casasse depois dela. Qual não foi a surpresa da mãe de ambas quando o imperador Francisco José da Áustria, que deveria desposar Helene, demonstrou interesse pela mais nova das duas? Dessa fase, sobreviveu uma necessaire de viagem com produtos de beleza e objetos para o cuidado de si, que a futura imperatriz carregaria consigo para a Áustria e continuaria usando-a muito depois disso.
2) A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A imperatriz Elisabeth posando para um retrato mais informal e para a tela que eternizaria sua imagem. Ambas as obras foram pintadas por Franz Xaver Winterhalter.
Quando o imperador Francisco José demonstrou interesse em se casar com Elisabeth e não com a irmã mais velha dela, Helene, a mãe do monarca, a arquiduquesa Sofia da Baviera (tia das duas princesas), ficou bastante contrariada. Ela havia assumido um lugar de proeminência no reinado do filho e deixou clara sua preferência por Helene. Mas, nesse ponto, o imperador a enfrentou e disse que, caso não contraísse matrimônio com Elisabeth, não se casaria com mais ninguém. Sofia não teve outra escolha, exceto ceder à vontade do monarca. A bodas foram celebradas na Catedral Agostiniana, em 25 de abril de 1854, quando a noiva tinha apenas 16 anos. As primeiras duas filhas do casal, as arquiduquesas Sofia (que faleceu precocemente aos 2 anos de idade) e a arquiduquesa Gisela, nasceram em 1855 e 1856, respectivamente. Dois anos depois, em 1858, nasceu o herdeiro do trono, o arquiduque Rudolf. Sissi teve pouco ou quase nenhuma participação na educação de seus primeiros filhos, que ficaram sob a tutela dominante da arquiduquesa-mãe. Assim surgiu a falácia de que ela não se importava com as crianças, quando na verdade seu direito à maternidade lhe havia sido negado. Essa vida tumultuada, por sua vez, convivia lado-a-lado com sua imagem glamorosa. Aos poucos, ela foi ganhando a reputação de ser a soberana mais bela da Europa.
No século XIX, um dos maiores pintores da realeza era o germânico Franx Xaver Winterhalter, que já havia pintado várias telas da família real inglesa e da família imperial francesa. Winterhalter viajou por várias cortes da Europa, chegando a retratar uma das primas de Sissi, Dona Amélia de Leuchtenberg, imperatriz-viúva do Brasil, que vivia então em Portugal. Em meados da década de 1860, quando já estava com mais de 60 anos de idade, ele finalmente chegou a Viena, onde se encontrou com o casal imperial. A pedido de Francisco José, ele fez quatro retratos da imperatriz Elisabeth aos 28 anos de idade. O talento inigualável do artista combinou perfeitamente com a beleza lendária da soberana. Esse foi um dos encontros mais felizes da História da Arte. Tal como Simonetta Vespucci servira de modelo para a Vênus de Botticelli no século XV, Sissi fora a última grande musa de Winterhalter no XIX. Ele representou Elisabeth tanto em trajes formais, quanto em roupas mais despojadas e com uma expressão serena no rosto. Chama a atenção sua vasta cabeleira castanha de fios longos e grossos, que chegavam quase aos seus pés. Seus cabelos eram geralmente trançados e enrolados no topo de sua cabeça, criando uma espécie de diadema natural, que era enfeitado com flores ou joias. O penteado de Elisabeth acabou se tornando sua marca registrada.
3) ESTRELAS DE DIAMANTES

Uma das famosas estrelas de diamantes de Sissi.
Quase tão famoso quanto o retrato pintado por Winterhalter em 1865 é o belíssimo conjunto de estrelas de diamantes que a imperatriz usa nos seus cabelos e que acabaram virando tendência entre muitas princesas do período. Não se sabe ao certo se foi a soberana quem criou a moda, mas com certeza ela foi a personalidade que a popularizou entre as cortes reais. Atualmente, existe apenas uma das famosas estrelas de diamantes que a imperatriz Elisabeth da Áustria costumava utilizar. Como podemos observar, não se trata do mesmo modelo que ela usou quando posou para o icônico retrato pintado por Winterhalter. Esta possui uma grande pérola no meio, enquanto na tela as joias eram completamente engastadas com diamantes de corte pequeno. Consta que Elisabeth possuía ao todo 27 dessas peças, cujo design foi copiado por princesas como Alexandra da Dinamarca e sua irmã, Maria Feodorovna. Após a morte de seu filho Rudolf, Sissi foi aos poucos se desfazendo de seus ornamentos, inclusive das estrelas de diamantes, que ela distribuiu ao longo de seu luto como presente para suas damas de companhia. Sabe-se que, em 1902, a arquiduquesa Elisabeth, filha do falecido príncipe Rudolf, usou algumas delas nos cabelos no dia de seu casamento. A peça remanescente que aparece na imagem acima se encontra preservada no Sisi Museum.
4) VIOLETAS AÇUCARADAS

Violetas açucaradas, vendidas pela Confeitaria Gerstner.
Em 22 de abril de 1868, quase um ano depois de ser coroada rainha da Hungria ao lado de seu marido, a imperatriz Elisabeth deu à luz sua última criança nascida do casamento com Francisco José, a arquiduquesa Maria Valéria. Mas, diferentemente dos outros filhos, que lhes foram tomados pela sogra e educados longe de seus olhos, Sissi se agarrou à filha caçula como a um porto seguro. Nessa fase de sua vida, com 30 anos, ela começou a desenvolver uma série de complexos com relação à sua própria aparência, especialmente com o peso. Após o parto de quatro filhos, a soberana de forma alguma pretendia assumir a figura da matrona, como a famosa imperatriz Maria Teresa, a Grande. Em vez disso, ela adotou dietas rigorosas, para manter o talhe de sílfide. Com cerca de 1,72m de altura, seu peso variava entre 45 e 50 kg e sua cintura media 50 cm (ficando ainda mais delgada com o uso de espartilhos). Sua dieta se baseava principalmente no consumo de líquidos e ela fazia longas caminhadas por dia, a ponto de levar suas damas de companhia à exaustão. Para absorver a proteína da carne, em vez de mastigar o alimento e o engolir, ela sorvia apenas seu caldo. Assim, Sissi foi ficando cada vez mais magra, despertando a preocupação de médicos e familiares.
Com efeito, acredita-se que a imperatriz possa ter desenvolvido algum distúrbio alimentar, como bulimia ou anorexia, embora nada disso possa ser comprovado. A falta de uma alimentação balanceada, aliada a exercícios físicos cansativos, como cavalgadas, trapézio e natação, levavam seu corpo à exaustão. Não raro, ela era tomada por vertigens e sensação de fadiga. Contudo, havia uma iguaria da culinária vienense à qual ela não resistia: pétalas de violeta açucaradas! A soberana não perdia a oportunidade de consumir o doce produzido pela Confeitaria Gerstner, chegando ao ponto de substituir suas refeições por ele. Fundada no ano de 1847, a confeitaria fornecia bolos e demais doces finos para a corte imperial, incluindo as pétalas de violeta cobertas com cristais de açúcar. Curiosamente, a confeitaria ainda existe e produz o doce para quem quiser experimentá-lo. As violetas açucaradas vêm dentro de uma caixinha redonda forrada em veludo lilás, com um retrato da imperatriz Elisabeth reproduzido na tampa. O amor de Sissi por doces como esse acabou por prejudicar sua dentição. Quando ela sorria, geralmente encobria os lábios com um leque, para esconder parte da dentição que já estava visivelmente estragada.
5) CAIXA DE COCAÍNA

Estojo de madeira e a seringa usada para injetar cocaína na imperatriz.
Conforme dito no tópico anterior, a imperatriz Elisabeth, com o tempo, acabou desenvolvendo uma série de transtornos físicos e psicológicos, ligados não apenas à maternidade, como também à própria aparência e ao status de imperatriz da Áustria e rainha da Hungria. Todo o cerimonial da corte vienense lhe deixava sufocada e as intrigas palacianas envolvendo seu nome aumentavam ainda mais sua melancolia. Como consequência, suas aparições públicas foram ficando cada vez mais escassas, na medida em que ela se retirava de forma incógnita para diferentes locais do continente europeu, em busca de tratamento. O que poucos sabem, porém, é que entre os medicamentos recomendados pelos médicos da soberana estava o uso de cocaína. No Sisi Museum, fica em exposição um pequeno estojo de madeira, utilizado pela esposa do imperador Francisco José para guardar a droga, que no século XIX era injetável, ao lado da seringa com a qual ela era aplicada em seu corpo. O tratamento era recomendado para muitos pacientes em estado semelhante, por especialistas como o próprio Freud. Os médicos acreditavam que o efeito do composto tinha como garantia estimular o organismo de Sissi e assim ajudá-la a cuidar de seu estado depressivo.
6) TOILETTE ÍNTIMA

Urinol de cerâmica da imperatriz Elisabeth e seu estojo de madeira.
Uma curiosidade a respeito da higiene pessoal feminina nos séculos passados era como as mulheres conseguiam urinar, usando vestidos contendo camadas e camadas de tecido sobre uma armação de crinolina. Talvez esse objeto responda a algumas dúvidas. Sissi sempre carregava essa espécie de urinol portátil consigo nas suas viagens pelos vastos territórios do Império Habsburgo e além. Seu uso era muito prático, uma vez que bastava posicioná-lo entre as pernas por baixo das saias e então se aliviar. Os dejetos podiam ser depois despejados na estrada ou em alguma vala mais recôndita. O urinol da imperatriz Elisabeth, não obstante, apresenta um design bastante sofisticado. Ele foi feito em cerâmica esmaltada e costumava ser mantido dentro desta caixa de madeira, cujo interior é forrado com pele de corça. Na fechadura, podemos ver o monograma da soberana. Apenas a dama da toilette íntima da imperatriz tinha permissão de auxiliá-la nos momentos em que o uso do objeto era necessário, cabendo a ela também se livrar do conteúdo do recipiente.
07) GUARDA-ROUPAS INFORMAL

Vestido que a imperatriz Elisabeth costumava usar quando estava na Ilha de Corfu, na Grécia. Reparem quão delgada era sua cintura.
É comum pensarmos em uma soberana que foi tão glamourizada pela posteridade quanto Sissi usando sempre roupas impecáveis, criadas pelas melhores costureiras da Casa Worth, uma grife parisiense fundada pelo inglês Charles Frederick Worth, considerado o pai da alta-costura. Mas, na verdade, Elisabeth apreciava mais as coisas simples do que a opulência dos palácios imperiais. Nas últimas décadas de sua vida, ela e Francisco José passaram a se ver muito pouco, encontrando-se em ocasiões específicas durante o ano. Nas suas digressões pelo continente, a soberana esteve em locais tão distantes da Áustria quanto a Ilha da Madeira ou a Ilha de Wight, na Inglaterra. Mas foi em Corfu, na Grécia, onde ela encontrou seu verdadeiro pedacinho do céu. Assim, ela aprendeu a amar o mar e todo o clima insular que aqueles lugares banhados pelas águas do oceano poderiam lhe proporcionar. Dessa fase, sobreviveu um vestido azul que ela costumava usar quando estava na sua residência na Grécia. Sissi chegou até mesmo a fazer uma tatuagem em formato de âncora no ombro, para simbolizar a liberdade que ela sentia quando navegava conforme a direção dos ventos.
08) O ÁLBUM DAS BELDADES

Um dos famosos “álbuns das beldades” da soberana.
Durante sua passagem pelo exterior, Sissi deu início a uma inusitada coleção de fotos, que agora está exposta no Museu Ludwig de Colônia. Essa coleção de imagens deu origem aos chamados “álbuns das beldades”, encadernados em couro fino. Neles, a imperatriz coletou fotos de belas mulheres para estudar sua aparência. “Estou criando um álbum de beleza e agora colecionando fotos para ele, apenas de mulheres”, escreveu ela ao cunhado, o arquiduque Ludwig Viktor, na década de 1860. “Quaisquer rostos bonitos que você possa reunir no Angerer ou em outros fotógrafos, peço que me envie”. Curiosamente, ela também colecionou fotos de artistas e atrizes que tinham uma má reputação na sociedade da época, apenas pelo fato de serem consideradas bonitas. Isso diz muito a respeito dos complexos que Sissi desenvolveu com relação à própria aparência. Por outro lado, a imperatriz também pode ser considerada uma pioneira quando se trata em matéria de colecionar fotografias. Afinal de contas, as fotos eram uma novidade na época, tendo sido introduzidas oficialmente em 1839 pelo pintor francês Louis Daguerre. Foi somente no final do século XIX que a fotografia se tornou um meio mais acessível. Através das fotos expostas nos álbuns, descobrimos um lado da imperatriz que era “muito mais moderno e muito mais emancipado, muito mais viperino, muito mais selvagem do que a imaginávamos”, disse Miriam Szwast, curadora do Museu.
09) A ARMA DO CRIME

A arma utilizada para assassinar Sissi e o traje que ela vestia no dia do crime.
A desventura de Elisabeth da Áustria encontrou seu trágico ponto final numa tarde de sábado, dia 10 de setembro, em Genebra, na Suíça. Enquanto viajava de forma incógnita pela cidade, usando o título de condessa Hohenembs, ela foi atacada repentinamente. Na ocasião, ela estava hospedada numa suíte no Hotel Beau Rivage, na companhia de sua dama, a condessa Irma Sztáray. Sissi inclusive chegou a frequentar algumas lojas de brinquedos para comprar lembranças para seus netos. Certamente, ela não deu muita importância aos avisos nos jornais, que noticiavam sua presença na cidade usando um título falso. Porém, uma pessoa com certeza prestou atenção: o anarquista italiano Luigi Lucheni, que tinha chegado na cidade com o objetivo de assassinar o príncipe Henri Philippe Marie d’Orléans. Quando soube da presença de Sissi em Genebra, Lucheni rapidamente mudou seus planos. Ele permaneceu à espreita da imperatriz no hotel em que ela estava hospedada e, enquanto a via caminhando ao lado da condessa Sztáray, andou na sua direção com uma espécie de adaga bastante afiada com cabo de madeira, escondida. No momento em que os dois ficaram próximos o suficiente, ele golpeou a imperatriz na região do seio, perfurando-lhe o coração. Instantes depois, Elisabeth caiu, enquanto sua dama gritava por ajuda. Não havia sinal aparente de sangramento, de modo que ela ainda conseguiu se levantar e andar mais um pouco.
Instantes depois, a imperatriz desmaiou com falta de ar. Rapidamente, a condessa Sztáray afrouxou os laços do apertado espartilho e uma hemorragia interna se espalhou. A autópsia comprovou que o punhal (ou lima) que Lucheni usava perfurou o tórax da soberana, atingindo a quarta costela, o pulmão e o coração. Mesmo tendo recebido atendimento médico, ela não resistiu. O óbito foi declarado às 14h10 daquela tarde de sábado. Ainda hoje se encontra preservado o vestido que a soberana usava naquele dia, com um furo no local exato onde ela fora golpeada, assim como a arma do crime. O assassino fora preso e mais tarde confessou que escolhera sua vítima só pelo fato dela pertencer a uma casa reinante. “Apenas os que trabalham têm o direito de comer”, afirmou ele para as autoridades durante o interrogatório. 12 anos depois, Lucheni foi encontrado enforcado dentro de sua cela na prisão. Até hoje não se sabe se foi suicídio ou assassinato. Depois de morto, seu corpo foi entregue para médicos forenses, que esquartejaram seus membros para estudo. A cabeça decepada, porém, foi conservada em formol e enviada para a Áustria. Permaneceu preservada no Instituto Médico Forense de Viena até o ano de 1985, quando finalmente foi retirada do local onde costumava ficar em exposição e, 15 anos depois, em 2000, foi enterrada.
10) MÁSCARA MORTUÁRIA

Máscara mortuária da imperatriz Elisabeth, no Sisi Museum. O objeto não apresenta a face de uma mulher de 60 anos.

Provavelmente, era assim que o rosto da soberana realmente se parecia na época de sua morte, em 10 de setembro de 1898.
A notícia da morte da esposa causou uma dor profunda do imperador Francisco José. Ela já havia passado pela dor da morte do irmão, o arquiduque Maximiliano, que havia sido fuzilado do México, e de seu único filho e herdeiro, Rudolf, que provavelmente se suicidou. Agora, a esposa por quem ele se apaixonara quando ela era uma princesa de 16 anos também fora brutalmente arrancada de seu convívio. Ele organizou para Elisabeth um magnífico funeral com honras de Estado. Com ela, todo o brilho da dinastia Habsburgo, uma das mais poderosas casas reinantes da Europa cujas origens remontavam ao século XIII, chegava ao ocaso. Atualmente, seu caixão repousa na Cripta Imperial de Viena, ou Cripta dos Capuchinhos, ao lado do ataúde do marido e de seu filho. A posteridade trataria de imortalizar a memória de Sissi em várias esculturas, espalhadas pelos diversos locais da Europa por onde ela passou. Porém, o que mais chama a atenção é a sua máscara mortuária, em exposição no Hofburg. Ali observamos uma mulher de beleza quase etérea, como se ela não tivesse 60 anos na época de sua morte. Trata-se de um molde idealizado do rosto da imperatriz quando mais jovem, que costumava ser utilizado para pintura de retratos póstumos e edificação de monumentos esculpidos em pedra. Porém, duas supostas máscaras mortuárias da soberana, feitas em gesso pelo médico Mégevand, mostram as faces encovadas de uma senhoras sexagenária, razão pela qual ela sempre andava com um véu a lhe encobrir o rosto. Seus cabelos estão trançados e presos em um coque no topo da cabeça, como a imperatriz costumava prendê-los. Provavelmente era essa a aparência de Sissi quando ela faleceu, e não a da mulher eternamente jovem, como na belíssima pintura que Winterhalter lhe fez em 1865.
Referências Bibliográficas:
CORTI, Egon Conte. A imperatriz Elisabete (Sissi). Tradução de Mário e Celestino da Silva. Rio de Janeiro: Casa Editora Vecchi, S/A.
HAMANN, Brigitte. The reluctant empress: a biography of empress Elisabeth of Austria. 4ª ed. New York: Ullstein, 1997.
MARATÓ, Cristina. Reinas Malditas: emperatriz Sissi, María Antonieta, Eugenia de Montijo, Alejandra Romanov y otras reinas marcadas por la tragedia. España: Debolsillo, 2014.
REZZUTTI, Paulo; WITTE, Cláudia Thomé. Sissi e o último brilho de uma dinastia: uma história não contada dos Habsburgo. São Paulo: LeYa Brasil, 2022.
Imagem da Capa: Fotografia digitalmente colorida por Klimbim.
Amo tudo que você pública e tenho uma verdadeira admiração pela Sissi. Muito obrigada por tudo. Você é admirável.
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Muito bom!!
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