“Adeus, Majestade!” – Rainha Elizabeth II falece aos 96 anos de idade!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Muitos de nós desejaríamos não acreditar nas tristes notícias emitidas pelo Palácio de Buckingham nesta manhã do dia 08 de setembro de 2022, quando a saúde da rainha Elizabeth II preocupou seus médicos. O anseio aumentava na medida em que os membros da família real chegavam ao castelo de Balmoral, na Escócia, para estar ao lado da atual matriarca da Dinastia de Windsor nas suas horas finais. Agora, foi confirmada a informação que a muitos infelizmente temiam: a monarca faleceu aos 96 anos, na residência ancestral de sua trisavó, a rainha Vitória. Embora o sentimento de perda possa não ser compartilhado por parte da população mundial, é inegável o impacto grandioso que a imagem de Elizabeth exerceu durante os 70 anos nos quais ela reinou. Alguns dos períodos mais turbulentos da segunda metade do século XX e do início do século XXI transcorreram debaixo do seu cetro, enquanto ela tentava se manter calma e confiante, servindo como um modelo de conduta para seus súditos ao longo do Reino Unido e de outros países que fazem parte da Comunidade de Nações. Com a rainha, toda uma Era desaparece diante dos nossos olhos, enquanto o futuro dos Windsor permanece incerto nesse momento de luto e pesar.

Último compromisso público de Elizabeth II como rainha. No dia 06 de setembro de 2022, ela recebeu no Castelo de Balmoral, na Escócia, a Líder do Partido Conservador, Liz Truss, que veio pedir a permissão da monarca para formar um governo em seu nome. Conforme dita o protocolo em tais ocasiões, a soberana, na qualidade de Chefe de Estado, empossou a nova Primeira-Ministra da Inglaterra, que é a 15° Premiê, assim como a 3ª mulher a ocupar o cargo de Chefe de Governo durante os 70 anos da história do reinado de Elizabeth.

Instantaneamente, nossos pensamentos se voltam para uma época mais dourada de sua vida, quando a jovem princesa de 21 anos fez seu primeiro discurso como presuntiva herdeira do trono, no qual dizia: “prometo diante de todos vocês que minha vida, seja ela longa ou curta, será inteiramente devotada ao seu serviço e de nossa grande família imperial, na qual todos nós pertencemos”. Nas décadas seguintes, observamos essa mulher obstinada segurando com firmeza a tarefa deixada a ela por seu pai, quando a morte prematura do rei George VI, em 1952, fez sua filha de 25 anos a nova soberana reinante do Reino Unido. Naquele período, marcado pelo pós-guerra, Elizabeth II representava um ideal de renovação para a família real e para suas tradições arcaicas, impregnadas pelo legado da rainha Vitória. Suas prerrogativas régias eram mais limitadas do que a de seus antepassados, mas, apesar disso, aquela jovem mulher tinha um poder inacreditável: a atenção do mundo! Com a Segunda Era Elisabetana, nasceu também a Era da Televisão, que documentou cada um dos momentos mais importantes de seu reinado, ora sob um prisma positivo, ora sob um prisma negativo. Qualquer que fosse a abordagem, ela sempre transpareceu a imagem de uma monarca calma e firme no exercício de suas funções.

Na terça-feira, dia 06 de setembro de 2022, Elizabeth II desempenhou seu último compromisso como chefe de Estado, ao dar posse para a 15ª Primeira-Ministra e 3ª mulher a ocupar o cargo de chefe de Governo na história de seu longo reinado. Ela parecia radiante nas fotos divulgadas no encontro em Balmoral, ocorrido na sala de desenhos do famoso castelo escocês. Sempre com um sorriso no rosto, como se estivesse grata por viver tanto tempo ao lado daqueles que mais amava, ela ainda se mantinha fiel no cumprimento de seu juramento, feito quando ela foi coroada em 2 de junho de 1953. Agora, o Palácio de Buckingham confirma o falecimento da soberana com a seguinte nota: “A Rainha morreu pacificamente em Balmoral nesta tarde. O Rei e a Rainha consorte permanecerão em Balmoral até esta noite e retornarão para Londres amanhã”. Segundo o costume em tais ocasiões, o príncipe Charles, de 74 anos, se torna oficialmente o rei Charles III do Reino Unido, enquanto sua esposa, Camila, receberá o título e o tratamento de rainha consorte, conforme desejo expresso pela própria Elizabeth no dia 5 de fevereiro deste ano, um dia antes de seu reinado completar sete décadas. Só podemos imaginar os sentimentos de dor e de confusão que passam pela cabeça de Charles nesse momento, assim como em seus irmãos e irmã, filhos e sobrinhos.

Fotografia oficial do Jubileu de Platina da rainha Elizabeth II. 70 anos de reinado, dedicados ao serviço público.

Desde a morte do príncipe Philip, em 9 de abril de 2021, a saúde de Elizabeth II veio se deteriorando gradativamente. No início da Pandemia de COVID-19, em 2020, ela se mudou do Palácio de Buckingham para o castelo de Windsor, onde residiu pelos últimos dois anos. Enfrentando sérios problemas de locomoção, ela cancelou vários compromissos públicos, tais como reuniões com embaixadores, entre outros. Nas comemorações pelo seu Jubileu de Platina, em junho desse ano, ele esteve ausente na maioria das cerimônias e pela terceira vez em 70 anos ela não estava presente na Abertura Anual dos Parlamento, sendo representada pelo príncipe herdeiro, agora rei Charles. Em julho, a monarca se retirou para o castelo de Balmoral, na Escócia, onde sempre costumava passar as férias de verão desde a infância. Em meio às terras altas, tão amadas por ela e por seus antepassados, a soberana encontrou paz e tranquilidade nas suas horas finais, cercada por seus quatro filhos e netos. Elizabeth teve o privilégio de envelhecer ao lado de seu companheiro por 73 anos, Philip, enquanto assistia ao crescimento de sua linhagem. Ela foi mãe, avó e bisavó de muitos príncipes e princesas. Aos 96 anos, sua figura ressurgiu como a da grande matriarca da nação, adorada por milhões em todo o globo!

Durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, marcadas pelo contexto político da Guerra Fria, da contracultura, de inflação galopante, desemprego e por uma sucessão de Primeiros-Ministros que tentaram solucionar as graves crises econômicas, a ideia de manter uma família real parecia algo bastante antiquado e caro para o bolso do contribuinte. Não obstante, movimentos nacionalistas estouraram no Canadá e na Austrália, objetivando a abolição do regime monárquico e a proclamação de uma República. Em todos esses momentos, Elizabeth II permaneceu tranquila, fazendo o possível para adaptar o sistema às necessidades dos novos tempos e se aproximar cada vez mais do povo. Afinal, a época em que reis e rainhas eram simplesmente adorados por seu status já havia passado há muito tempo e nem mesmo a mídia, antes respeitosa, fazia mais questão de manter a deferência para com a figura da monarca. Os gastos do Palácio e a renda da soberana foram alvo de especulações, assim como de outros membros da família real. Elizabeth contornou essa situação, tornando-se a primeira soberana no Reino Unido a pagar impostos e a prestar contas de seus gastos pessoais com o dinheiro público.

A rainha Elizabeth II posando em frente ao retrato da coroação de sua trisavó, a rainha Vitória. Elizabeth foi a soberana que por mais tempo reinou na história do Reino Unido e o segundo reinado mais longo da história depois de Cristo!

Não obstante, a rainha passou por perdas difíceis ao longo de seus 96 anos. Começando por seu avô, o rei George V, que ela carinhosamente apelidava de “vovô Inglaterra” e que foi uma figura muito importante na sua infância. Em seguida, seu pai, que assumiu o fardo da Coroa após a abdicação do irmão, Edward VIII, em 1936, num dos momentos mais turbulentos do século XX, representado pela Segunda Guerra Mundial. O conflitou sugou muito das forças do pai da soberana, que faleceu aos 56 anos em 1952, passando o dever para sua filha de 25 anos. Naquele momento, Elizabeth II tinha pilares poderosos nos quais podia confiar, como sua mãe, a rainha Elizabeth Bowes-Lyon, e sua avó, a rainha Mary de Teck. Essas duas mulheres formaram um poderoso matriarcado que guiou os passos da jovem monarca nos primeiros anos de seu reinado. Outros dois alicerces com quem ela contava eram sua irmã, a princesa Margaret, e principalmente seu marido, o príncipe Philip. Como condutor para seus deveres constitucionais, ela tinha ninguém menos que Winston Churchill, seu primeiro Premiê, que lhe instruiu nas suas obrigações como monarca. Elizabeth sofreu a dor da perda de todos estes entes queridos, permanecendo firme e forte não apenas por si, mas também por sua família e pela instituição que ela carregava nas costas.

Para além disso, nenhuma outra monarca do Reino Unido representou tanto a nação em outros países do mundo quanto ela. Seja a bordo do Iate Real ou de um avião da Força Aérea Real, ela esteve nos quatro cantos do globo, visitando inclusive o Brasil em 1968, onde inaugurou o MASP em São Paulo. Muitos acordos diplomáticos foram selados apenas com um gracioso aperto de suas mãos enluvadas e, enquanto ela viveu, a Coroa e o Parlamento mantiveram relações respeitosas. Quando chegou a uma idade mais avançada, a experiência de Elizabeth passou a servir como guia para Primeiros-Ministros mais jovens. Não consigo imaginar outra personalidade do nosso tempo que tenha conhecido mais Chefes de Estado ou Líderes Mundiais quanto ela. Sua perda deixa assim um grande vácuo nas relações internacionais e no mundo. Afinal, Elizabeth II era estimada por pessoas que viviam em países onde ela sequer reinava e seu nome era conhecido nos lugares mais remotos. Agora que ela se foi, o sentimento que fica, além do de pesar, é o de gratidão por uma vida inteiramente dedicada ao serviço público e aos seus súditos. Permanecendo fiel ao seu juramento feito quando tinha 21 anos, ela devotou sua longa existência às suas obrigações como chefe de Estado e deixa este mundo com a sensação de dever cumprido!

Bibliografia Consultada!

DIMBLEBY, Jonathan. O príncipe de Gales. Tradução de Vera Dias de Andrade Renoldi. São Paulo: Editora Best Seller, 1994.

HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.

MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.

MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2002.

MORTON, Andrew: Diana – sua verdadeira história em suas próprias palavras. Tradução de A. B. Pinheiros de Lemos e Lourdes Sette. 2ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.

Site:

BBC News

4 comentários sobre ““Adeus, Majestade!” – Rainha Elizabeth II falece aos 96 anos de idade!

  1. Que homenagem maravilhosa à essa grande mulher, Rainha Elizabeth II que, em cartas a seu povo sempre assinava “YOUR SERVANT ELIZABETH r”. Grata por isto, cada dia mais fã desse blog, que deveria tornar-se um livro sobre as Monarquias.

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  2. Vc foi admirável mais uma vez …lendo a retrospectiva da RAINHA ELIZABETH II que vc descreveu com todos os detalhes da trajetória dessa grande monarca . Parabéns pela escolha profissional que vc escolheu pra nos presentear sempre com seu talento literário histórico e até jornalístico dos temos por vc escolhidos .

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