“The Boleyns”: nova série documental explora a trágica vida de Ana Bolena!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Quase 500 anos antes da princesa Diana ficar publicamente conhecida por quebrar as regras da realeza, esse papel costumava ser atribuído a Ana Bolena, segunda esposa do rei Henrique VIII e mãe da rainha Elizabeth I. Possivelmente nascida em junho de 1501, Ana tinha cerca de 35 anos quando foi decapitada por ordem do rei, depois de ser condenada por crimes contra a Coroa. A partir de então, ela entrou para a história como uma das soberanas mais controversas da Inglaterra. Sua trajetória já foi contada em dezenas de biografias, romances, séries, filmes e peças de teatro. Recentemente, a rede de televisão americana PBS produziu uma série documental sobre a rainha, intitulada “The Boleyns: A Scandalous Family” (“Os Bolena: Uma Família Escandalosa”), com data de estreia marcada para o domingo, dia 28 de agosto de 2022. Ao longo de três episódios, o enredo mergulha nas raízes da jornada de Ana Bolena, filha do cortesão Thomas Bolena, ressaltando como ela e sua família conseguiram chegar ao poder tirando proveito das intrigas palacianas envolvendo algumas das facções mais poderosas da corte henriquina, a exemplo do clã dos Howard, liderado pelo duque de Norfolk.

Rafaëlle Cohen como Ana Bolena.

As cenas de “The Boleyns”, por sua vez, são intercaladas com depoimentos de historiadores e demais pesquisadores do reinado de Henrique VIII. Para Estelle Paranque, historiadora especializada nas relações anglo-francesas durante o século XVI que colaborou com a produção, o nome de Ana Bolena ressoou através dos séculos graças à popularidade do reinado de sua filha. Antes da ascensão de Elizabeth I ao trono, em 1558, a segunda esposa do rei Henrique era considerada uma espécie de não-ser. Muitos evitavam pronunciar seu nome publicamente, para não evocar os tristes acontecimentos que levaram à sua condenação e morte e para não cair no desagrado das autoridades da Coroa. Passada uma geração, ela era a mãe da soberana reinante e, consequentemente, sua imagem começou a ser resgatada do limbo e foi mitificada ao longo das eras. Em entrevista para a Vanity Fair, Paranque explicou que: “Ana Bolena continua sendo uma das avós – ou uma das tias-avós – da monarquia britânica”, uma vez que tanto a falecida princesa Diana (mãe do futuro rei), quanto a atual rainha Elizabeth II descendem dos Bolena através da irmã mais velha de Ana, Maria, que fora amante de Henrique VIII anos antes dele se envolver publicamente com a filha mais nova de Sir Thomas Bolena.

Max Dowler como Thomas Bolena

Com efeito, a historiadora argumenta que Ana Bolena foi uma das poucas mulheres de seu tempo a chegar ao mais alto status da corte por meio da arte da diplomacia e do casamento. De simples filha de um cortesão com algumas gotas de sangue azul, Ana se tornou rainha consorte. Paranque esclarece: “As pessoas são atraídas por ela porque é a mãe de uma das maiores monarcas que já governou, Elizabeth I, embora tenha morrido quando sua filha tinha apenas dois anos e meio”. Assim sendo, a série inicia seu primeiro episódio, intitulado “Ambição”, apresentando um vislumbre da luxuosa corte do rei Henrique VIII, focando nas tentativas de Thomas Bolena para ascender socialmente e assim melhorar as perspectivas de futuro para seus três filhos: Maria, a primogênita; George, seu herdeiro; e Ana Bolena, possivelmente a mais nova dos três. Thomas era casado com Elizabeth Howard, filha do segundo duque de Norfolk, além de ser neto do conde de Ormond por via materna, o que lhe garantiu uma posição como diplomata na primeira década do reinado de Henrique. Usando de suas credenciais, ele conseguiu para Ana uma posição no séquito da arquiduquesa Margarida da Áustria, regente dos Países Baixos, e depois como dama de companhia da rainha Cláudia de Valois, esposa do rei Francisco I da França.

Elizabeth McCafferty (esquerda) como Maria Bolena e Rafaëlle Cohen (direita) como Ana Bolena.

Essa educação em duas das maiores cortes renascentistas do continente foi de fundamental importância para a formação da personalidade de Ana Bolena, algo que chamou a atenção dos ingleses (especialmente do rei) quando ela retornou para casa, em 1522. Durante seus anos na França, ela conviveu com algumas das mulheres mais sofisticadas do período, como a irmã do rei, Margarida de Angoulême, rainha de Navarra, e a mãe de ambos, Luísa de Saboia, duquesa de Nemours. Dessa forma, Ana teria aprendido com elas as múltiplas formas que uma mulher poderia exercer poder. Segundo Paranque: “Não podemos compreender Ana Bolena e seu relacionamento com Henrique VIII e essa paixão tóxica entre os dois sem considerar Francisco I da França, sua mãe, sua irmã e sua esposa, porque essas três mulheres vão desempenhar um papel enorme e importante para ela”, disse a historiadora. “Na corte de Francisco I, as mulheres estão bem no centro e ao lado dele. As mulheres, e especialmente as rainhas, são tratadas de forma incrível”. Ao retornar para a Inglaterra, Ana foi notada mais por seu comportamento do que por sua aparência. Esteticamente falando, ela não poderia ser considerada uma das maiores beldades da corte. Mas, o que lhe faltava em atributos físicos, sobrava em inteligência, algo que não passou despercebido.

Sam Retford como George Bolena.

Embora Henrique VIII fosse casado há quase 20 anos com Catarina de Aragão, ele se apaixonou por Ana Bolena, conforme podemos inferir a partir das várias cartas que ele escreveu para ela entre 1526 e 1529 (hoje arquivadas na Biblioteca do Vaticano). Naquele período, o soberano estava desesperado por um herdeiro do sexo masculino, tendo apenas uma filha para sucedê-lo no trono, a princesa Mary (futura Mary I da Inglaterra). Paranque esclarece que Ana Bolena foi empurrada de muitas formas para os braços do rei por seus familiares, que viam naquela ligação algo extremamente vantajoso: “Não tenho certeza de que ela se apaixonou por ele. Penso que ela se apaixonou pela ideia de uma coroa. Acho que ela gostava da ideia de ser rainha”, disse Paranque. “Ana Bolena observa uma oportunidade e vê essa luxúria ou paixão tóxica que eventualmente a consumiria – mas essa paixão tóxica vem dele. Ele está apaixonado por ela, ele a quer. Obviamente, ele também está apaixonado pela ideia de um filho, certo? Então ela jogou com isso”. Sendo assim, “Ana Bolena é a mulher que vai tornar possíveis todas as ambições de seu pai e ajudar sua família em geral”, complementa a historiadora. Essa parte do enredo, por sua vez, é apresentada no segundo capítulo da série, intitulado “Desejo”.

Rafaëlle Cohen como Ana Bolena.

“The Boleyns” documenta a ascensão da família, mas também apresenta seu rápido declínio, quando os rumores da infidelidade da rainha (que eram falsos, conforme observou Paranque) levaram à sua execução em 19 de maio de 1536. “É bastante doloroso como foi rápido”, disse a historiadora para a Vanity Fair. Ana Bolena foi acusada de trair o rei com cinco homens, incluindo seu próprio irmão, George, que também fora decapitado. O telespectador terá contato com esses fatos no último capítulo da produção, “A Queda”. Atualmente, a historiografia comprova que a esposa do rei tinha um álibi para, pelo menos, 90% das acusações de traição, adultério e incesto levantadas contra ela. Mas, como sua existência se tornou um empecilho para as pretensões dinásticas de Henrique VIII, ela teve que ser cruelmente sacrificada para que o monarca ficasse novamente livre para se casar. Paranque esclareceu para a revista que seu interesse original no início do período moderno veio depois de visitar os castelos reais da França quando era mais jovem, e mencionou o fato de que as pessoas ainda podem visitar a Torre de Londres, onde Ana Bolena morreu. Isso tudo ajudou a aumentar a mística em torno da personagem. “Há tantos mitos e lendas sobre ela”, acrescentou. “Como essa mulher conseguiu convencer o rei a se casar consigo, quando ela não tinha nenhum precedente e pouco para trazer como dote?” 

Confira abaixo o teaser de “The Boleyns: A Scandalous Family”:

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