Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Elisabeth da Áustria, mais conhecida pelo apelido de “Sissi” (graças à famosa trilogia dos anos 1950, protagonizada pela atriz Romy Schneider), entrou para a história como o expoente máximo da bela soberana, cuja trajetória fora marcada pelo signo da tragédia. Vítima de distúrbios alimentares e depressão, acentuada pela xenofobia da corte vienense, pelo assassinato do cunhado e pelo suposto suicídio de seu filho e herdeiro, a esposa do imperador Francisco José da Áustria encontrou seu triste fim através da lâmina afiada de um estilete, empunhado por um anarquista italiano em 10 de setembro de 1898, em Genebra. A partir de então, sua vida se tornou elemento de romantização para diversos autores e roteiristas, que mitificaram a figura da imperatriz cujo derradeiro brilho coincidiu com o declínio da dinastia dos Habsburgo na Áustria. Agora, a Netflix está para lançar uma série focada inteiramente na história de Elisabeth, protagonizada pela atriz turco-germânica Devrim Lingnau, com data de estreia fixada para o dia 29 de setembro de 2022.
Intitulada “The Empress”, a série foi escrita por Katharina Eyssen e se baseia nos anos iniciais do casamento da jovem princesa com o imperador da Áustria, interpretado pelo ator Philip Froissant. O roteiro, por sua vez, foi composto em co-autoria por Bernd Lange, Janna Maria Nandzik e Lena Stahl. Já a direção, ficou ao encargo de Florian Cossen e Katrin Gebbe. Segundo a sinopse oficial liberada pelo streaming:
Quando a rebelde Elisabeth conheceu Franz, o imperador da Áustria, o amor inebriante do jovem casal perturbou completamente a estrutura de poder na corte vienense.
Após o casamento, a jovem imperatriz não só tem que se afirmar contra sua sogra faminta de poder, Sophie, mas também contra o irmão de Franz, Maxi, que anseia pelo trono (e por Sissi).
Quando as tropas inimigas se formam nas fronteiras do Império Habsburgo, o povo de Viena se levanta em protesto contra o imperador. Elisabeth deve descobrir em quem pode confiar e qual é o preço para provar que é a verdadeira imperatriz e o farol de esperança para o povo.
Conforme se pode compreender, o roteiro vai investir na velha fórmula da jovem bela e atraente, apaixonado por um rei, desejada pelo cunhado e hostilizada pela própria sogra. Nesse caso, o telespectador deve tomar cuidado com as possíveis licenças poéticas do enredo, para não acabar tomando a ficção como fato, algo que já aconteceu (e continua acontecendo) com outros dramas baseados na história, tais como “The Crown” e “Reign”.
Com efeito, produções como “The Empress” têm por objetivo conquistar não apenas o público interessado (aquele que conhece a história da imperatriz Elisabeth), mas principalmente o público leigo, que terá contato com a personagem pela primeira vez. Olhando por esse ângulo, a produção pode ser uma interessante porta de entrada para o reino da história. Porém, em nenhum momento seu discurso deve ser tomado como verídico e sim como algo verossímil. Em outras palavras, não aquilo que de fato aconteceu, mas o que poderia ter acontecido, com base no que se sabe acerca da vida da soberana. Os produtores certamente vão exagerar nas tintas, acentuando as divergências entre a imperatriz e a arquiduquesa-mãe, assim como inventar um sentimento de amor romântico do arquiduque Maximiliano (futuro imperador por México) pela esposa de seu irmão. Tudo isso tendo como pano de fundo um universo de conspirações palacianas e um império à beira do colapso, que talvez só a nova esposa do imperador seja capaz de salvar.
Todavia, o casamento de Sissi como Franz teve pouco dos elementos dos contos de fadas que os romancistas criaram. Levada ao matrimônio quando ainda era uma adolescente, Elisabeth teve pouca participação no acordo entre os Wittlesbach e os Habsburgo, no qual ela era o elemento de troca. Sua função nesse tipo de consórcio era, antes de mais nada, gerar herdeiros para o trono e assim assegurar a perpetuidade da dinastia. Ela teve pouca ou quase nenhuma participação no processo de educação dos filhos e nunca se adaptou completamente ao cerimonial da corte de Viena. Sua natureza introspectiva preferia retiros mais informais, razão pela qual muitas vezes ela se ausentava dos Palácios de Schönbrunn ou Hofburg, para o mais confortável Laxenburg ou então para a Hungria, onde sempre foi bem recebida pela população, diferentemente da Áustria. Tendo desenvolvido uma série de complexos com relação à sua aparência e peso, Sissi chegou a manifestar sinais de depressão e anorexia, quadro que piorou após a morte de seus familiares.
Como lenitivo para seus problemas mentais e físicos, a imperatriz fez várias viagens pelo continente europeu em busca de tratamento. Ela chegou a visitar locais como a Ilha da Madeira, a Grécia e se encontrou com algumas das maiores personalidades de seu tempo, a exemplo da rainha Vitória e Eugénia de Montijo, imperatriz dos Franceses. Infelizmente, esse e outros detalhes não devem ser tão explorados pela série, para (novamente) darem lugar a uma versão mais açucarada da trama. De acordo com um comunicado emitido pela própria Netflix:
Por quase 200 anos, fãs e públicos em todo o mundo ficaram fascinados por Elisabeth; por sua paixão, sua beleza e seu estilo de vida inconformista. Nesta série de seis partes, a Netflix nos dá um vislumbre da turbulência interna de uma jovem muito à frente de seu tempo, disputando contra tradições e convenções estatais e brigando por sua individualidade e liberdade. A história de amor real de Elisabeth (Devrim Lingnau) e o jovem governante Franz (Philip Froissant) é única. É uma história de dois jovens, lutando com suas próprias dúvidas pessoais, desejos e conflitos internos, enquanto o peso de um império inteiro repousa sobre seus ombros.
O que a produtora desconsidera, porém, é que Francisco José teve ao longo da vida mais de uma amante, na medida em que sua esposa se afastava cada vez mais da corte. Dizem que uma delas fora escolhida com a aprovação da própria Sissi, pois assim ela ficaria livre de suas obrigações no leito conjugal. Segundo Katharina Eyssen: “O que me atraiu em Sissi inicialmente foi toda a família desordenada, suculenta e disfuncional ao seu redor. As pessoas tendem a pensar que ela era a louca quando, na verdade, era o sistema e a dinâmica em torno dela que era insana”. Em seguida, a roteirista afirma: “Eu amo histórias de família. Eu amo tragédias familiares shakespearianas. Eu vi o potencial na famosa família real dos Habsburgo”.
Ao todo, “The Empress” contará com seis episódios, que possivelmente serão lançados de uma só vez na plataforma de streaming. O trailer oficial foi divulgado no último dia 17 de agosto, com o seguinte slogan: “Amor avassalador, um trono e um reino inteiro que a admira. Mas o caminho de Elisabeth (Devrim Lingnau) não é nada fácil, pois ela deve lutar para chegar a Franz (Philip Froissant) através de intrigas, etiqueta e tabus. A Imperatriz começa seu reinado em 29 de setembro apenas na Netflix.” Confira abaixo:
Fontes: Web News Observer e Whats on Netflix – Acesso em 24 de Agosto de 2022
Que venha a série o mais depressa possível, para nos salvar desta televisão que está uma porcaria!
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