As herdeiras de Mary da Escócia: a ancestralidade Stuart de Elizabeth II e da Princesa Diana!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

2022 é um ano muito importante para a monarquia britânica. Afinal, a rainha Elizabeth II se tornou a primeira monarca em seu reino a comemorar um Jubileu de Platina. Por outro lado, a passagem deste período também evoca uma das memórias mais tristes para a comunidade britânica e o mundo: no dia 31 de agosto, completa-se 1/4 de século do trágico acidente que ceifou precocemente a vida da princesa Diana, em 1997. Ao longo das décadas, a mídia sempre procurou focar nas supostas diferenças entre as duas mulheres, em vez de valorizar aquilo que elas tinham em comum: seu senso de dever, seu amor pelo país, a capacidade de renunciar a suas vontades pessoais em prol de um ideal e, principalmente, sua ancestralidade. Tanto a rainha quanto a princesa de Gales descendem de uma das figuras mais célebres da história: Mary Stuart, rainha da Escócia. Através do filho de Mary, o rei James I da Inglaterra e VI da Escócia, a linhagem Stuart se ramificou entre as principais casas aristocráticas da Grã-Bretanha, como os Spencer, e do continente europeu, como os Hanôver e outras dinastias. Atualmente, muitos monarcas e príncipes podem retraçar sua linhagem até a trágica rainha dos escoceses, que foi decapitada em 8 de fevereiro de 1587, mas que conseguiu deixar uma vasta gama de descendentes, através dos seus muitos netos e netas.

Conforme exposto no parágrafo anterior, a rainha Elizabeth II é uma descendente direta de Mary Stuart, de quem, pode-se afirmar, provém seu direito ancestral para reinar. Após a morte da rainha Elizabeth I em 1603, a Dinastia Tudor terminou, uma vez que a monarca havia falecido sem herdeiros nascidos de seu corpo. Para assumir o trono, foi convocado o filho de Mary, James VI da Escócia, cuja reivindicação da mãe ao trono inglês lhe garantiu mais uma Coroa, ascendendo como James I da Inglaterra. Como Mary era bisneta do rei Henrique VII da Inglaterra, fundador da Dinastia Tudor (cuja filha, Margaret, se casou com o rei James IV da Escócia), os Stuart tinham, portanto, direitos incontestáveis ao trono inglês. A dinastia, por sua vez, se manteve no poder até o falecimento da rainha Anne da Grã-Bretanha, em 1714 (também sem filhos). O trono então passou para seu primo George, Eleitor de Hanôver (bisneto de James I), dando assim início à Casa de Hanôver no então recém-formado Reino Unido da Inglaterra, Irlanda, Escócia e País de Gales. A última representante dessa Dinastia foi a rainha Vitória, falecida em 1901. Seu filho e sucessor, Edward VII, que reinou até o ano de 1910, alterou o nome da família real para Saxe-Coburgo-Gota, em deferência ao seu falecido pai, o príncipe Albert. Isso mudou em 1917, quando o rei George V (avô de Elizabeth II), preocupado com o futuro da monarquia, resolveu fundar a Casa de Windsor.

Mary Stuart, por artista desconhecido (séc. XVII) e Elizabeth II, por Leonard Bowen (1974).

A linhagem passou de Mary Stuart para Elizabeth II da seguinte forma:

Mary Stuart

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James VI e I

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Isabel da Boêmia

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Sofia de Hanôver

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George I

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George II

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Frederico, Príncipe de Gales

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George III

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Edward, duque de Kent

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Rainha Vitória

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Edward VII

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George V

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George VI

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Elizabeth II

Em 24 de março de 1603, a rainha Elizabeth I falecia aos 69 anos. Seu reinado, que durou mais de quatro décadas, coincidiu com uma das fases mais importantes da história inglesa: as artes e a literatura floresceram sob os auspícios da soberana, a marinha ganhara força graças à destreza dos corsários de Sua Majestade, conquistando para a Coroa uma colônia na América do Norte, e a Igreja Anglicana se estabelecera em bases mais sólidas. Ao morrer, a primeira Elizabeth deixava um Estado mais fortalecido, porém com uma classe política cada vez mais autônoma com relação ao trono. Isso teria consequências mais drásticas quarenta anos depois, quando uma Revolução levada à cabo por membros do Parlamento executou o rei Charles I, neto de Mary Stuart. Assim como sua avó, Charles fora decapitado, provando para a população que o sangue dos reis era tão vermelho quanto o do mais singelo dos mortais. Por um curtíssimo período, de 1649 a 1660, a Inglaterra passou de Monarquia à República, para em seguida regressar ao regime monárquico com a restauração Stuart, tendo o rei Charles II no poder. Embora casado com a princesa portuguesa Catarina de Bragança, Charles não tivera filhos legítimos nascidos do casamento com sua esposa. Por outro lado, fora pai de pelo menos 13 filhos bastardos com 7 amantes diferentes. Entre eles, estão Henry Fitzroy e Charles Lennox, ancestrais da princesa Diana de Gales.

A princesa Diana vestida como Mary Stuart para uma festa à fantasia dada no final dos anos 1980 ou no início dos anos 1990.

A linhagem de Mary Stuart passou para a princesa Diana por meio de Henry Fitzroy (filho de Charles II com sua amante, Barbara Villiers) da seguinte forma:

Mary Stuart

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James VI e I

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Charles I

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Charles II

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Henry Fitzroy

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Charles Fitzroy

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Isabella Fitzroy

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Hugh Seymour-Conway

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Sir Horace Beauchamp Seymour

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Adelaide Horatia Elizabeth Seymour

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Charles Robert Spencer

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Albert Edward John Spencer

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Edward John Spencer

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Princesa Diana

Como se pode observar através da árvore genealógica da princesa Diana, a descendência bastarda do rei Charles II da Inglaterra contraiu casamentos com importantes famílias do Reino Unido, incluindo os Spencer. Embora não fossem membros da realeza e só tenham sido elevados ao status nobiliárquico de conde no século XVIII, os Spencer já viviam na Inglaterra há 250 anos antes de George, Eleitor de Hanôver (ancestral de Elizabeth II), assumir o trono como George I. Não obstante, por meio dos casamentos, eles se misturaram com outras famílias aristocráticas de muito prestígio, como os Cavendish, os Seymour e os Churchill, cujo membro mais famoso fora Winston, Primeiro-Ministro na época em que Elizabeth herdou a coroa de seu pai. Podemos também retraçar o parentesco entre ambas por outras vias, uma vez que as duas também descendem de Maria Bolena, irmã de outra famosa rainha decapitada no século XVI, Ana, mãe da primeira Elizabeth. A pesquisa com a genealogia da princesa Diana, por sua vez, ajuda a desconstruir a falácia muito difundida na década de 1980 de que ela era uma plebeia, quando na verdade sua família possuía ancestralidade Stuart, Tudor e Plantageneta. Três das dinastias de reis mais poderosos da Inglaterra.

Bibliografia Consultada:

DIMBLEBY, Jonathan. O príncipe de Gales. Tradução de Vera Dias de Andrade Renoldi. São Paulo: Editora Best Seller, 1994.

HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.

MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.

MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2002.

MORTON, Andrew: Diana – sua verdadeira história em suas próprias palavras. Tradução de A. B. Pinheiros de Lemos e Lourdes Sette. 2ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.

Um comentário sobre “As herdeiras de Mary da Escócia: a ancestralidade Stuart de Elizabeth II e da Princesa Diana!

  1. Adoro ler suas Histórias (sim, com H maiúsculo). Aprendo muito com você, jovem Renato. Continue trazendo para nós, seus leitores, esses artigos maravilhosos. Muito grata.

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