Dona Leopoldina: uma imperatriz educada para governar!

Por: Rebeka Bandeira Rodrigues¹

No dia 22 de janeiro de 1797, em Viena, nasceu ‘‘Sua Alteza Imperial Arquiduquesa Leopoldina’’. O casamento entre Francisco I da Áustria e Maria Tereza das Duas Sicília se mostrou extremante fértil, somava-se no total de doze herdeiros para Casa de Habsburgo.

A infância e a juventude de Leopoldina transcorreram durante um contexto político marcado pela instabilidade das guerras napoleônicas. Embora houvesse fortes tentativas de proteger os infantes dos conflitos externos, os golpes de Napoleão dirigidos a família geravam um ambiente de constante receio. No entanto, é possível dizer que Leopoldina nasceu no seio de uma família bastante unida e que conseguia manter a felicidade nos espaços privados.

Arquiduquesa Maria Leopoldina, por Friedrich Johann Gottlieb Lieder.

Em uma conjuntura histórica de diversas mudanças, era imprescindível manter o processo de formação educacional dos infantes. Na Dinastia dos Habsburgo, o desenvolvimento educacional era um constate preocupação, visto como um pilar fundamental para moldar um bom governante. Dessa forma, no pensamento Imperador Leopoldo II, avô paterno de Leopoldina:

Hoje em dia, quando um dos nossos herda o trono, já não se trata, como outrora, de uma propriedade devidamente adquirida – mas sim de um cargo, de uma pesada incumbência e é preciso quebrar-se a cabeça para reinar tanto quanto possível de acordo com os desejos dos seus súditos […] É preciso começar estudando cabalmente o caráter das crianças, formá-las segundo as suas tendências […] (Oberacker Jr, 1793, p.12-13).

A educação formal de Leopoldina começou ao completar seis anos de idade. As instruções aplicadas às arquiduquesas da Casa de Habsburgo deveriam seguir os princípios da diretriz imperial. Sob esse viés, a principal função reservada ‘‘[…] às mulheres da família era o de serem protagonistas da política de casamentos dinásticos […]’’ (MENCK, 2017, p. 22). Os casamentos arranjados visavam as vantagens políticas, econômicas e militares, o melhor pretendente era escolhido pelo imperador e pelos membros de seu conselho pessoal. Cabia a Leopoldina e a suas irmãs servirem aos interesses da sua dinastia, aceitando seus destinos sem manifestar qualquer oposição.

Posto que, entre os princípios essenciais da diretriz imperial, é indispensável ‘‘o respeito quase religioso para com a vontade dos pais e, de mormente, a do pai-Imperador, cuja vontade era em todas as questões familiares e políticas a suprema lei, constituía o fundamento da educação […]’’ (MENCK, 2017, p. 20).

Contudo, para conseguir um casamento vantajoso seria necessário que Leopoldina e suas irmãs obtivessem um amplo conhecimento. Desde de cedo, as arquiduquesas deveriam aprender os conteúdos dos Tratados de Conduta que envolviam os manuais de etiquetas e boas maneiras. Em geral, eram regras que direcionavam as atitudes, hábitos, valores e crenças apropriadas às diferentes situações da vida. Da mesma forma, as preparava para se tornarem esposas adequadas – obedientes aos maridos – e boas mães ‘‘Convém notar que, sempre governadas e vigiadas, as princesas dificilmente poderiam desenvolver um sentimento de independência, autonomia e vontade própria’’ (Oberacker Jr, 1793, p.14).

Arquiduquesa Maria Leopoldina (retrato na Biblioteca Nacional da Áustria).

É através uma tragédia e um novo casamento que Leopoldina conhece a mulher que mais exerceria influencia na sua formação. Em 13 de abril de 1807, a imperatriz Maria Tereza veio a falecer devido as complicações no parto de sua última filha. Após cumprir o período de luto, Francisco I decide se casar novamente e a escolhida foi Maria Ludovica de Habsburgo-Este. A nova imperatriz pertencia a uma das famílias mais antigas e prestigiosas da nobreza italiana, possuía um refinado gosto cultural, paixão pela política e devoção ao cristianismo (CASSOTTI, 2018, p. 30-31). Não podendo gerar filhos próprios, Maria Ludovica se dedicaria em educar os filhos do marido. Nesse sentindo, se mostraria bem exigente, em uma carta enviada a Francisco I é destacado o interesse da madrasta em remodelar o caráter de Leopoldina

É possível que a madrasta já houvesse sido testemunha de cenas nas quais essa enteada um tanto mimada se deixava levar por breves, mas intensos ataques de fúria. Depois de lhe aplicar certos corretivos […] Leopoldina havia se tornado mais sensata […], mas precisa ser corrigida sempre com severidade (CASSOTTI, 2018, p. 33).

Maria Ludovica foi responsável por intensificar a formação educacional de Leopoldina. A imperatriz havia planejado um programa de estudos que levava em consideração, especialmente, as tradições da Casa dos Habsburgos e os dogmas católicos. Também, escolheu uma nova preceptora, a condessa de Uldarike von Lazansky – uma mulher conhecida por seu caráter rígido. A partir desse momento, Leopoldina dispunha de um regime de estudos severos e com horários estritos. Nos dias da semana deveria executar a seguinte rotina: se levantar às 7h30, se assear, ir à missa, ter um breve café da manhã e às 9h dava início as aulas (CASSOTTI, 2018, p. 49). De acordo com uma carta de Maria Luísa, Leopoldina é criticada por sua tendência a preguiça e apresenta dificuldades em acompanhar os horários.

Em relação aos conteúdos abordados nas aulas, é possível dizer que abrangiam as mais diversas disciplinas. Assim, Leopoldina aprendia história, literatura, música matemática, física, desenho, caligrafia e línguas – esse último de extrema importância na diplomacia da época. Contudo, entre os ensinamentos, é preciso destacar as aulas de botânica, geologia e religião. Na realidade, desde cedo as duas primeiras se revelaram a paixão de arquiduquesa. No caso da última, é necessário dizer que Leopoldina recebeu uma intensa formação religiosa. O fator religioso geralmente era associado aos princípios de dever e virtude, ‘‘pensando sempre no encargo que a Divina Providência lhe entregou: bem gerir seus povos, visando sempre seu bem-estar e felicidade’’ (MENCK, 2017, p. 23).

Arquiduquesa Leopoldina, por Isabey

De todo modo, a preparação de Leopoldina durante a infância e a juventude seria aproveitado com êxito no futuro. No momento oportuno ela entenderia as palavras de Leopoldo II: governar não significava somente adquirir um título ou uma propriedade, mas sim estar devidamente apto para atender os desejos de seu povo. Além disso, por mais que esperassem que Leopoldina servisse apenas como submissa e apoiadora de seu marido, ela revelaria um certo talento natural para o poder. Não por acaso, ficaria conhecida como a imperatriz que conseguiu a independência do Brasil.

Nota:

¹Graduanda do curso de História na Universidade Federal Fluminense. E-mail para contato: rebekabanrod@gmail.com

Referências Bibliográficas:

ALVES, Glaúcia; BECKER, Elsbeth. Manuais de etiqueta e sua importância na formação das mulheres. Acta Scientiarum: Human and Social Sciences, Rio Grande do Sul, v. 41, julho – outubro, 2017.

CASSOTTI, Marsilio. A biografia íntima de Leopoldina. 4 ª ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2018.

Menck, José Theodoro Mascarenha. D. Leopoldina, Imperatriz e Maria do Brasil: obra comemorativa dos 200 anos da vinda de D. Leopoldina para o Brasil. Brasília: Edições Câmara, 2017.

3 comentários sobre “Dona Leopoldina: uma imperatriz educada para governar!

  1. Maria Leopoldina foi, sem dúvida, de grande importância para o Brasil. Folgo em saber que está sendo objeto de pesquisa e publicação acadêmica. Adoro ler sobre o Brasil Império e não é à toa que moro em Petrópolis.

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