Barra de chocolates de 120 anos, comissionada pela rainha Vitória, é encontrada na Austrália!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Na Austrália, os conservadores da Biblioteca Nacional encontraram algo que pode ser considerado a caixa de chocolates mais antiga do mundo descoberta até então. O artefato, por sua vez, remonta há pelos menos 120 anos e data do período da Guerra dos Bôeres. O mais incrível nisso tudo é que, apesar da idade, os doces permaneceram intactos e aparentemente bons o suficiente para serem consumidos. A barra de chocolate, guardada dentro de uma lata estampada com a foto do rosto da rainha Vitória, foi achada no fundo de uma caixa de papeis pessoais, pertencente ao poeta australiano Andrew Barton “Banjo” Paterson. Com uma espessura de seis dedos, a barra ainda continha resquícios da antiga embalagem de palha e de papel alumínio. “Havia um cheiro bastante interessante quando eles foram desembrulhados”, disse a conservadora da Biblioteca Nacional da Austrália (NLA), Jennifer Todd. “[Era] uma lata velha de chocolates, do Banjo, com os chocolates ainda embrulhados na caixa”.

O logotipo centenário da Cadbury ainda está pressionado no chocolate.

Com efeito, a descoberta surpreendeu a todos os membros da equipe de conservação da Biblioteca, uma vez que eles não esperavam encontrar uma caixa de doces entre os papeis contendo poesias, diários pessoais e recortes de jornal de Banjo. Até agora, não existe qualquer explicação plausível para o fato de o poeta não ter comido os chocolates, ou o motivo dele ao ter guardado. Segundo as pesquisas apontam, os doces foram comissionados pela própria rainha Vitória no tempo da Guerra dos Bôeres, durante a virada do século, como uma espécie de agrado para os soldados que estavam lutando no conflito. A lata contendo a barra de chocolates é adornada com a face da rainha, incluindo os dizeres: “África do Sul, 1900” e “Desejo-lhe um feliz ano novo, Victoria RI”. Embora fossem destinadas às tropas, as latas comemorativas logo se tornaram objeto de disputa no comércio do fronte, conforme escreveu o soldado canadense Private C. Jackson, em dezembro de 1899.

Os chocolates foram enviados em uma lata gravada com a imagem da Rainha Vitória.

De acordo com a Cadbury UK para a ABC, o palácio de Buckingham teria encomendado inicialmente de 70.000 a 80.000 latas de cacau em 1899, que deveriam ser pagas com a bolsa particular da rainha para as tropas na África do Sul. Em um memorando interino da Cadbury Brothers consta que “o cacau deve ser transformado em uma pasta e adoçado, pronto para uso nas condições ásperas da vida no campo – as latas devem ser especialmente feitas e decoradas”. Porém, os proprietários da Cadbury Brothers eram pacifistas e não aprovavam a Guerra dos Bôeres, de modo que não desejavam ver o nome de sua empresa envolvido no conflito. Posteriormente, foi feito uma alteração no pedido: em vez de latas de cacau, eles deveriam produzir barras de chocolates. Mas a Cadbury se recusou a estampar sua marca na lata, ou mesmo na barra contida dentro dela. Foi a própria rainha Vitória quem colocou um fim nessa disputa, ao exigir chocolate britânico de “boa qualidade” para os seus soldados.

O Palácio de Buckingham encomendou os chocolates da bolsa particular da Rainha Vitória.

“Acabo de receber uma caixa de chocolate, um presente de Sua Majestade aos soldados sul-africanos… existe uma grande demanda por eles por parte dos oficiais e de todos os outros, como lembranças”, escreveu Private C. Jackson. “Na verdade, me ofereceram cinco libras pelas minhas, e no Cabo até 10 libras estão sendo pagas”. O poeta Banjo Peterson, por sua vez, havia embarcado para a África do Sul em outubro de 1899, como correspondente de guerra para o jornal Sydney Morning Herald e The Age. Um ano depois, ele retornava à Austrália, trazendo consigo a lata de chocolates. Especula-se que ele a tenha adquirido de um dos soldados que estavam de serviço e depois a levou para casa, onde ela estaria mais preservada do calor sul-africano. Considerado o fato de que o chocolate sobreviveu por 120 anos e sem deterioração, então só podemos supor que a Cadbury Brothers atendeu com eficiência ao pedido da rainha.

A diretora-geral da NLA, Marie-Louise Ayres, diz que o projeto foi financiado por crowdfunding.

A lata de chocolates, juntamente com os recortes de jornal da época em que Banjo foi correspondente de guerra, foi mantida pelo poeta até o ano de sua morte, em 1941. Em seguida, seus pertences foram passados de geração para geração entre os membros de sua família até serem adquiridas pela NLA, no ano passado. Atualmente, a Biblioteca está empenhada na preservação dos documentos, digitalizando fotos e textos para depois compartilha-los com o restante do mundo. O projeto “The Banjo” (como foi batizado), vem sendo financiado através de crowdfunding. A diretora do NLA, Marie-Louise Ayres, disse que a biblioteca levantou facilmente os US$ 150.000 para fins de catalogação e preservação da coleção. “Todos os anos, perguntamos a cada membro do público se eles gostariam de contribuir para um projeto”, disse a Dra. Ayres. “Os papéis de Banjo Paterson são uma coleção tão icônica, que tínhamos certeza de que quando saíssemos para o público e pedíssemos ajuda, eles nos dariam – e deram”.

Com efeito, outros tesouros encontrado na coleção de Banjo Paterson incluem uma versão inicial de “Waltzing Matilda” e um grande retrato em gelatina de prata, posteriormente reproduzido na nota australiana de US$ 10. Infelizmente, a fotografia rasgou e foi danificada pela água infiltrada na casa da família – e certamente estava em pior estado do que os chocolates. A coleção de Banjo Paterson estará disponível para visualização online assim que o projeto for concluído. Por enquanto, a lata de chocolates com o rosto da rainha Vitória permanecerá armazenada na Biblioteca Nacional da Austrália com segurança e em um local fresco e seco.

Fonte: ABC News – Acesso em 23 de Dezembro de 2020

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