Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Em 23 de dezembro de 1985, o príncipe Charles e a princesa Diana compareceram a um evento na Royal Opera House, organizado especialmente para os Amigos do Convent Garden. Todos os anos, o estabelecimento promovia uma noite só para VIPs e patronos especiais, com performances de paródias e esquetes. No palco, astros do balé podiam aparecer cantando, enquanto os cantores é que apareciam em trajes de balé. Era comum também a apresentação de um número surpresa ao final do show, com a participação de alguma celebridade convidada. Contudo, ninguém esperava que naquela noite um membro da realeza tomasse parte no espetáculo. Tradicionalmente, os integrantes da família real compareciam ao evento apenas para assisti-lo de seu camarote privado. Assim sendo, foi um choque e tanto quando a própria princesa de Gales apareceu diante da plateia, usando um vestido de cetim branco que desenhada as curvas de seu corpo, dançando ao lado do bailarino Wayne Sleep ao som de “Uptown Girl”, música de sucesso do cantor americano Billy Joel.

A princesa Diana e Wayne Sleep depois de uma performance do dançarino no Teatro Sadler’s Wells.

Diana entrando no palco do Convent Garden ao som de “Uptown Girl”.
Lançada em 1983, “Uptown Girl” foi um dos maiores sucessos da década, chegando ao primeiro lugar na lista de canções mais executadas no Reino Unido. A letra fala de uma garota da classe alta, vivendo em um mundo elegante e que só andava acompanhada de homens ricos. Na sequência, o intérprete confessa a sua paixão por ela e a vontade de conquista-la, apesar de não pertencer ao mesmo círculo social. A princesa Diana abordou o dançarino Wayne Sleep, membro do Royal Ballet, sobre a possibilidade de fazerem esse número juntos. Quando adolescente, a dança era uma de suas paixões favoritas. Seu sonho era se tornar uma bailarina profissional e ela chegou a frequentar algumas aulas. Fotos suas usando um collant preto e sapatilhas, ensaiando um frappé nos jardins de Althorp, foram depois publicadas na sua biografia escrita por Andrew Morton. Mas, como Diana acabou ficando muito alta, viu-se forçada a abandonar sua grande aspiração e começou a treinar sapateado no salão de mármore da mansão de sua família. Depois de casada, ela foi uma importante patrocinadora do Ballet Nacional.
A apresentação de “Uptown Girl” deveria ser uma surpresa de natal para o príncipe Charles. Naquela época, Diana estava mais confiante consigo e com seu corpo. Em novembro de 1985, ela deixou todos os convidados da Casa Branca hipnotizados ao vê-la dançando com John Travolta, como se fosse uma cena de “Os Embalos de Sábado à Noite”. Para sua apresentação com Sleep, eles ensaiaram arduamente às escondidas no palácio de Kensington, assim como no estúdio do famoso dançarino. “Anne Beckwith-Smith, uma das damas de companhia de Diana, também sabia disso”, recorda-se Sleep. “Eu acho que Anne estava realmente preocupada. Ela pensou: O que eles estavam fazendo lá? Berrando Billy Joel e rindo?“. Porém, havia o problema da diferença de altura entre o par. “Meu primeiro pensamento foi, ela é muito alta para dançar comigo, eu vou ser motivo de chacota: tenho um metro e sessenta e dois e ela tem um metro e setenta”, disse Wayne ao The Guardian em 2017. “Mas eu logo percebi que ela tinha um bom senso de humor e que poderíamos nos divertir um pouco com nossa diferença de altura”.

Emulando o videoclipe original da cação, o resultado foi uma dança de quase 3 minutos e meio, com Wayne Sleep tentando seduzir a sua parceira, enquanto ela o esnobava.

“Era quase como uma linha de refrão e uma linha de chute. Nossas pernas ficavam cada vez mais altas”, recorda-se Wayne Sleep.
No dia da apresentação, a princesa se retirou do balcão real – onde estivera sentada ao lado do príncipe Charles – dois números antes da atração final. Wayne entrou no palco fazendo seus saltos elaborados e, de repente, a princesa apareceu caminhando ao som dos versos “I bet she’s never had a backstreet guy/ I bet her momma never told her why”. Dançando um leve pas de deux com Sleep, Diana levou a plateia ao delírio. “Temi que ela não conseguisse se segurar sob as luzes”, recorda-se o dançarino. “Mas ela estava totalmente tomada. Não é todo mundo que aguenta uma exposição dessas diante de um público tão exclusivo naquele imenso palco do Convent Garden. Ela mostrou a sua qualidade natural de estrela”. Emulando o videoclipe original da cação, o resultado foi uma dança de quase 3 minutos e meio, com Wayne Sleep tentando seduzir a sua parceira, enquanto ela o esnobava. “Desmontamos a casa com humor porque eles não sabiam o que viria a seguir”, disse Sleep. “E no final, nos juntamos. Era quase como uma linha de refrão e uma linha de chute. Nossas pernas ficavam cada vez mais altas”.
Além dos chutes altos, a dança também tinha piruetas duplas, acompanhadas de uma combinação de movimentos de jazz com os quadris. “Ela não poderia ter dançado melhor”, disse Sleep para a revista Vulture. “Eu que era o nervoso! Eu estava tremendo nas asas. E se ela não gostar? E se eu deixar cair a futura rainha da Inglaterra?”. Mas Diana acertou todos os passos e foi ovacionada pela plateia em pé, precisando retornar ao palco oito vezes para receber mais aplausos. Em seguida, ela fez uma reverência para o camarote real. A única pessoa que permaneceu estática diante daquela apresentação foi o príncipe Charles, que aparentemente gostou nenhum pouco de ver a princesa dançando em trajes sensuais para uma audiência tão seleta. Quando Diana e Wayne Sleep se juntaram ao príncipe para uma pequena recepção depois da apresentação, ele demonstrou frieza e certa distância. A imprensa, por sua vez, interpretou a atitude de Charles como uma desaprovação à infração cometida pela esposa contra os códigos de conduta da etiqueta real. Afinal de contas, ela seria a futura rainha da Inglaterra!

“Eu que era o nervoso! Eu estava tremendo nas asas. E se ela não gostar? E se eu deixar cair a futura rainha da Inglaterra?”, relembra o dançarino.

Além dos chutes altos, a dança também tinha piruetas duplas, acompanhadas de uma combinação de movimentos de jazz com os quadris.
Futuramente, Diana reclamou da falta de compreensão de Charles, em seu depoimento para a biografia publicada em 1992 por Andrew Morton. “Meu marido começou a ficar com ciúme e muito ansioso na época, também. Dentro do sistema, eu era tratada de forma muito diferente, como se fosse uma esquisita, e eu me sentia esquisita”. Ela reclamava também da falta de incentivo do príncipe, ao dizer que “não havia elogios, eu ia a um jantar e ele dizia Ah, não vai usar esse vestido outra vez, ou algo parecido”. Diana confessou que esperava do marido que fosse uma figura paterna para ela, que tomasse conta de si, lhe dando apoio emocional e encorajamento, dizendo frases como “Muito bem” ou “Não, você pode melhorar”. Mas nada disso aconteceu. “Ele [o príncipe Charles] me ignora em todos os lugares. Ignorada em todos os lugares, e assim fui por muito tempo”, disse ela. No fundo, Diana acreditava que Charles tinha inveja da sua popularidade e descontava toda a sua frustração em cima dela. Na recepção pós-apresentação, Wayne Sleep se lembra de que o príncipe “estava com uma sobrancelha levantada, pode-se dizer. Não foi além disso na festa”.
Contudo, em público o príncipe de Gales se confessou “completamente maravilhado” com a performance de Diana. Wayne Sleep acredita que a razão para o desapontamento de Charles foi por ter sido mantido em completa ignorância sobre os planos de sua esposa. Apenas um ano antes, na mesma ocasião, ele e Diana haviam apresentado um esquete como Romeu e Julieta, com o príncipe cantando o jingle do anúncio “Dá-me um Cornetto”. Mas em 1985 a princesa decidiu se apresentar sem o marido. “Era o primeiro sinal de independência por parte dela, e o palácio ficou preocupado. Acho que eles pensavam que ela seria a loura burra, e de repente a coisa começou a aumentar”, afirmou Sleep. Infelizmente, nenhum vídeo foi gravado desta impactante apresentação. As fotos e os depoimentos são os únicos registros de que dispomos. Em 2017, Wayne retraçou os passos da dança para um programa da CBS, que é o mais próximo do que jamais chegaremos de uma gravação real do evento. “Ela amou a liberdade que a dança lhe deu”, disse o dançarino ao The Guardian. “Poucos dias depois, recebi uma carta. Ela escreveu: Agora entendo o burburinho que você sente ao se apresentar“.

“Temi que ela não conseguisse se segurar sob as luzes”, recorda-se Sleep. “Mas ela estava totalmente tomada”.

“Ela amou a liberdade que a dança lhe deu”, disse o dançarino ao The Guardian. “Poucos dias depois, recebi uma carta. Ela escreveu: Agora entendo o burburinho que você sente ao se apresentar“.
Referências Bibliográficas:
BROWN, Tina. Diana: crônicas íntimas. Tradução de Iva Sofia Gonçalves e Maria Inês Duque Estrada. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
GOLDBERG, Melissa. Yes, Princess Diana’s Surprise Performance to Billy Joel’s “Uptown Girl” Really Happened. 2020 – Acesso em 22 de dezembro de 2020.
MORTON, Andrew: Diana – sua verdadeira história em suas próprias palavras. Tradução de A. B. Pinheiros de Lemos e Lourdes Sette. 2ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.
Maravilhosa como sempre.
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Ela foi maravilhosa em tida em sua existência… ❤️
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Como sempre foi e eternamente será, Lady Diana é uma figura maravilhosa que deu ao mundo a graça de sua beleza, graciosidade e coragem de uma grande mulher, uma bela Princesa. 👏👏👏👏👏👏👏💖💖
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Diana. Inspiração total pra vida. Parabéns Diana❤️
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Esse “príncipe” orelhudo nunca mereceu essa LINDA E GRANDIOSA PRINCESA
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BEAUTIFUL DIANA …. CHARLES SHOULD BE VERY PROUD OF HER -NOT- JEALOUS….
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Lindos .Onde estiver estará feliz .
Nossa eterna Princesa.
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Diana a real Princesa de Gales, nasceu para brilhar, e o seu brilho e frescor juvenil jamais poderia se apagar pela força do tempo, ou pelo engessamento do poder dinastico. Por esta razão dormiu para sempre mantendo-se alheia a este estranho processo que é o da decomposição em vida.
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Linda e bela, uma grande mulher, com muita garra e luz própria.
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