Elizabeth I, imagens de um reinado: exposição recebe tela da famosa rainha inglesa!

Na primeira metade do século XVI, durante os reinados de Henrique VIII e seus herdeiros, eram principalmente a realeza, a nobreza e membros da corte que comissionavam retratos, fossem eles de reis, cenas religiosas ou de seus próprios patronos. Com o passar das décadas, após o estabelecimento do protestantismo na Inglaterra, mercadores, banqueiros, ourives, clérigos, advogados, escritores, músicos e suas famílias passaram também a entrar no mercado de comissão e produção de telas, na medida em que uma arte genuinamente inglesa, nascida a partir da fusão de elementos da arte medieval e da arte renascentista, se estabelecia no reino. O período elisabetano, por sua vez, demonstrou um crescente interesse em narrativas sobre a história do país, conforme demonstram as peças e textos literários produzidos nas últimas décadas do século XVI. Nesse contexto, sobressaem-se os muitos retratos representando a rainha Elizabeth I e a simbologia de poder e conhecimento que estes trazem de forma explícita ou velada.

O retrato mais antigo da rainha inglesa a apresenta-la de corpo inteiro foi pintado por volta de 1567. Elizabeth aparece com um vestido em veludo carmesim, ricamente decorado com pérolas e pedrarias, num cenário hoje bastante desgastado pela ação do tempo, embora ainda seja possível diagnosticar na pintura o trono no qual a rainha apoia seu braço, um símbolo de sua majestade e direito de governar. A tela em questão foi emprestada ao Yale Center for British Art (YCBA), onde permanecerá até o próximo mês de outubro, quando viajará ao Metropolitan Museum of Art, para uma exposição sobre a arte no período Tudor. Essa é a primeira vez que o retrato, emprestado de uma coleção particular, é exibido publicamente nos Estados Unidos. 

Ed Town, chefe de informações e acesso à coleção da YCBA e um dos responsáveis pela negociação do empréstimo da tela, disse que “estamos muito satisfeitos em compartilhar esta pintura incrível”, além de demonstrar contentamento pela oportunidade em poder “estudar o retrato, pois ele contém uma série de enigmas. Ainda restam perguntas sobre quando foi feito e quem o pintou”. Além dos detalhes apontados no parágrafo anterior, a tela apresenta outros aspectos curiosos, como o cravo vermelho que Elizabeth segura numa das mãos, considerado como o símbolo do amor. No painel atrás de si, ainda se pode observar o brasão inglês, pintado nas mesmas cores douradas com que costumava aparecer nos painéis do período Tudor.

Com efeito, o retrato em questão costuma ter sua autoria atribuída a George Gower (1540-1596), Durante o período elisabetano, tornou-se popular entre a nobreza e a gentry expor retratos de reis e rainhas em suas casas, especialmente em corredores e longas galerias como forma de demonstrar lealdade. Em alguns casos, os artistas pintavam aquilo que acreditavam que seus patronos queriam em vez de uma versão fidedigna do retratado. A composição e forma desses retratos, por sua vez, eram escolhidos pela pessoa que os comissionava, o que explica as significativas variações no traçado de muitas das telas que representavam reis e rainhas do passado.

O retrato de Elizabeth permaneceu desconhecido do público em geral por muitos anos, quando em 2007 foi leiloado pela Sotheby’s, em Londres. Alguns trabalhos de análise e conservação foram feitos na época, muito embora o quadro nunca tenha sido estudado com a tecnologia agora disponível em Yale, o que pode revelar ainda muitos mistérios envolvendo sua feitura. A pintura, que mede cerca de 6’5 “por 4’7”, será analisada com um scanner de macro-fluorescência de raios-x (MA-XRF), o que pode fornecer informações sobre sua composição elementar, expondo detalhes encobertos por danos e/ou sujeira, camuflada pelas camadas de tinta. Os curadores esperam que a análise completa do retrato ocorra até o mês de maio. 

Não obstante, Ed Town observou dois pontos interessantes que o escaneamento da tela pode revelar: uma cartela de ouro pendurada sob o brasão, que parece conter uma data, embora ilegível, e uma inscrição no canto inferior direito da pintura, que está riscada. Estamos esperando algumas revelações emocionantes”, disse Town, que está envolvido com a conservadora sênior da YCBA, Jessica David, num projeto de longo prazo sobre os retratos da era Tudor, tanto para coleção da YCBA, quanto em instituições e coleções particulares nos Estados Unidos e no exterior. Em Yale, a pintura está exposta entre um retrato de Robert Dudley, 1º conde de Leicester e favorito da rainha, pintado por volta de 1565, e um retrato de 1567 representando uma jovem desconhecida, cujo vestido vermelho tem uma grande semelhança com o do retrato de Elizabeth.

O retrato de corpo inteiro da rainha possui alguma relação com outro de seus retratos, exibido numa parede adjacente, que também foi um empréstimo de uma coleção particular e também atribuído a George Gower. Assim como seu vizinho, o retrato do busto de Elizabeth I data de 1567, mesma época em que a soberana estava negociando um possível casamento com o arquiduque da Áustria, Carlos II. Sabe-se que a rainha relutou bastante em ter seu retrato feito no início de seu reinado, marcado por conflitos políticos e religiosos, que balançaram a Inglaterra entre o catolicismo e o protestantismo. Os primeiros retratos dela são considerados por alguns estudiosos como monótonos e mal pintados. Nesse sentido, a tela de corpo inteiro da rainha e a outra, onde aparece seu busto, se constituem numa primeira tentativa de representar a soberana com maior vivacidade, cercada pelos símbolos de sua realeza. 

Fonte: Yale News – Acesso em 09 de janeiro de 2020.

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