Top de melhores leituras em 2019 pela Companhia das Letras

Por: Renato Drummond T. Neto

Mais um ano se encerra nas atividades do blog, abrindo, com isso, espaço para novos projetos, textos e diálogos com autores, assim como com os nossos leitores. 2019 trouxe consigo algumas parcerias muitos bacanas para o Rainhas Trágicas. Além de expandirmos nosso projeto para outros blogs, eventos, canais de rádio e televisão, também fizemos contatos e parceiras com ótimas editoras, a exemplo do grupo Companhia das Letras e alguns de seus muitos selos, como a Seguinte, a Suma e a Objetiva. Começando nosso roteiro de leituras viajando com Malala Yousafzai e sua incrível narrativa sobre a vida de outras garotas refugiadas espalhadas pelo mundo, revisitamos o universo de As Crônicas de Gelo e Fogo, embarcando em seguida na emocionante história de Gustav e Fritz e os horrores da Segunda Guerra Mundial, estacionando, por fim, no Brasil do século XX sob a ótica acurada e Bruno Carvalho e da prosa poética de Fernanda Montenegro. Abaixo, apresentamos sinopses de algumas das melhores leituras que fizemos neste ano pela Companhia das Letras. Confira nossas dicas:

Longe de Casa – Malala Yousafzai 

Após vencer o prêmio Nobel da paz em 2014, por seu ativismo contra o Talibã, em prol da educação das garotas, Malala Yousafzai se tornou uma das personalidades mais influentes do mundo contemporâneo. Viajando o mundo com o seu documentário, Malala, ela conheceu diversas garotas com histórias parecidas com a sua, que tiveram de abandonar seus sonhos, sua terra natal, para tentar a sorte num país estrangeiro, lutando contra preconceitos e acalentando o sonho de um dia voltar para casa. Todas essas experiências foram acrescentadas no livro Longe de Casa, publicado recentemente no Brasil pela editora Seguinte, que costura de forma emocionante e envolvente as desventuras de garotas como Zaynab e sua irmã, Sabreen, Muzoon, María, entre outras. Ao dar voz a essas refugiadas, Malala costura as histórias delas com a sua própria, oferecendo assim um testemunho contundente de como manter as esperanças em meio das adversidades.

As Crônicas de Gelo e Fogo – George R. R. Martin

A série Game Of Thrones chegou ao fim neste ano e, sob muitas reclamações, tivemos que nos despedir de personagens incríveis, como as três rainhas: Sansa, Daenerys e Cersei, que possivelmente foram inspiradas em personalidades reais da história. Contudo, os livros de As Crônica de Gelo e Fogo não foram totalmente publicados, de modo que ainda podemos esperar muito Fogo e Sangue nas páginas desse mundo fantástico que é a literatura. Aqui no Brasil, a editora Suma é a nova casa oficial da obra de George R. R. Martin e acabou de relançar o primeiro volume da saga, intitulado A Guerra Dos Tronos. Nele, somo introduzidos ao universo incomum dos sete reinos de Westeros, onde passeamos por cidades encantadas como Kings Landing, que é o palco de diversas maquinações e intrigas geradas em torno do famoso trono de ferro. A edição, com tradução de Jorge Candeias, acompanha os mapas do continente e uma breve introdução à história de cada casa reinante. Bom saber que existe um lugar onde mulheres fantásticas como a mãe dos dragões ainda continuam presentes.

Rondon: uma biografia – Larry Rother

Recebemos neste ano também o livro “Rondon”, biografia sobre um dos maiores exploradores da história mundial, Cândido Rondon, que teve uma vida extraordinária. Neste minucioso trabalho, o jornalista Larry Rohter revela para o leitor a amplitude de seu legado para o país e os povos indígenas. Em tempos de crise ambiental e desrespeito para com os povos nativos do país, relembrar a trajetória de Rondon se constitui num exercício contínuo em prol do entendimento da importância da diversidade cultural e regional do Brasil. A edição conta com um farto caderno ilustrado e tradução de Cássio de Arantes Leite. Foi publicada pela Objetiva, selo de não-ficção da Companhia das Letras, e possui 565 páginas de uma leitura extremamente agradável e conscienciosa.

O garoto que seguiu o pai para Auschwitz – Jeremy Dronfield

A maioria de nós costuma ser assombrado por memórias da Segunda Grande Guerra e do horror vivido por milhões de pessoas e seus familiares, vitimados num dos episódios mais sangrentos de nossa história. Em “O garoto que seguiu o pai para Auschwitz” o historiador e romancista Jeremy Dronfield, doutor em arqueologia, apresenta para nós a comovente saga de Gustav Kleinmann e de seu filho, Fritz, que foram capturados pelos nazista em Viena e enviados para Buchenwald, na Alemanha. De lá, Gustav recebe a notícia de que será transferido para Auschwitz, na Polônia e Fritz fará o possivel para não se separar de seu pai. Para compor essa emocionante narrativa, Jeremy se baseou no diário de Gustav e numa meticulosa pesquisa, feita em meio a arquivos, para apresentar ao leitor uma narrativa comovente sobre esperança, coragem, mas, principalmente, sobre o amor entre pai e filho. A edição sai pela editora Objetiva, com tradução de Cássio de Arantes Leite, impressa em papel pólen soft e com uma fonte bem agradável aos olhos do leitor.

Prólogo, Ato, Epílogo – Fernanda Montenegro

Depois de alguns anos de espera, a Companhia das Letras lançou a autobiografia da eterna musa da teledramaturgia brasileira. Se a história é um palco, Arlette Pinheiro da Silva, mais conhecida como Fernanda Montenegro, reinou soberana, dando vida e dramaticidade a papeis inesquecíveis e que marcaram a trajetória do teatro nacional. Aclamada tanto dentro quanto fora do país, em “Prólogo, ato, epílogo” a autora conta para nós, por meio de uma escrita leve e gostosa, um pouco de sua infância colorida, pincelada com tons híbridos de português e italiano, que se mesclam na alma dessa carioca da gema. Assim, ela deixa para a posteridade um importante registro não apenas de sua vida, mas também um louvor àqueles que contribuíram para que sua arte se tornasse colossal, emocionando os corações e invadindo os lares de muitos brasileiros. Tendo atravessado algumas das fases mais conturbadas da história política desse país ao longo de seus 90 anos, como a Era Vargas e o Regime Militar, Fernanda nos mostra que a arte se configura numa importante forma de resistência à ignorância e à opressão. Sem dúvidas, ela nos brinda com uma obra belíssima e que deveria ser lida por todas as idades e todos os sexos.

Dicionário da República: 51 textos críticos – Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling (Orgs.)

No ano em que se comemora os 130 da República do Brasil, a Companhia das Letras lança o “Dicionário da República”, obra organizada por ninguém menos que a historiadora e antropóloga Lília M. Schwarcz, também autora de “As Barbas do Imperador” (entre outras obras), em parceria com a historiadora e cientista política Heloisa M. Starling. O livro reúne 51 artigos que analisam criticamente nossa história republicana, abordando um recorte temporal que antecede a proclamação, partindo do período colonial, com os movimentos emancipacionistas, passando pela construção do pensamento republicano no primeiro e no segundo reinado, até o golpe de 1889 e seus desdobramentos no século XX e XXI. Entre os autores que assinam os capítulos do livro, podemos destacar nomes como o de João Fragoso, Marilena Chaui, José Murilo de Carvalho, Keila Grinberg, entre outros estudiosos de peso, que oferecem para o leitor um entendimento da história brasileira que transcende a divisão tradicional do nosso passado, tornando possível identificar a ideia da edificação dos pilares de um novo regime político mesmo quando ainda vigorava nessas terras o pacto colonial. Sem dúvidas, uma obra que deveria ser lida por todos dos amantes da história do Brasil, bem como um convite para aqueles que desconhecem o nosso histórico de lutas em busca de um modelo de governança que expressasse a vontade e soberania popular.

Cidade Porosa: dois séculos de História Cultural do Rio de Janeiro – Bruno Carvalho

Por quase 200 anos, o Rio de Janeiro foi o centro cultural e político no Brasil, onde músicos, artistas e escritores deram início a um projeto ousado: criar uma identidade artística para o país. Nesta “Cidade Porosa”, título do novo livro de Bruno Carvalho, os horrores do pós-escravidão e do preconceito racial são apresentados ao lado da miscelânea social provocada pela entrada maciça de imigrantes a partir da segunda metade do século XIX, tendo como pano de fundo um Estado em transição, marcado pela mudança de regime e pela introdução de novos ritmos e estilos de vida. A obra de Carvalho, publicada em 2019 pela editora Objetiva, um selo do grupo Companhia das Letras, com tradução de Daniel Estill, apresenta uma pesquisa bastante interessante que abarca quase dois séculos de história cultura, marcado pelo surgimento do rádio e do samba, a belle époque, e os conflitos e consequências advindos desse processo de transformação e progresso. O estilo narrativo do autor atrela os rigores da pesquisa acadêmica com um escrita fluida e de fácil acesso ao público em geral. Muito além da história do Rio de Janeiro, Bruno Carvalho, que é professor titular em Harvard, mostra uma face interessante do Brasil que ainda permanece presente no nosso cotidiano.

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