O Palácio do Sol: Luís XIV e a magnífica construção de Versalhes!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

De um modesto Pavilhão Real de Caça, localizado numa pequena vila do século XI, Versalhes se tornou o mais magnífico palácio da Europa. Sua construção durou quase todo o reinado de Luís XIV e reflete o poder e a grandeza do chamado Rei Sol. Entre os séculos XVII e XVIII, foi o cento do poder político da monarquia francesa, ocupando uma área equivalente a 12 campos de futebol americano e capaz de acomodar cerca de 20.000 pessoas. O palácio monumental, transformado em museu no século XIX, hoje é um símbolo tanto do antigo regime absolutista, como também da imortalidade da imagem do rei que ordenou a sua construção. Para demonstrar o processo de edificação de Versalhes, o Google Cultural Institute patrocinou a criação de um curta-metragem, de aproximadamente 8 minutos, que mostra detalhadamente a evolução do prédio em etapas: desde o reinado de Luís XIII, quando era apenas um Pavilhão Real de Caça, passando pelas transformações nos governos de outros soberanos, como Luís XIV, Luís XV, Luís XVI, Napoleão, entre outros, até a atual República Francesa. Confira:

Em 6 de maio de 1682, Luís XIV escreveu no seu diário: “nós finalmente tomamos posse de Versalhes”. Segundo a historiadora Veronica Buckley, “tomar posse de Versalhes” significava literalmente transferir a corte do castelo de Saint-Germain, então residência oficial do rei e na qual o próprio Luís havia nascido, para a outrora “casinha de cartas do meu pai”, lugar de festas rurais e fogos de artifício. A transformação do Palácio de Versalhes a partir de suas origens humildes em um escopo monumental foi impulsionado pelos grandes projetos de construção patrocinados por Louis XIV. Suas expansões iniciais foram elaboradas e supervisionados pelo arquiteto Louis Le Vau (1661-1678). Conforme o vídeo demonstra, os últimos anos trouxeram mais alargamentos, adições estruturais, reformas e remodelações. Curiosamente, as despesas inciais para o projeto de construção foram vistas como assunto privado para a dinastia Bourbon.

Dessa forma, o financiamento veio de receitas próprias do rei, incluindo lucros gerados a partir da Nova França (atual Canadá), que na época era considerada como uma propriedade privada de Luís e, portanto, isenta do controle parlamentar. No último dia do ano de 1679, Luís XIV escreveu o seguinte no seu diário:

Encorajado pela Paz de Nimegue, permiti que minhas despesas de construção dobrassem, ou quase. Aquele desmancha prazeres do Colbert não perdeu a oportunidade de protestar a respeito […] De qualquer modo, não foi tanto assim, embora eu admita que este ano gastei 4.886.000 libras em Versalhes. (Dezesseis anos atrás, Colbert fez um drama por causa de 500 mil escudos) (apud BUCKLEY, 2012, p. 270).

Percebendo as intenções de Luís XIV de transferir a corte de Paris para Versalhes, o ministro do rei, Colbert, tentou dissuadi-lo da questão. Afinal, em Paris havia o palácio do Louvre e o das Tulheiras, todos rejeitados por Luís. Havia também o belíssimo Palácio de Fontainebleu, localizado a cerca de 14 léguas da cidade. “Mas Fontainebleu já era perfeito e, obviamente, era criação de outra pessoa: a joia da Renascença de Francisco I” (BUCKLEY, 2012, p. 271). Sendo assim, Luís XVI precisa imprimir sua marca em outro edifício e o escolhido foi a “casinha de cartas do meu pai”.

Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes

Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes

As obras no Pavilhão Real de Caça começaram praticamente desde o início do reinado pessoal de Luís XIV, após a morte do cardeal Mazarin, em 1661. Contudo, só foi no final da década de 1670 que o rei decidiu mover sua corte pra lá, de modo que a escala de trabalho na reforma do prédio aumentou assombrosamente. Conforme diz Veronica Buckley, “anos antes de se tornar a construção do século, Versalhes era o campo de obras do século” (2012, p. 273). As despesas com a construção eram demasiado inflacionadas, em parte devido à falta de melhor planejamento, em parte devido ao impulso contínuo de Luís de demolir e modificar áreas do palácio. Para a maioria dos cerca de 22 mil operários, a jornada de trabalho começava às cinco da manhã e terminavam às sete da noite no verão. No inverno, iam das seis da manhã até às seis da noite. Domingos e dias santos eram guardados, embora algumas exceções fossem feitas pela igreja, uma vez que os feriados religiosos ocupavam quase metade do calendário francês. “Nós temos duas equipes de carpinteiros em Versalhes: uma trabalhando durante o dia e outra, à noite”, disse o ministro Colbert, que era supervisor geral da obra.

Para economizar (se é que podemos utilizar essa palavra), Luís XIV ordenou que os materiais utilizados para a construção fossem preferencialmente de origem francesa, incluindo até mesmo os espelhos usados dentro na famosa Galerie des Glaces (embora Veneza praticamente tivesse o monopólio sobre a produção de vidro no período). No entanto, quando sua versão opulenta foi exibida com sucesso pelos Bourbon, a propensão para o uso de materiais franceses não impediu que os custos astronômicos de renovação e manutenção do palácio real continuassem a subir. Por exemplo, a balaustrada de prata no interior do apartamento do rei poderia conter mais de uma tonelada de prata, que possivelmente custaria mais de 560.000 libras. Apesar disso, é muito difícil identificar o custo exato do edifício, dado os parâmetros variantes de construção, renovação e manutenção do mesmo. Porém, algumas estimativas modernas dizem que, no seu auge, os custos de manutenção para o palácio (incluindo logística e comida para a equipe) equivalia de 6 a 25 por cento de toda a receita do governo francês. Em moeda atual, os gastos com Versalhes ao longo dos anos teria chegado a 299 bilhões de dólares.

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Conforme mencionado pelo comentarista do vídeo, o Palácio de Versalhes foi o lar de um grande número de funcionários, devido ao fato de ser a corte dos governantes franceses da Dinastia de Bourbon. Foi também o lar de mais de 3.000 príncipes, cortesãos, ministros e seus agentes. Curiosamente, a configuração espacial dentro do palácio era determinada pela hierarquia do status social de seus moradores. Assim, os habitantes que viviam mais perto de aposentos do rei tinham uma posição mais vantajosa. Ao mesmo tempo, os monarcas Bourbon abrigavam nobres ‘problemáticos’ dentro do Grand Chateau, numa tentativa de manter um olhar mais atento sobre os mesmos. A esses nobres, apesar de seu alto status social, às vezes eram oferecidas acomodações relativamente insignificantes, com apartamentos de dois quartos, tornando-os prisioneiros dentro de uma espécie de “gaiola dourada”. Até a morte de Luís XIV, em 1 de setembro de 1715, as obras no palácio ainda não tinham terminado. Foi o cenário de mais de 100 anos de intrigas reais e palco da fase de maior glória da monarquia francesa, como também de seu derradeiro fim.

Em 6 de outubro de 1789, os então rei e rainha da França, Luís XVI e Maria Antonieta, foram escoltados por uma multidão de parisienses até o Palácio das Tulheiras (hoje demolido), criado no século XVI pela rainha regente, Catarina de Médici. Versalhes, que por 100 anos ocupou posição central na Europa, era pela primeira vez fechado. Sua mobília foi saqueada e a grande coleção de obras de arte foi transferida para o Louvre, transformado em Museu no ano de 1793.  Versalhes ficou abandonado. Ao chegar ao poder, Napoleão Bonaparte cogitou a possibilidade de o demolir. Já sob o reinado de Luís Felipe de Orleans, o último rei Bourbon da França, o grande edifício foi transformado em Museu. Até o ano de 1918, quando passou por uma fase de renascimento, ele havia sido transformado em Assembleia Nacional e foi inclusive invadido pelos alemães. Hoje, é considerado um patrimônio da humanidade e recebe ao ano milhares de turistas, vindos de todas as partes do mundo. Para maiores informações, visite o site oficial do château de Versailles, cliando aqui! Abaixo, confira outro vídeo que convida o observador a fazer uma tour pelo palácio mais luxuoso da Europa, a glória pessoal de Luís XIV:

Fonte: Realm of History

Bibliografia consultada:

BUCKLEY, Veronia. A esposa secreta de Luís XIV: Madame de Maintenon. Tradução de Cristina Paixão Lopes. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

FRASER, Antonia. O amor e Luís XIV: as mulheres na vida do Rei Sol. Tradução de Eloísa Mourão. – Rio de Janeiro: Record, 2009.

19 comentários sobre “O Palácio do Sol: Luís XIV e a magnífica construção de Versalhes!

  1. Inacreditável!!!
    É excelente aprender mais sobre a história do palácio e com uma animação tão incrível… Só de pensar no trabalhão que deve ter dado fazer tudo isso!!! No site ainda é possível percorrer as várias “versões” do palácio em 3d, o que é genial e bastante impressionante! ♥

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