Comentários da série “The Tudors” – Capítulo 1×06

“No castelo de Hever, uma jovem e viçosa ‘donzela’ recebe cartas apaixonadas de seu amante, o rei. Entretanto, o que este soberano não sabe é que sua correspondência é lida não apenas pela amada, mas também pela família dela, que a usa como um verdadeiro peão no tabuleiro da corte. Mas pode a política mandar nos desejos do coração? Quando aquela que um dia seduzira um homem para derrubar um cardeal se der conta da extensão de seu poder, então todo o reino sofrerá com o impacto de sua paixão, inclusive ela mesma.”

Após o saque de Roma pelas tropas do Imperador Carlos V, e a prisão do Papa Clemente, então o caminho estava livre para que Wolsey (Sam Neill), reunido em um conclave de cardeais franceses, deliberasse em medidas urgentes, entre elas o divórcio do rei Henrique VIII (Jonathan Rhys Meyers). Porém, o que o chanceler de Inglaterra não sabia era quem seria a substituta de Catarina de Aragão (Maria Doyle Kennedy). Com certeza, nem lhe passava pela cabeça que a filha de Thomas Bolena, aquela que chamara de “garota tola”, se encontrava no alvo das atenções do rei (isso ele só descobre após interceptar as bulas clandestinas que o rei enviou ao Papa por Dr. Kinight), algo que inclusive era do conhecimento da rainha. Estabelecendo uma ponte com o episódio passado, neste, a rivalidade entre Catarina e Ana está mais evidente, com a primeira inclusive dirigindo ameaças à segunda, que lhe serve como dama de companhia.

Wolsey (Sam Neill) chama Ana Bolena (Natalie Dormer) de "garota tola", mal sabendo que ela será a arma de sua queda.

Wolsey (Sam Neill) chama Ana Bolena (Natalie Dormer) de “garota tola”, mal sabendo que ela será a arma de sua queda.

As cenas protagonizadas entre Dormer e Kennedy são repletas daquele estado de tensão, tão particular entre duas mulheres que disputam o mesmo homem. Enquanto Catarina, ciente de seu papel como rainha, duvida que o caso entre Henrique e Ana fosse muito longe, esta, por sua vez, tinha uma opinião totalmente contrária e sabia que possuía em suas mãos o poder para conquistar o que queria. Com efeito, muitos biógrafos sensacionalistas, como David Starkey, costumam atribuir a Ana Bolena um demasiado sentimento de ambição que não era condizente com ela. Como uma plebeia poderia pretender derrubar uma rainha da linhagem de Catarina de Aragão? Ela não tinha o perfil exato para isso. Sendo assim, o arquiteto da anulação do casamento sempre fora Henrique, embora a história costume atribuir a Ana um papel protagonista nesse aspecto. Sua função, contudo, foi de ser a suplente, ou seja, aquela que ascenderia ao trono no lugar da filha de Isabel de Castela e Fernando de Aragão.

Seguindo uma interpretação sensacionalista dos fatos, o sexto capítulo da primeira temporada de “The Tudors”, apresenta Ana Bolena como o instrumento da queda do cardeal Wolsey, planejada pelo pai da jovem e pelo duque de Norfolk. De fato, nas cenas em que Dormer e Meyers aparecem, ela constantemente alertava ao rei da duplicidade do comportamento do prelado, algo que vai ser ainda mais acentuado por Sir Thomas Bolena, que, em seu cargo de tesoureiro, vai descobrir todos os desvios de dinheiro que Wolsey cometeu em todos esses anos de serviço. Deste ponto, o telespectador já poderá perceber que o clima de conspiração é o que predomina nesse episódio, e nem mesmo a rainha, com toda sua pompa de rituais católicos, esta isenta disso.

Catarina de Aragão (Maria Doyle Kennedy) não facilitará as coisas para a amante de seu marido, a quem define nesse episódio de "puta de luxo".

Catarina de Aragão (Maria Doyle Kennedy) não facilitará as coisas para a amante de seu marido, a quem define nesse episódio de “puta de luxo”.

Não obstante, Catarina de Aragão sabe que o círculo está se fechando em torno dela, e sua única saída é apelar para o sobrinho, imperador Carlos. Os momentos em que Maria Doyle Kennedy conversa em espanhol com o embaixador Mendonza são incríveis, uma vez que podemos perceber ali que apesar de viver em Inglaterra, sua pátria de adoção, Catarina jamais se esqueceu de sua língua materna, de modo que conversa com seus conterrâneos apenas nesse idioma. Ela é atormentada não apenas pela presença da “outra” (Ana Bolena) em seus aposentos, como também pelo cardeal Wolsey, a quem detesta com todas as suas forças, especialmente por este estar trabalhando no divórcio. Mas nesse aspecto o destino lhe sorriu mais uma vez, pois o Papa fugiu de sua prisão, e então os cardeais franceses não aceitarão a intermediação de Wolsey nos assuntos da igreja, ainda mais numa questão tão delicada como a do rei Henrique.

Destarte, Sam Neill soube perfeitamente passar para o telespectador a frustração de seu personagem diante da falta de sucesso de sua missão na França. Ora, no episódio cinco o rei lhe deixara uma ameaça clara: ou ele conseguia o divórcio, ou sofreria por isso. Pela primeira vez, aquele imponente príncipe da Igreja sentira que sua queda estava próxima, na mesma proporção que sua influência perante Henrique. Nem Thomas More (Jeremy Northam) queria se arriscar a ajuda-lo, ainda mais porque não concordava com os termos do divórcio e acreditava que a dispensa para o casamento real era válida. É muito intrigante a interpretação que Northam faz de seu personagem, visto que muitas pessoas costumam traçar um perfil bastante intelectual da figura de More, com falas e gestos bastante comedidos. No entanto, essa versão do personagem em “The Tudors” é mais humana e sensível, apesar de manter uma postura séria e íntegra.

Ao retornar para a Inglaterra, Wolsey tem uma grande surpresa, pois a mulher a quem chamara de tola, é mais inteligente do que ele supunha.

Ao retornar para a Inglaterra, Wolsey tem uma grande surpresa, pois a mulher a quem chamara de tola, é mais inteligente do que ele supunha.

Entre outros aspectos que chamaram atenção neste capítulo, finalmente o personagem George Bolena ganhou mais destaque. Nesse caso, é interessante notar os momentos de intimidade dele com Ana, inclusive com as visitas que fazia à irmã enquanto ela estava deitada na cama. É claro que ali vemos uma simples relação fraternal, mas, em um futuro não tão distante, esse comportamento causará a ruína de ambos. Foi curioso também perceber as referências que Thomas Wyatt (Thomas King) faz a Ana Bolena em seus versos. Na série, há uma cena em que o poeta consulta seu amigo, o músico Thomas Tallis sobre a qualidade de sua composição. Quando este último questiona ao outro quem era a mulher à qual se referia no poema, ele responde: “vamos chamá-la de morena” – uma clara alusão à mademoiselle boullan.

Depois de seu fracasso em França (onde assinara um novo tratado com o rei Francisco – Emmanuel Leconte), Wolsey retorna à Inglaterra, só que dessa vez não conversaria em particular com Henrique VIII, mas na presença da mulher há quem outro dia definira de “tola”. Mal sabia ele que aquela dama representava uma trama para derrubá-lo. Contudo, um novo personagem passa a integrar o círculo de Norfolk: Charles Brandon, duque de Suffolk (Henry Cavill). Recentemente de volta do exílio, ele busca um lugar ao sol, junto de seu soberano e amigo, o rei. Mas esse caminho será árduo, pois aquele que um dia gozara de poder quase ilimitado, ou seja, o cardeal, não desistirá tão fácil de seu posto. Para completar este triângulo, há Catarina de Aragão, a amada rainha que trás em suas costas o amor do povo e o exército imperial, e que está decidida a lutar até o fim. E nessa batalha de ambições, um coisa em comum liga todos os adversários: o poder.

Renato Drummond Tapioca Neto

Graduando em História – UESC

3 comentários sobre “Comentários da série “The Tudors” – Capítulo 1×06

  1. Esse é o meu ep favorito da 1 temporada, pois aí vemos a trama andar de verdade e um destaque maior para os personagens que já estavam aparecendo aos poucos, inclusive Dormer, onde nesse ep pode mostrar um pouco mais da personalidade da nossa querida Bolena. Adoro as cenas de enfrentamento dela com Catarina, a Rainha com seu orgulho espanhol, e Ana com o seu temperamento forte e sem papas na língua. “Pobre” Wolsey, n deveria ter chamado a Ana de tola,kkkkkk, mas repito que a queda dele seria melhor se tivesse o caso Henry Percy, infelizmente adaptações…
    Adoro a parte em que aparece os versos do Thomas Wyatt em sua clara alusão a Ana, sem contar que sua narração em off, enquanto está ocorrendo situações chave dos episódios dá um ritmo épico a série: “Se ela alcançar seu caminho, ela irá comandar o país todo num rugido.”
    Mais aparições do George, mostrando tbm a personalidade do outro irmão Bolena, e mais conspirações, enfim o considero um ótimo episódio. Ótima Análise, bjs!

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    • Realmente, Camila. As falas em off do Thomas Wyatt ficaram muito legais, pois narraram em forma de verso aspectos cruciais do capítulo, como a ambição de Ana Bolena, e o amor não correspondido dele por ela. Também queria que o Henry Percy tivesse aparecido, mas, como você mesmo deixou a entender, adaptações tem sempre incompatibilidades com a história original… rs
      Abraço!

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  2. Adoro a História dos Tudors … acho porém que, ao falarem os Tudors, deveriam começar em Henrique VII, que realmente começou a dinastia, vencendo a Guerra das duas rosas …

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