Comentários da série “The Tudors” – Capítulo 1×02

“Na França, um imenso acontecimento está por se desenvolver: o encontro de dois grandes monarcas. Barracas são armadas; o vinho jorra gratuitamente das fontes; os cortesãos se aglomeram. Tudo para prestigiar o muito esperado tratado entre Inglaterra e seu histórico inimigo, o rei dos Franceses. Pois é neste cenário de ilusões, com palácios que desmontam, que uma das maiores decepções do grande Henrique VIII terá vez”.

No segundo capítulo da primeira temporada de “The Tudors”, temos a encenação de um dos acontecimentos mais importantes da primeira fase do reinado de Henrique VIII, ou seja, “O Campo do pano de Ouro”, um evento realizado em 1520 que tinha for função celebrar um tratado de paz universal, a ser assinado por Henrique e pelo rei de França, Francisco I. Sob esse aspecto, é necessário frisar que pouquíssimas produções que tenham como tema a Inglaterra tudoriana fizeram menção a essa passagem, e, no entanto, fora o momento em que esses dois monarcas se viram pela primeira vez. Como todos devem saber as relações entre eles não era das mais sinceras, pois um sempre queria demonstrar o quanto que era superior ao outro, dispensando, para isso, riquezas que não poderiam gastar. Tudo para passar às pessoas uma falsa sensação de companheirismo e fraternidade que, na verdade, nunca fora real, ou se foi, não da forma como Henrique VIII e Francisco I queriam que os demais acreditassem.

The Tudors, capítulo 1x02 (cena 2)

Cena da luta entre Francisco I ( Emmanuel Leconte) e Henrique VIII (Jonathan Rhys Meyers).

Na pele do rei de França, temos Emmanuel Leconte, que, de um modo geral, atende bem as características do real Francisco, principalmente pelo seu porte alto. Entretanto, o mais legal na atuação de Leconte é que ele, tal como seu personagem, é francês, de forma que nas cenas em que ele conversa na sua língua natal, não soa de maneira alguma como Jonathan Rhys Meyers, que parece estar desconfortável com as poucas palavras que pronuncia naquele idioma. Como falei em posts passados, Meyers não se destaca por uma estatura excepcional, fazendo com que o telespectador olhe desconcertado para as cenas nas quais ele e Leconte (que é alto) aparecem juntos. Mas esse é um detalhe quase insignificante perto da belíssima recriação do ambiente, dos torneios e jantares, em que tanto a corte inglesa quanto a francesa figuravam juntas como não o faziam há tempos. Não obstante, foi praticamente hilária a cena em que a pequena princesa Mary (Bláthnaid McKeown) da um beijo no rosto do Delfim e depois lhe dá um empurrão, causando assim a admiração de seu pai.

Outra cena que chama bastante a atenção é a da luta corpo a corpo entre Henrique e Francisco. Esse acontecimento já foi narrado das mais diversas formas: entre elas, a mais comum é a de que o rei de Inglaterra teria agarrado o rei de França pelo colarinho e o desafiado para um combate, ao que Francisco respondeu com brutalidade, atirando seu rival no chão. Entretanto, em “The Tudors”, essa disputa teria vindo por sugestão, mais ou menos amigável, do próprio Henrique. Nesse caso, nem é preciso dizer que o resultado disso seria nada favorável para o tratado que a ser assinado no dia seguinte, malogrando, assim, os planos do Cardeal Wolsey de ser o árbitro da paz na Europa. Outro ponto interessante na cena da luta é o medo nos olhos de Catarina de Aragão (Maria Doyle Kennedy), que, apreensiva, deixa de lado o rancor que sentia pelos Valois, e num gesto de impulso agarra a mão da rainha Claudia, que estava sentada ao seu lado.

The Tudors, capítulo 1x02 (cena 3)

Assim como no primeiro capítulo, o segundo faz forte apologia ao sexo (em cena, Jonathan Rhys Meyers com Perdita Weeks, no papel de Maria Bolena).

Por falar em Claudia de Valois, a escolha de Gabriella Wright para o papel da consorte de Francisco I não foi das melhores. Em nada Wright corresponde ao perfil da soberana francesa, que tinha a pele leitosa e os cabelos claros. Não só isso, ela age mais como se fosse um enfeite do que uma rainha de fato, tal como Kennedy sabe fazer, e muito bem, diga-se de passagem. Entretanto, a dama que deveria ganhar uma espécie de destaque no episódio, ou seja, Maria Bolena (a reconhecida segunda amante de Henrique VIII), quase não aparece, exceto nas cenas em que demonstra seus exímios talentos sexuais com o rei, ou se banqueteia em alguma festa com sua irmã. Para o papel da filha mais velha de Sir Thomas, temos a belíssima Perdita Weeks, que se encontra junto de Natalie Dormer (Ana Bolena) na corte francesa, a deliciar os cortesãos. Entretanto, é sabido por muitos que Maria não se achava mais a serviço da rainha Cláudia naqueles anos, e que quando houve “O Campo do pano de Ouro” ela provavelmente já era amante de Henrique há mais tempo.

Destarte, antes de encerrar meu comentário sobre as cenas passadas na França, tenho que dar meus parabéns para a equipe do cenário, especificamente pela montagem do “Palácio das Ilusões”, que tal como aparece na série, era desmontável e enganava facilmente os indivíduos, que na ocasião tomaram-no por uma construção sólida.  Com efeito, ao retornar para a Inglaterra o ambiente das cenas muda um pouco: de ensolaradas e alegres, para um clima frio, chuvoso e repleto de conspirações. Mais uma vez aqui o Duque de Buckingham é o personagem que, pode-se dizer, está no olho do furacão. Ele quer a coroa e, para isso, não hesitará em nada. Mas, graças à traição de Thomas Bolena (Nick Dunning), a conspiração é desmascarada e o Duque é preso, julgado e consequentemente decapitado. Ainda existem muitas especulações sobre a suspeita atividade de Buckingham. De fato, caso Henrique VIII morresse sem herdeiros, provavelmente ele seria o sucessor do trono, e como todo possível pretendente, ele era perigoso, ainda mais sendo um nobre com vastíssimas posses.

 The Tudors, capítulo 1x02 (cena 4).

Natalie Dormer como Ana Bolena: um dos papeis que mais prometem no terceiro capítulo da primeira temporada.

Dessa forma, a série, já em seu segundo capítulo, despede-se de um de seus personagens mais interessantes: Steven Waddington. Sai um grande ator, deixando seu lugar vago para que outros agentes interessantes também ganhem espaço. Entre eles, o da própria Ana Bolena, que até então vinha aparecendo (desnecessariamente) em pouquíssimos intervalos de tempo. Entretanto, só ao vislumbrar a caracterização daquela que viria a ser a segunda esposa de Henrique VIII, seus olhares sedutores e gestos coquetes, podemos perceber o porquê de Natalie Dormer até hoje ser aclamada como uma das melhores atrizes que já viveram esse papel. Contudo, não só a entrada dessa predestinada dama no próximo capítulo promete grandes emoções, como também o resultado do nascimento do bastardo do rei com Elizabeth Blount, além dos rumos da política do cardeal, e o tão esperado encontro com outro grande monarca: Carlos V, Sacro Imperador Romano, e sobrinho de Catarina de Aragão.

3 comentários sobre “Comentários da série “The Tudors” – Capítulo 1×02

  1. Lembro que quando assisti esse ep pela primeira vez, foi aí que a série me ganhou de vez! A parte do tratado e toda a corte francesa me fascina (sem contar que a luta entre o Francis e o Henry foi muito agradável de se assistir,kkkkkkk). Acho que as breves aparições das Bolenas, foi mesmo proposital, principalmente da Ana, para afirmar mesmo que a Ana sempre esteve ali, o Henrique é que nunca a notou, sem contar que Natalie Dormer tem uma presença em cena que me fascina. Quando assisti The Tudors, minha visão de Ana Bolena ainda era do filme A Outra, e a minha Ana preferida até então era a Natalie Portman, porém fui totalmente arrebatada pela Natalie, que mesmo n tendo os tão falados olhos escuros da Ana, é tão impressionante em sua interpretação, em gestos mínimos, que lembram tanto a verdadeira Ana, que não teve como me apaixonei <3!! Análise perfeita, e acho que vou começar a rever a série, junto com as análises, para comentar melhor, bjs!

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    • Nesse capítulo até que foi interessante vê-la, mas a irmã dela, Maria, que deveria ter uma participação como amante de Henrique um pouco mais amplificada, fica obscurecida. Penso, pois, que o Michael Hirst quis mostrar com isso como ela foi rapidamente descartada por ter cedido de forma fácil ao rei, algo que Ana, como sabemos, não fará… rsrsrsrsrs…
      Até hoje ainda considero a Portman a melhor Ana Bolena. Ela, na minha opinião, tem o porte físico ideal para a personagem, como a pele em tons de oliva, cabelos e olhos escuros, lábios carnudos e maçãs do rosto salientes, além de uma estatura mediana e de ser magra. Perfeita pra mim.
      Muito obrigado pelo ótimo comentário, Camila.
      Abraço!

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  2. Só para lembrar que as Bolena e outras não são a continuidade sucessória de Henry VIII. As sucessoras – e depois não sucessoras (rsrsrs) – Mary Bloody Queen (a Rainha Sangrenta e verdadeira demônia na terra) e Rainha Isabel têm uma história que acho que ainda não vi ter sido tão bem retratada em filme ou série e mereceriam muuuuuito uma saga impressionante pelas reviravoltas. Até hoje, tendo lido sua infelicidade de ser manipulada politicamente e religiosamente, ter reinado apenas 9 DIAS!!!! kkkkkkkkkkkk rio para não chorar. Voltando às Bolena, a família tinha uma influência intensa e Mary e Ana usaram muito bem o momento. No entanto, na série a família aparece tão apagada que não sei se li pouco ainda sobre a época ou se realmente os Bolena perderam força naquela fase.
    Mais, o Cardeal Wolsey, não o conhecia como personagem histórico, mas… uauu, que mente brilhante, pela leitura que tive de sua história verídica (pelo menos próxima da verídica com fontes que me pareceram confiáveis). A idéia de Tratado pan-geopolítico foi revolucionária!!! Suas outras estratégias com acordos secretos multilaterais e sutilezas são dignos de um Maquiavel ficar orgulhoso.

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