Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Com a morte da princesa Diana em 31 de julho de 1997, qualquer plano para recuperar a imagem de Camilla junto ao público teve que ser adiado. No frenesi midiático na busca por um culpado, qualquer aparição da companheira do príncipe Charles voltaria os olhares públicos contra ela. Na tentativa de se livrar da responsabilidade, a imprensa fez alarde sobre o silêncio da família real e sobre a ausência da rainha em Londres, num momento de luto nacional. À medida em que as primeiras notícias chegavam de Paris, dando conta do estado de saúde da princesa, a primeira preocupação de Camilla, como mãe, foi com os filhos de Diana. Depois que o óbito foi confirmado, sua atenção se voltou para o príncipe, que recebeu a notícia com um grande choque. Charles argumentou que a única coisa que vinha à sua memória era a garota cândida com quem ele se casou em 1981, e não os problemas conjugais vividos entre ambos nos anos subsequentes. Por uma questão de cautela, Camilla permaneceu os seis dias seguintes confinada na sua casa em Wiltshire, protegida por seguranças, enquanto ela assistia ao funeral pela televisão juntamente com 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo. A partir de então, ela seria considerada por muitos como uma das responsáveis pelo triste desfecho daquela que ficou conhecida como a princesa do povo!
Não obstante, alguns obstáculos precisavam ser vencidos até que Charles e Camilla pudessem finalmente viver como marido e esposa. Para além da situação dela como uma mulher divorciada, a família real desaprovava abertamente o relacionamento, especialmente a rainha Elizabeth II. Isso acabou provocando um distanciamento entre a soberana e seu herdeiro, acentuado desde que Charles havia descrito Elizabeth como uma mãe fria em seu depoimento ao jornalista Jonathan Dimbleby, em 1994. Tampouco a princesa Anne e a rainha-mãe, Elizabeth Bowes-Lyon, aprovavam a união. Seria preciso muita persistência por parte de Charles para que ele conseguisse colocar um pouco de óleo nas engrenagens enferrujadas do Palácio, a fim de que elas trabalhassem a seu favor. Primeiro ele começou com seus filhos, apresentando Camilla individualmente a William e Harry como sua “companheira”, mas sem fazer qualquer menção a um possível casamento. Segundo nos conta o príncipe Harry em sua recente autobiografia, ele e seu irmão teriam ficado satisfeitos com a decisão do pai, desde que isso o tornasse uma pessoa mais feliz. Em seguida, o príncipe de Gales pediu ajuda ao seu primo, o rei deposto da Grécia, Constantino I. “Tino”, como era mais conhecido na família, convidou Camilla para seu aniversário de 60 anos, numa ocasião em que a rainha Elizabeth também estaria presente.

Diana ao lado de Camilla, em 1981.

Fotografia oficial do casamento de Charles e Camilla, em 2005.

A rainha Elizabeth II, por ocasião do seu Jubileu de Platina (70 anos de reinado), agradeceu aos seus súditos e a todas as pessoas do mundo pelo apoio demonstrado a ela em todos esses anos. Ela também expressou seu desejo de que, quando Charles assumisse o trono, sua esposa, Camilla, fosse reconhecida como Rainha Consorte. Até então, havia alguma dúvida sobre qual título a duquesa de Cornwall assumiria quando seu marido se tornasse rei, uma vez que seu casamento foi celebrado numa cerimônia civil, com a benção do arcebispo de Canterbury. Muitos acreditavam que ela seria elevada ao status de Princesa Consorte, assim como o falecido príncipe Philip.
Consta que a monarca aceitou comparecer ao evento, desde que a “companheira” de Charles se mantivesse longe dela. Na cabeça de Elizabeth, Camilla continuava sendo a Sra. Parker-Bowles. Seu descontentamento com a escolha de Charles ficou expresso em 2001, por ocasião do aniversário conjunto de 100 anos da rainha-mãe, 70 anos da princesa Margaret e 50 anos da princesa Anne. Uma grande celebração fora organizada no castelo de Windsor e até mesmo Sarah, duquesa de York – divorciada do príncipe Andrew desde 1997 – fora convidada, exceto Camilla. Ela teve que se contentar em esperar por Charles em sua suíte no Palácio de St. James. No dia seguinte, os dois partiram para um cruzeiro que passaria pelo Sul da França e o Golfo. No ano seguinte, marcado pelas comemorações do Jubileu de Ouro da rainha, duas grandes perdas atingiram a monarca: primeiro sua irmã, falecida em 9 de fevereiro, e depois sua mãe, que morreu exatamente 40 dias após sua filha mais nova. Charles então se mudou do Palácio de St. James para a Clarence House, onde a viúva do rei George VI morava, e ali passou a conviver ao lado de Camilla. Nesse contexto, uma lenta operação teve início, orquestrada pela equipe do príncipe, para apresentar sua companheira como noiva em potencial.
No final das contas, muitos acabaram sentindo compaixão pela situação dos dois, incluindo o arcebispo de Canterbury, George Carey, que afirmara que um dos princípios básicos do cristianismo era o perdão e que “a coisa mais natural é que os dois se casem”. Afinal, desde que Charles se divorciara de Diana, em 1996, que ele e Camilla viviam juntos. Primeiro em Highgrove, a propriedade campestre do príncipe no ducado de Cornwall; depois no Palácio de St. James e, por último, na Clarence House. Muitos clérigos do Reino Unido manifestaram apoio à causa de Charles, alegando que, na condição de futuro líder da Igreja Anglicana, ele não poderia viver amasiado. Para além disso, havia o fato da situação canônica de Camilla: em 1973, ela se casara com Andrew Parker-Bowles em uma cerimônia católica. Embora a união fosse reconhecida pela Igreja da Inglaterra, isso significava, por outro lado, que seu divórcio civil a deixava livre para se unir em matrimônio com um protestante. Diante dessa situação, a rainha Elizabeth II foi aos poucos reconsiderando sua opinião. Nas comemorações pelo Jubileu de Ouro em junho de 2002, por exemplo, Camilla foi fotografada em público com a soberana.
Segundo um observador do Palácio de Buckingham, o relacionamento entre Charles e Camilla esteve o tempo todo presente nas discussões da família real: “Houve muitas conversas privadas com a rainha a respeito dela, de seu papel e do quanto as coisas poderiam ou não ser reconhecidas”. O comportamento da companheira do príncipe durante os turbulentos anos 1990 também foi levado em consideração: sua firmeza, estoicismo e discrição, principalmente quando as lentes do mundo inteiro estavam voltadas para a princesa Diana e suas polêmicas declarações ao programa Panorama, em 1995. Até os dias de hoje, muitos opõem uma à outra: Diana, na condição de eterna vítima injustiçada, a princesa dos contos de fadas; Camilla, a “cara de cavalo” e ladra de maridos. Uma das falas mais recorrentes entre internautas é: “Como é que o Charles pôde trocar a Diana por aquela mulher…”. Em primeiro lugar, nem Diana ou Camilla eram bibelôs para serem trocados ao bel prazer de um comprador. São dois seres humanos, com suas próprias trajetórias e sentimentos. Em segundo, ao se dizer a frase mencionada no início deste parágrafo, o locutor está objetificando as duas mulheres, como se fossem elementos passíveis de troca ou descarte.

Camilla Mountbatten-Windsor usando a Delhi Durbar Tiara, confeccionada em 1911 pela Garrard para a rainha Mary Teck, por ocasião da coroação do rei George V como Imperador da Índia no dia 12 de dezembro do mesmo ano. Os padrões em arabescos são cravejados com vários diamantes, incrustados numa base de ouro branco e platina. Originalmente, 10 esmeraldas cortadas em formato de gota figuravam no topo da joia, para combinar com o colar que a rainha usa na foto. Posteriormente, as esmeraldas foram removidas da Tiara e a soberana continuou a fazer algumas alterações na peça, removendo também seu arco superior. Em 1947, ela foi presenteada à Elizabeth, a rainha-mãe, que a usou durante a turnê da família real pela África do Sul. A peça passou da esposa do rei George VI para sua filha, a rainha Elizabeth II. Embora seja uma das joias mais importantes da coleção real, a atual soberana nunca foi vista usando a Delhi Durbar Tiara, exceto o colar que carrega o mesmo nome (foto da rainha Mary). Em 2005, após seu casamento com o príncipe Charles, Camilla, então a nova duquesa de Cornwall, usou a peça no seu primeiro evento oficial como membro da família real, durante o Banquete de Estado oferecido no Palácio de Buckingham.

A belíssima Tiara Greville, que pertencia à rainha-mãe, Elizabeth Bowes-Lyon. Adquirida de Lady Greville, a Tiara fazia parte da coleção particular da esposa do rei George VI e permaneceu entre as suas posses até o dia de sua morte. A rainha-mãe costumava utilizar a joia em eventos da Coroa e em seus retratos oficiais. Antes de falecer, Elizabeth Bowes-Lyon legou em testamento esta, entre outras de sua joias, para o príncipe Charles. Atualmente, a Tiara é usada pela segunda esposa do herdeiro do trono, Camilla Mountbatten-Windsor, duquesa de Cornwall. Em 5 de fevereiro de 2022 (um dia antes de completar 70 anos de reinado), a rainha Elizabeth II direcionou uma carta à comunidade de Nações Britânicas, afirmando: “é meu desejo sincero que, quando o tempo chegar, Camilla seja reconhecida como Rainha Consorte, enquanto ela dá continuidade ao seu leal serviço”.

Com a bênção da rainha Elizabeth II, dada oficialmente em 5 de fevereiro de 2022, e a aprovação dos demais membros da família real, Camila Mountbatten-Windsor se tornou a nova rainha consorte do Reino Unido. O posto havia sido ocupado anteriormente por mulheres como Elizabeth Bowes-Lyon, a rainha-mãe, esposa do rei George VI; Mary de Teck, esposa do rei George V; e Alexandra da Dinamarca, esposa do rei Edward VII. Assim como essas soberanas, que foram figuras-chave nos reinados de seus respectivos maridos, Camila desempenhou em seus dias como duquesa de Cornwall um valioso serviço ao lado do príncipe Charles, agora rei Charles III. Hoje com 75 anos, ela é patrona de diversas Instituições de Caridade e demonstrou especial preocupação para com mulheres vítimas de violência doméstica e crianças em situação de carência. Sua presença se tornou frequente em hospitais e abrigos para idosos.
Para além disso, existem os adjetivos pejorativos aplicados tanto a uma quanto a outra, o que só reforça a cultura da misoginia, que classifica as mulheres em puras ou impuras, casáveis e não-casáveis. Independentemente dos erros ou acertos que elas cometeram no passado, ambas eram assimiladas como elementos opostos para uma sociedade com profundos traços de patriarcalismo. Sendo assim, antagonizar a imagem de Diana à de Camilla é o mesmo que percebê-las como seres inferiores, que supostamente precisavam da proteção masculina, e não como protagonistas de sua própria história. Não obstante, muito da propaganda negativa contra Camilla fora responsabilidade do biógrafo Andrew Morton, que a culpou pelo fracasso do casamento real e não levou em consideração as incompatibilidades que existiam entre Diana e Charles. Apesar de ser atacada virulentamente pela imprensa e nas ruas, Camilla suportou todos os anos da chamada “guerra dos Gales” com um estoicismo impressionante, jamais manifestando uma declaração pública contra qualquer uma das partes envolvidas no divórcio. Atualmente com 75 anos e casada há 18 com o rei Charles, Camilla passa não apenas por misoginia nas redes sociais, como também sofre com etarismo.
“Bruxa”, “Espantalho” e “Múmia” são alguns dos termos constantemente dirigidos a ela. Poucos levam em consideração seus trabalhos sociais com idosos portadores de osteoporose (a mãe dela morreu vítima dessa doença) e com mulheres que passam por violência doméstica. Seu trabalho filantrópico e sua dedicação ao serviço em nome da Coroa acabaram convencendo a rainha Elizabeth II de que ela era uma esposa digna para seu filho. Finalmente, séculos de arcaísmo foram ultrapassados, permitindo àquele casal que se unissem numa cerimônia civil, com a aprovação do governo, da igreja e da Coroa. A cerimônia aconteceu no dia 9 de abril de 2005, no Guildhall. A rainha, porém, não estava presente, o que não deixava de ser uma clara demonstração de sua crença na indissolubilidade do matrimônio, assim como de sua posição constitucional. Por outro lado, ela manifestou seus sentimentos em um discurso muito emotivo e bem-humorado:
“Hedgehunter ganhou o Grand Nacional!” [uma menção à vitória de seu cavalo em uma competição]. Na sequência, falou de seu filho e da nova nora, e dos intimidantes obstáculos superados pelos dois naquela “corrida” lendária: “Eles saltaram o Becher’s Book e The Chair [nomes de obstáculos tradicionais da competição Grand National] e muitas outras barreiras terríveis. Superaram, e estou muito orgulhosa deles e desejo seu bem. Meu filho está em casa, são e salvo e com a mulher que ele ama. Bem-vindo ao clube dos vencedores” (apud MARR, 2012, p. 360-1).
As palavras da rainha não poderiam ter sido mais cirúrgicas, pois colocaram um ponto final numa questão que, de geração em geração, se apresentava como um problema para a família real: a união entre seus membros com pessoas divorciadas. Em respeito à memória de Lady Di, Camilla não assumiu o título de princesa de Gales e sim o de duquesa de Cornwall (que também era um dos títulos de Diana). Em sua primeira aparição como membro oficial da realeza, ela usou no Banquete de Estado oferecido no Palácio de Buckingham a belíssima Tiara Delhi Durbar da rainha Mary Teck. A esposa de George V encomendara a peça especialmente para a coroação de seu marido como imperador da Índia.
Não obstante, a nova duquesa passou a ser vista com muitas das joias que uma vez pertenceram à rainha-mãe, como a Tiara Greville, entre outras peças importantes da coleção real. Mas, até o ano de 2022, havia certa dúvida quanto ao status que ela assumiria após Charles se tornar rei. A princípio, Camilla endossou a opinião de que ela fosse reconhecida como princesa consorte, dada à sua situação canônica, uma vez que seu casamento fora celebrado numa cerimônia civil e não religiosa. Mas, a rainha Elizabeth II, na véspera de seu aniversário de 70 anos de ascensão ao trono, surpreendeu a todos com a seguinte declaração:
Esse aniversário também me ofereceu a oportunidade de refletir sobre a boa vontade demonstrada a mim por pessoas de todas as nacionalidades, crenças e idades, neste país e ao redor do mundo através desses anos. Eu também gostaria de expressar minha gratidão a todos vocês pelo seu apoio. Eu fico humildemente grata pela lealdade e afeição que vocês continuam a me dar. E quando, na plenitude do tempo, meu filho Charles se tornar rei, eu sei que vocês darão a ele e a sua esposa Camilla o mesmo apoio que têm me dado; e é meu desejo sincero que, quando o tempo chegar, Camilla seja reconhecida como Rainha Consorte, enquanto ela dá continuidade ao seu leal serviço.
Com a bênção da monarca, Camilla assumiria o título real que, no passado, fora usado por soberanas da estirpe de Alexandra da Dinamarca, Mary de Teck e Elizabeth Bowes-Lyon. Como a própria soberana enfatizara, nos últimos anos, Camilla e Charles representaram a Coroa em inúmeros compromissos, sempre com dignidade e responsabilidade. Algumas semanas depois, a rainha fez de sua nora uma cavaleira da Ordem da Jarreteira, a mais alta honraria concedida pela Coroa Britânica e que possui séculos de tradição. As mágoas do passado haviam definitivamente ficado no passado.

Ensaio fotográfico de Camilla, duquesa de Cornwall, para a Vogue Britânica, divulgado em 18 de junho. Essa é a primeira vez em que a segunda esposa do príncipe Charles posa para um dos periódicos de moda mais famosos do mundo, em comemoração pela passagem dos seus 75 anos.

As fotos, por sua vez, foram feitas por Jamie Hawkesworth e captam Camilla tanto em poses formais, quanto e momentos mais descontraídos, lendo um livro sentada com as pernas cruzadas numa poltrona, ou no jardim da Clarence House, onde ela atualmente vive com seu marido.

Quando questionada se pretendia continuar abraçando seu trabalho social enquanto rainha consorte, ela foi assertiva na resposta: “Oh, vou continuar o máximo que puder”, disse ela. “Você não pode abandonar as coisas nas quais você está no meio. Há muitas coisas a serem feitas ainda”.
Por ocasião do seu aniversário de 75 anos, Camilla posou pela primeira vez para a Vogue Britânica, um dos periódicos de moda mais famosos do mundo. As fotos foram feitas por Jamie Hawkesworth e a matéria foi publicada na edição de 18 de junho da revista. As imagens captam Camilla tanto em poses formais, quanto e momentos mais descontraídos, lendo um livro sentada com as pernas cruzadas numa poltrona, ou no jardim da Clarence House, onde ela atualmente vive com seu marido. Em entrevista concedida ao jornalista Giles Hattersley para a Vogue, a então duquesa falou dos últimos 20 anos de seu trabalho como membro da Casa Real e de seu apoio às causas sociais, especialmente com mulheres vítimas de violência doméstica, abuso sexual e estupro. Quando questionada se pretendia continuar abraçando seu trabalho social enquanto rainha consorte, ela foi assertiva na resposta: “Oh, vou continuar o máximo que puder”, disse ela. “Você não pode abandonar as coisas nas quais você está no meio. Há muitas coisas a serem feitas ainda”. Mãe de dois filhos com seu primeiro marido (de quem se divorciou em 1995), Camilla hoje é avó e afirma que parou de se importar com seus aniversários: “Eu os deixo ir e vir. Quero dizer, eu ficaria muito feliz em voltar no tempo”.
Com efeito, talvez o ponto mais polêmico da matéria esteja voltado para as lembranças da década de 1990, quando o triângulo amoroso envolvendo Diana, Charles e ela era o assunto preferido dos tabloides: “Não é fácil,” refletiu. “Fui escrutinada por tanto tempo que você só precisa encontrar uma maneira de lidar com isso. Ninguém gosta de ser observada o tempo todo e, você sabe, criticada e… Mas acho que, no final, eu meio que superei isso e continuo assim. Você tem que seguir com a vida”. Poucos meses depois, o mundo inteiro entrou em choque quando a BBC de Londres anunciou a morte de Elizabeth II, no castelo de Balmoral, na Escócia, em 8 de setembro. Tanto a princesa Anne, quanto Charles e Camilla estavam presentes quando a soberana deu seu último suspiro. Em Londres, o hino “Deus Salve a Rainha” foi então tocado pela última vez, sendo substituído pela prece que os ingleses não ouviam desde a morte de George VI, em 1952: “Deus Salve o Rei”. Mesmo com todos os problemas que assolam a família real no momento, como o escândalo do príncipe Andrew e seu envolvimento com pedofilia, e as alegações bombásticas feitas por Harry e Meghan Markle em um documentário na Netflix, o novo rei e a rainha consorte cumpriram seu papel conforme o exigia o decoro, sepultando os setenta anos da Segunda Era Elisabetana em um magnífico funeral de Estado.
Perto de completar 76 anos, a rainha Camilla será coroada ao lado de Charles na Abadia de Westminster, em 6 de maio de 2023. Para a ocasião, ela usará a coroa feita para a rainha Mary de Teck em 1911, numa clara associação com a matriarca da Casa de Windsor. A história de Camilla Shand, depois Parker-Bowles e agora Mountbatten-Windsor, reflete as mudanças pelas quais a monarquia teve que passar para sobreviver. Sua trajetória com o atual rei Charles III não se resume à mera narrativa de um romance juvenil que fora proibido, e sim a maneira como duas pessoas conseguiram sobreviver em um mar de ódio e preconceitos até encontrar o equilíbrio. A cerimônia de coroação é apenas o próximo capítulo desta história. É certo que os dois não permanecerão no trono por muito tempo, uma vez que ambos se aproximam da casa dos 80 anos. Mas, até que se inicie o reinado de William e Kate, certamente podemos esperar boas coisas vindas da rainha Camilla, enquanto ela dá continuidade ao seu trabalho filantrópico. Pela primeira vez, uma descendente de Alice Keppel, cuja família fora tão hostilizada pela realeza e pela nação, se senta no trono mais cobiçado do mundo, lutando ao lado de seu marido para manter de pé as paredes rachadas do edifício da monarquia!

No dia 17 de setembro de 2022, Kate, a princesa de Gales, se juntou a Camilla, a rainha consorte, para uma recepção no Palácio de Buckingham, oferecida pelo rei Charles III e por William, príncipe de Gales, para os Governadores-Gerais dos reinos que fazem parte da Comunidade de Nações Britânicas, da qual Charles agora é o Chefe de Estado.

O monograma real da rainha Camilla do Reino Unido. O design apresenta as letras C e R entrelaçadas, de Camilla Regina (Rainha em Latim). Em cima, a coroa que simboliza o status da nova soberana consorte, terceira mulher a ocupar esse posto na história da Casa de Windsor, seguindo a linha iniciada por Mary de Teck, esposa do rei George V (fundador da dinastia) e Elizabeth Bowes-Lyon, a rainha-mãe, esposa do rei George VI.

No dia 22 de novembro de 2022, a rainha Camilla do Reino Unido foi fotografada usando um conjunto de diamantes e safiras que pertencera à sua falecida sogra, a rainha Elizabeth II. Durante a recepção e o banquete de Estado oferecidos ao presidente da República da África do Sul, Cyril Ramaphosa, no Palácio de Buckingham, a esposa do rei Charles III prestou um tributo à mãe de seu marido, escolhendo a Tiara de Safiras Belgas, que faziam parte da coleção pessoal de Elizabeth.
Referências Bibliográficas:
BROWN, Tina. Os arquivos do Palácio: por dentro da Casa de Windsor: a verdade e a voragem. Tradução de Denise Bottmann e Berilo Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
DIMBLEBY, Jonathan. O príncipe de Gales. Tradução de Vera Dias de Andrade Renoldi. São Paulo: Editora Best Seller, 1994.
HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.
MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.
MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2002.
MORTON, Andrew: Diana – sua verdadeira história em suas próprias palavras. Tradução de A. B. Pinheiros de Lemos e Lourdes Sette. 2ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.