10 anos de “Rainhas Trágicas” – Carta de agradecimento aos leitores!

Há 10 anos, em 2012, nascia o site Rainhas Trágicas e sua página homônima no Facebook. A princípio, o projeto tinha uma intenção simples e despretensiosa: narrar, de forma clara e acessível ao grande público, as vidas de soberanas cujo destino havia sido marcado pelo signo da tragédia. Naquele ano, Ana Bolena, Mary Stuart, Maria Antonieta e Dona Leopoldina eram as figuras de proa que sustentavam aquela pequena embarcação. O portal propiciava um clima bastante intimista e descontraído para seus leitores, facilitando assim maior interação com os internautas que foram chegando com o tempo. Uma década já se passou desde então, quando um estudante do terceiro ano do curso de graduação em História da UESC resolveu se aventurar pelos caminhos da divulgação de conhecimento, nem sempre pavimentados com tijolos amarelos. De lá para cá, muita coisa aconteceu: o site virou livro em seu quarto ano de existência, com uma segunda edição recentemente lançada em 2022. Com a publicação, também surgiram convites para participações especiais em programas de rádio, televisão e entrevistas para outros canais. Porém, nada disso teria sido possível sem o apoio dessa grande família de seguidores, que hoje somam quase 300 mil pessoas em todas as nossas páginas!

Renato Drummond Neto, autor do site e do livro “Rainhas Trágicas”.

Como sou o único responsável pela manutenção do Rainhas Trágicas e de seus perfis no Facebook, Instagram e Twitter, é difícil acreditar em alguns momentos na dimensão que o projeto ganhou. Na maioria das vezes, continuo a vê-lo como o blog pequeno que criei em 2012 e não como um dos maiores sites brasileiros, dedicado à História das Mulheres na Realeza. Refazendo meus passos, me lembro de como o início foi particularmente difícil. Recebia menos de 50 acessos por dia, em contraste com 19 de maio de 2020, quando bati a marca de 76.453 visualizações de textos e páginas. Atualmente, o site soma aproximadamente 16 milhões de acessos, com uma média de 4.000 visitas diárias. Um número bastante expressivo, se considerarmos que hoje em dia o texto escrito está perdendo cada vez mais espaço para outras plataformas, como o YouTube e o TikTok. Na medida do possível, tentei me adaptar às mudanças, criando perfis em outras redes sociais, nas quais a interação com os seguidores se tornou mais dinâmica. Através destes espaços, o diálogo de tornou mais direto e assim pude ter uma noção mais acurada daquilo que meu público desejava. É certo que na maioria das ocasiões não consigo dar conta de todos os pedidos. Mas, na medida do possível, me esforço para que o espaço seja o mais respeitoso e interativo possível.

Infelizmente, esperava escrever esta carta numa ocasião mais fortuita. Em momento algum imaginei que o aniversário de 10 anos do site coincidiria com a morte da rainha Elizabeth II. Em 2012, ela era um exemplo formidável de liderança feminina no regime monárquico e uma grande inspiração para mim. Nos últimos 24 meses, marcados pela pandemia de Covid-19 e pelo isolamento social, mergulhei na vida e no reinado de “Betinha” com tal intensidade, que passei a me considerar quase íntimo dela. Brincava comigo mesmo de que sabia mais a respeito dos seus 96 anos de vida do que sobre a história dos meus parentes. Sua Majestade nos deixou no último dia 8 de setembro de 2022 e com ela um grande vazio se abriu. Mas, no que depender de mim, seu legado sempre será lembrado enquanto este espaço existir, assim como o de todas as outras soberanas que tanto amamos! Este ano também marcou ¼ de século da morte de Lady Di e quarenta anos do trágico acidente que ceifou a vida de Grace Kelly, a princesa de Hollywood que se transformou em princesa de Mônaco. Por outro lado, também comemoramos o Bicentenário de nossa emancipação política e é sempre bom se recordar da mulher que arquitetou este movimento: Dona Leopoldina da Áustria, nossa primeira imperatriz. Uma princesa formidável e que me encantou desde a primeira vez em que li o seu nome.

Com efeito, pensar no Rainhas Trágicas é também relembrar minha trajetória como pesquisador e professor. Em 2014, concluí minha graduação em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, em Ilhéus-BA. No ano seguinte, ingressei no mestrado em Memória: Linguagem e Sociedade, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, no qual obtive o grau de mestre me fevereiro de 2017, com uma dissertação sobre o romance Senhora (1875), de José de Alencar. No ano seguinte, fui aprovado em concurso público para professor efetivo na Secretaria de Educação do Estado da Bahia e atualmente faço doutorado em História Social pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Confesso para vocês que conciliar minhas atividades como professor (trabalhando em regime de 40h e dando aula para mais 400 alunos!), cursar pós-graduação e administrar o site Rainhas Trágicas e suas contas têm sido uma tarefa quase hercúlea. Em muitos momentos, pensei em desistir. Mas, graças a vocês, eu persisti! A despeito das adversidades, toquei o barco adiante da melhor forma que consegui, tentando segurar todas as pontas das minhas obrigações para que nenhum nó da corda ficasse frouxo. Chegando neste ponto, me convenço da força que o site obteve junto ao público, algo que só vem crescendo com o passar dos anos.

Primeira e segunda edição do livro “Rainhas Trágicas”, lançadas em Portugal pela Vogais Editora.

Me lembro como se fosse ontem de quando contei para minha amiga e colega de graduação, Stéphanie Lorene, de que desejava criar um site para falar sobre a história das mulheres que tanto me fascinavam. Até então, eu vinha acumulando alguma experiência como criador de conteúdo digital, participando das equipes de sites também voltados para divulgação de conhecimento em História, criados por meus colegas de curso: o Jardim de Clio e o História Pensante. Infelizmente, tais projetos não foram adiante. Mas, as sementes que eles plantaram em mim germinaram, cresceram e deram belíssimos frutos de criatividade. Muitas vezes, me peguei imaginando: “e se eu não tivesse feito?”, ou “e se eu tivesse desistido?”, numa época em que aparentemente ninguém se interessava pelo que eu tinha a dizer nos primeiros meses de existência do site. Para quem não sabe, o “e se” é uma contrafactualidade bastante perigosa e não deve ser utilizada na análise de eventos históricos. A escrita do passado se baseia em fontes, não em verossimilhança. “E se Elizabeth I não tivesse decapitado Mary Stuart?”, “e se Anastásia tivesse sobrevivido ao massacre dos Romanov?”, “e se Dona Leopoldina tivesse assumido o trono do Brasil?”. Esses são questionamentos que não devem ser feitos, pois não há como saber o que teria ocorrido caso os acontecimentos tivessem tomado um curso diferente.

Por outro lado, o campo da ficção oferece muito mais oportunidades para a nossa especulação. Acredito que “se” eu não tivesse criado aquele pequeno blog em 2012, teria perdido a melhor parte dos últimos 10 anos de minha vida. Em última análise, o Rainhas Trágicas foi o instrumento que me impulsionou a seguir em frente com meus sonhos, a dar continuidade aos meus estudos universitários e a exercer a nobre missão de ser professor e colaborar para o desenvolvimento de cidadãos em formação. Quantas memórias boas foram construídas durante este percurso… As dores de cabeça, que infelizmente andam de mãos dadas com esses momentos de alegria, não cabem nessa mensagem de agradecimento. Por enquanto, só posso me considerar uma pessoa abençoada, por ter alcançado algo que eu só almejava de forma nebulosa em 2012, mas que foi ganhando contornos e definição mais nítidas 10 anos mais tarde. Hoje, posso dizer para cada um/a de vocês que considero o Rainhas Trágicas um projeto bem-sucedido. Porém, nada disso teria sido alcançado sem o seu apoio. A cada pessoa que está lendo esse texto neste momento, fica o meu sincero obrigado. Vocês não sabem o quanto sua participação foi essencial para fazer esse espaço continuar existindo.

Antes de terminar, gostaria de dar alguns esclarecimentos sobre o nome Rainhas Trágicas. A priori, o título – tomado de empréstimo do romance Reines Tragiques, da escritora francesa Juliette Benzoni –, não seria algo definitivo. Minha intenção era encontrar um rótulo que expressasse melhor as vidas de soberanas esquecidas pelo tempo, obscurecidas por uma visão patriarcal do passado, ou que foram alvo de misoginia e feminicídio. Alguns meses depois, pensei em mudar para Mulheres Coroadas, mas a ideia não funcionou muito bem. O nome Rainhas Trágicas havia caído no agrado de seus seguidores e assim eu resolvi mantê-lo, a despeito de certo apelo sensacionalista. Afinal de contas, o site não aborda apenas as narrativas de mulheres cujas vidas foram costuradas por elementos como paixão, ascensão e declínio. À medida em que aprofundava meus estudos, novas figuras femininas foram surgindo: heroínas dos tempos antigos e novos, deusas, guerreiras, cientistas, escritoras, atrizes, políticas; mulheres de várias raças, classes e de múltiplas regiões, como da Europa, América, África e Ásia. Por outro lado, dar conta sozinho de toda essa gama de assuntos, com um grau de análise e qualidade necessária, é quase impossível. De outra forma, corro o risco de incorrer em abordagens superficiais, como vejo em muitos canais que se metem a falar sobre tudo e qualquer coisa, apenas para atender a uma demanda.

Em 2022, o Rainhas Trágicas completa 10 anos de existência.

Prefiro escrever sobre o que gosto de ler e de pesquisar. Foi graças a esse amor pela História que publiquei meu primeiro livro aos 24 anos de idade. Não consigo descrever em palavras a emoção que foi receber a primeira edição em brochura da obra em 2016. O resultado de quatro anos de trabalho bem ali, na palma da minha mão. O digital havia finalmente se transformado em algo físico! Essa mesma sensação eu experimentei em março deste ano, quando recebi a segunda edição revista e ampliada do livro. Tudo isso me fez ter um enorme orgulho do que conquistei até aqui, ao mesmo tempo em que me forneceu a coragem para ir atrás de muito mais. Mas, antes que termine esta longa carta, preciso citar alguns nomes que foram essenciais nesta jornada, como o da minha querida amiga Stéphanie; minha parceira de dez anos, Camilla Maréga (criamos nossos sites na mesma época, Tudor Brasil e Rainhas Trágicas); meu amigo Paulo Rezzutti, um escritor e pesquisador formidável; minha estimada mentora e amiga Ana Carolina Soares; meu querido amigo e colega de profissão, Bruno Cerqueira, do Instituto Dona Isabel; minha irmã, Vanessa Tapioca, que sempre foi meu esteio em todas as situações; e por último, mas não menos importante, a você, que leu esta carta até o final. É a você e aos demais seguidores deste espaço a quem eu dedico inteiramente essa década de estudos e escrita sobre a face feminina na realeza!

Com gratidão e carinho,

Renato Drummond Neto

4 comentários sobre “10 anos de “Rainhas Trágicas” – Carta de agradecimento aos leitores!

  1. Parabéns pelo seu precioso trabalho. Este site é maravilhoso e, eu que já era apaixonada por História fique mais apaixonada ainda. Não deixo passar nenhuma matéria. Obrigada pelo seu belíssimo trabalho!

    Curtir

    • Parabens e muito sucesso Renato, te conheci atraves de Paulo Rezzutti, em uma entrevista que você deu no canal dele. Fiquei muito interessada no seu trabalho e pesquisa, clara e de facil entendimento. Sou formada em historia e desde menina me interessava em conhecer pessoas e suas trajetorias. Mais uma vez, receba meus cumprimentos pelo seus 10 anos de Rainhas Tragicas, amo ler tudo que escreves.

      Curtido por 1 pessoa

  2. Carta maravilhosa que conta em detalhes sua longa trajetória.
    Espero sempre ansiosa tudo que você pública. Não desista nunca.
    Com admiração e respeito,
    Dita

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s