Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Joséphine de Beauharnais, imperatriz dos franceses, ficou conhecida em seu tempo de vida como uma das mulheres mais elegantes da Europa. Com uma vasta coleção de joias e um guarda-roupas que não deixava nada devendo ao de Maria Antonieta, dizia-se que ela jamais repetia o mesmo vestido. A primeira esposa de Napoleão I ditou tendências no início do século XIX e até hoje seu nome é sinônimo de luxo e bom gosto. Ao falecer, em 29 de maio de 1814 no seu belíssimo Château de Malmaison, ela deixou para seus dois filhos, Hortência e Eugênio, uma vasta coleção de pedrarias que deixaria qualquer soberana do continente morrendo de inveja. Sabe-se que alguns desses itens acabaram parando na coleção da família real sueca, graças à herança da neta de Joséphine, que se casou com o rei Óscar I, sendo hoje usados pela rainha Silvia e suas filhas. Já o paradeiro das outras, porém, se perdeu com o tempo ou foram desmontadas e suas peças utilizadas para a confecção de novas joias. Mas, recentemente, a Sotheby’s de Londres leiloou duas tiaras “altamente raras” que teriam pertencido à imperatriz.

Tiaras que teriam pertencido a Joséphine de Beauharnais, imperatriz dos franceses.
Vendidas por um valor de 710.000 euros (aproximadamente 4.559.620,00 de reais, em câmbio atual), as duas tiaras são oriundas do acervo particular de um colecionador britânico e possuem cerca de 200 anos. De acordo com a Sotheby’s, acredita-se que tenham sido dadas a Joséphine por sua cunhada, Caroline, irmã de Napoleão, no início do século XIX. Ambas as peças possuem camafeus representando perfis da cultura clássica greco-romana, datados de 150 anos a.C. Possivelmente, as duas tiaras foram desenhadas para serem usadas em conjunto. A mais ornamentada delas (decorada com pedras de cornalina e ouro esmaltado), foi vendida pela impressionante bagatela de 526.496 euros (aproximadamente 3.379.472,52 de reais, em câmbio atual), enquanto a outra foi arrematada pelo valor de 147.222 euros (944.976,33 de reais, em câmbio atual). Kristian Spofforth, da Sotheby’s, disse que “tesouros” como esse são bastante valiosos e raros:
Estas joias majestosas montadas com camafeus e entalhes são da melhor qualidade, acreditamos que foram feitas por um joalheiro por volta de 1805. Seu estilo é muito evocativo da era neoclássica. Eles certamente evocam o estilo da grande imperatriz Joséphine, sua posição como esposa de Napoleão Bonaparte, seu gosto impecável e seu interesse pelo mundo clássico.
Sobre a raridade de se encontrar joias do início do século XIX intactas como essas, Kristian acrescentou:
As joias oferecidas aqui demonstram o trabalho mais delicado das melhores oficinas francesas e, hoje, quase não existem peças comparáveis no mundo. Quando a moda mudou, as joias foram desmontadas e remodeladas, tornando sua sobrevivência verdadeiramente excepcional.
Quando Napoleão se autoproclamou imperador dos franceses, o estilo de sua esposa deveria ser impecável. Afinal, tudo o que ela usasse serviria também como espelho para a posição social de seu marido. Por isso, o soberano fazia questão que ela se vestisse com esmero e utilizasse as joias mais ricas já fabricadas. Com o passar das décadas, o design de algumas das joias de Joséphine foi considerado exagerado demais pelos seus portadores e parte delas foi então desmembrada para a produção de novas joias, de acordo com as alterações da moda no decorrer do século XIX.

Diadema com camafeus e ouro esmaltado.
Com efeito, os leiloeiros acreditam também na possibilidade de Joséphine ter recebido apenas os camafeus de presente e que as tiaras teriam sido desenhadas em estilo neoclássico especialmente para combinar com eles, por volta do ano de 1805 ou 1808, ou seja, poucos anos antes de seu divórcio com Napoleão. Detalhes das peças indicam que elas foram confeccionadas pelos mais habilidosos ourives parisienses da época. Acreditava-se que os signos gravados nas joias conferiam ao seu usuário várias qualidades, tais como heroísmo, fidelidade e amor. Ao mesmo tempo, elas são duas peças-chave para se compreender a moda feminina do período: “Por ser a primeira a incorporar esses camafeus e entalhes no seu vestido, usando-os lado a lado com pérolas e diamantes, ela [Joséphine] criou uma moda inteiramente nova, baseada em formas neoclássicas, que atingiu Paris e o mundo”, disse Spofforth.

As peças foram desenhadas especialmente para combinar com os camafeus.
Com o declínio do império napoleônico, Joséphine passou a viver do dinheiro da venda de algumas de suas joias e dos favores de amigos influentes e chefes de estado, como o czar Alexandre I da Rússia. Até então, não se sabe se ela ou algum de seus herdeiros foram os responsáveis por se desfazer das joias que acabaram de ser leiloadas, mas a Sotheby’s acredita que elas foram adquiridas por Edward Lascelles, um eminente político e colecionador britânico e depois passadas adiante como herança para os membros de sua família. Sabe-se que as joias herdadas por Eugênio, filho de Joséphine com seu primeiro marido, Alexandre de Beauharnais, foram legadas para suas filhas, Joséphine, rainha da Suécia, e Amélia, imperatriz do Brasil. Já as peças herdadas por Hortência foram sendo vendidas aos poucos para compradores individuais ou joalherias famosas, como a Cartier. Sobre as duas tiaras leiloadas pelas Sotheby’s em Londres, nenhum detalhe foi divulgado acerca das identidades dos seus compradores.
Fonte: Euronews – Acesso em 15 de dezembro de 2021.