Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Uma das civilizações mais importantes da antiguidade, o Egito segue exercendo verdadeiro fascínio para muitas culturas modernas. Seja por meio dos livros, filmes, da arte pop ou até mesmo da música, milhares de pessoas se sentem atraídas pelo universo de mistérios e encantos da terra dos faraós. Através do tempo, personalidades famosas como o imperador D. Pedro II do Brasil e a princesa Diana, se sentiram particularmente atraídas por suas lendas e crenças e/ou pelas magníficas construções que sobreviveram ao tempo. Atualmente, tais monumentos se configuram num importante testemunho da engenhosidade e do talento daquele povo, organizado numa sociedade bastante estratificada, em cujo topo estava o faraó, considerado como um semideus. A ciência moderna, por sua vez, contribuiu ainda mais para aguçar a curiosidade das pessoas, emprestando vida ao rosto de reis e rainhas, como Akhenaton e Nefertiti (casal de soberanos que protagonizou o processo de reforma religiosa na fase do Novo Império). Foi no Antigo Egito que mulheres como a própria Nefertiti, Hatshepsut e Cleópatra VII exerceram poder, dando-nos um importante testemunho da força feminina na Idade Antiga.
Uma rainha quase apagada da história
Templo Mortuário da rainha Hatshepsut, falecida em 1458 a.C. Considerado um dos monumentos mais impecáveis do Antigo Egito, sua função exercia o mesmo efeito das pirâmides: gloficar a imagem do faraó, nesse caso, uma mulher. Hatshepsut se proclamou faraó no século XV a.C. Com a morte de seu marido, o rei Tutmés II, a rainha passou a governar por seu enteado, que na época ainda era uma criança. Porém, quando este atingiu a maioridade, ela se recusou a ceder o poder e teve o apoio dos súditos. Seu reinado foi de um caráter inédito, pois até então só homens tinham ocupado o trono do Egito e agora uma mulher se tornava faraó. Nos 22 anos em que esteve à frente do Estado, promoveu a construção de grandes templos edificantes e levantou a economia do país. Após sua morte, foi finalmente sucedida por Tutmés III, que fez o possível para destruir a memória da madrasta. O Templo Mortuário de Hatshepsut, com suas inscrições e desenhos entalhados sobre a pedra, é um dos poucos vestígios sobreviventes da história de seu reinado.
A Descoberta da cidade perdida de Thonis-Heracleion
Placa com hieróglifos sendo retirada das profundezas do oceano, em 2015, na antiga cidade perdida de Thonis-Heracleion, que já foi considerada a porta de entrada para o Egito. Na época clássica, Heracleion era o centro das rotas comerciais entre o Egito e a Grécia com o resto do Mediterrâneo. De acordo com a história contada por Heródoto, ela teria sido visitada por Helena de Tróia com seu amante, príncipe Paris. O local foi engolido pelas águas há cerca de 1.200 anos. Mergulhadores da equipe da Universidade de Oxford recuperaram importantes artefatos históricos da cidade, antes localizada na foz do Nilo. Estátuas gigantes de 5 metros foram descobertas e trazidas de volta à superfície, juntamente com outras centenas de estátuas menores representando divindades e antigos. Entre elas, um busto de Cleópatra Evérgeta (ca. 165/160 a.C. – 101 a.C.), mais conhecida como Cleópatra III e outros faraós que governaram durante o Novo Império e o período da antiguidade clássica foram também retirados do fundo do oceano.
O enigmático busto de uma rainha
Em dezembro de 1912, a equipe do arqueólogo alemão Ludwig Borchardt fez uma das descobertas mais importantes da história do Antigo Egito: entre as peças dispostas no ateliê do escultor Tutmés, encontrava-se o busto de uma das mulheres mais belas que já reinaram sobre aquelas terras, Nefertiti, esposa do faraó Akhenaton. Possivelmente confeccionado no ano de 1345 a.C, o busto, esculpido em calcário, é considerado umas das obras primas de Tutmés e atualmente se encontra exposto no Museu Neues, em Berlim. Muitas são as características que chamam a nossa atenção ao contemplar a imagem esculpida da rainha, como a grande coroa, o pescoço longo e delgado, sustentando um cabeça com traços faciais bem proporcionais, exceto, talvez, pela ausência da íris no olho esquerdo. Acredita-se que a obra tenha ficado incompleta por vontade do artista, temeroso de que a beleza da rainha causasse inveja nas deusas. Esse é apenas um dos vários mistérios ligados à vida de Nefertiti, que ainda continua tão fascinante para nós, como certamente o foi em seu tempo de vida.
Rostos que ganham vida
A reconstrução facial de múmias e esqueletos de pessoas que viveram há milênios vem colaborando bastante com o estudo história. Embora ainda não seja considerada uma ciência exata e sim uma interpretação de como a pessoa teria se parecido em vida, ela ajuda a tornar o passado mais vívido e empresta um aspecto verossímil a personalidades intrigantes, como o casal de governantes Nefertiti e Akhenaton. Um artista usou inteligência artificial para recriar as faces dos soberanos. As imagens, postadas por Uterwijk em sua conta no Twitter, foram feitas com base em estátuas e figuras em alto relevo representando o casal. No seu post, o artista disse: “Não tenho a pretensão de ser um cientista. Os retratos históricos são baseados em obras feitas principalmente durante o período de seus temas. Com a IA, eu filtro os estilos de esculturas de retratos antigos e os conduzo a um resultado confiável”. Uma técnica semelhante foi aplicada ao rosto da rainha Tyie, esposa do faraó Amenhonep III e mãe do faraó Akhenaton. A reconstrução foi feita com base na suposta múmia e em um busto da soberana, conforme podemos observar na imagem abaixo:
Estilo atemporal
Vestido de linho trabalhado em formato de rede com contas, feito por volta do ano 2551–2528 a.C. no antigo Egito, durante o reinado do faraó Quéops. A cor das contas desbotou, mas a rede era originalmente azul e verde-azulada, imitando lápis-lazúli e turquesa. Conhecida como Beadnet dress, a peça foi encontrada no ano de 1927 no complexo de Gizé e pertence à IV Dinastia. Seu intricado e elegante padrão indica que a moda feminina no Egito era utilizada mais do que como um mero adereço e sim como um fator de distinção entre as classes. Em algumas representações da deusa Nut, por exemplo, é possível vê-la em um traje como esse. Atualmente, o vestido se encontra exposto no Museu of Fine Arts de Boston. Detalhe: geralmente era usado com nada por baixo, tá?!
O lendário Farol de Alexandria
Remanescentes do antigo Farol de Alexandria, naufragados no Mar Mediterrâneo. Eriguida em 331 a.C. por ordem de Alexandre o Grande, Alexandria era uma das construções mais conhecidas da Idade Antiga. Famosa pela sua grande biblioteca (que não tem relação com a atual) e pelo farol, tido como uma das 7 maravilhas do mundo, por anos ela foi o centro do poder no Egito sob o reinado dos Ptolomeus, última dinastia de faraós, cujo governante mais famoso foi nenhum outro senão Cleópatra VII. Ao longo dos séculos, a cidade sobreviveu à ascensão e queda de impérios e foi o lar de muitos estudiosos e filósofos. Infelizmente, uma série de eventos tiveram um efeito danoso sobre seu perímetro urbano, como o incêndio que devastou a biblioteca junto com sua vasta coleção de papiros e manuscritos. Em 1323 d.C., um grande terremoto destruiu o que restava de sua antiga glória, o farol. Hoje, a atual Alexandria em nada lembra a sua versão anterior.
A família imperial do Brasil visita a Esfinge

Colorização via História Islâmica no Facebook.
D. Pedro II do Brasil e sua esposa, Dona Teresa Cristina, eram verdadeiros amantes da história e da arqueologia. Mantinham em sua residência no Paço de São Cristóvão uma impressionante coleção de artigos que remontavam ao período da América Pré-Colombiana, à antiguidade clássica greco-romana, entre outras civilizações. Em 1871, quando D. Pedro fazia sua primeira viagem ao império Otomano, o casal de imperadores aproveitou a oportunidade e visitou também as pirâmides no complexo de Gizé e a fabulosa esfinge. Na foto tirada na ocasião, os monumentos ainda se encontravam parcialmente encobertos pela areia do deserto. No retorno para o Brasil, o monarca ganhou de presente duas múmias, que adicionou à sua coleção particular na Quinta da Boa Vista. Esse valioso acervo integraria mais tarde a vasta exposição do Museu Nacional, que infelizmente pereceu em um incêndio ocorrido no dia 2 de setembro de 2018.
O traslado do grande templo de Abu Simbel
As colossais estátuas do faraó Ramsés II no grande templo de Abu-Simbel são algumas das maiores atrações turísticas no Egito. Sua construção começou por volta de 1284 a.C e terminou quase 20 anos depois. O exame com raios-x comprovou a existência de pigmentos coloridos na fachada principal do edifício, o que nos permite deduzir que as estátuas eram originalmente pintadas. Com o passar dos séculos, as areias do deserto cobriram grande parte do templo, que precisou ser transposto de lugar na segunda metade do século XX. Em decorrência da criação da barragem do Assuão, na Núbia, as belíssimas estátuas do faraó precisaram ser deslocadas para uma região mais elevada, para que não ficassem submersas. As pedras foram estrategicamente cortadas e reposicionadas, entre os anos de 1963 e 1968. O monumento foi realocado em uma montanha artificial, localizada 61 metros acima de sua posição original.
Uma princesa entre as pirâmides
Em 1992, o matrimônio da princesa Diana com o príncipe Charles, que já foi chamado de “o casamento do século”, era mantido apenas na aparência. O casal vivia em residências separadas e mantinha compromissos independentes. A rainha Elizabeth acreditava que uma viagem no verão daquele ano poderia solucionar os problemas dos dois, mas a visita de Diana e Charles em Jaipur, na Índia, foi um verdadeiro fiasco. Ela foi fotografada com expressão de tristeza em frente ao Taj Mahal, monumento consagrado ao amor. A princesa aproveitou a temporada e visitou sozinha o Egito. Usando seu clássico traje marrom de exploradora, Diana visitou as pirâmides, a esfinge, o templo de Luxor e o Museu do Cairo, onde conferiu os tesouros da Câmara Mortuária do faraó Tutancâmon, incluindo a belíssima máscara de ouro que reproduzia a face do rei-menino. Em dezembro de 1992, ela e Charles anunciaram oficialmente a sua separação. Quatro anos depois, em 1996, veio o divórcio e com ele a tão sonhada liberdade para a saudosa Lady Di.
Bibliografia consultada:
A Era dos Reis divinos: 3000-1500 a.C. Vários autores – Time-Life Livros: Rio de Janeiro, 1989. (série História em Revista)
BARMAN, Roderick J. Imperador cidadão. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
BROWN, Tina. Diana: crônicas íntimas. Tradução de Iva Sofia Gonçalves e Maria Inês Duque Estrada. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
Marés Bárbaras: 1500-600 a.C. Vários Autores – Time-Life Livros: Rio de Janeiro, 1989. (série História em Revista)