Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Na manhã de 8 de fevereiro de 1587, Mary Stuart chegava à sala do castelo de Fotheringhay onde o cenário para sua execução tinha sido montado. Vestida completamente de preto, a vítima carregava consigo para o cadafalso os símbolos de sua religião: em uma das mãos, ela segurava um livro de horas; na outra, um rosário de ouro. As duas peças se tornaram elementos bastante referenciados nos retratos póstumos da soberana, especialmente o pingente com o Cristo crucificado e as pérolas pendentes. Já o livro de horas, consta que ele teria sido dado à Mary em 1568 (ano de sua fuga para a Inglaterra), por Lord Herries e permanecido entre suas posses pelos próximos 19 anos. Ao carregar esses objetos até a hora da morte, a rainha pretendia mostrar a todos que vertia seu sangue pela fé católica. Durante todos esses séculos desde o dia da execução, os itens se constituem em duas das poucas posses remanescentes da coleção de Mary, que estão intimamente ligadas à sua história. Infelizmente, o rosário de ouro foi roubado da vitrine no castelo de Arundel, onde costumava ficar em exposição, por volta das 22h30 do dia 21 de maio de 2021.

Retrato de Mary Stuart, segundo obra de Nicholas Hilliard. Em suas mãos, o rosário com as contas de ouro que ela usou até o dia de sua morte. No corpete do vestido, o crucifixo que Mary deu ao abade de Westminster. Ambas as peças foram roubadas.
Em nota emitida pela polícia de Sussex, que está investigando o caso, foi dito que a unidade está no rastro dos ladrões que invadiram o castelo de Arundel e roubaram itens de ouro avaliados em 1 milhão de libras esterlinas (aproximadamente 7.534.543,00 de reais, em câmbio atual):
Às 22h30 de sexta-feira, 21 de maio, os funcionários do castelo foram alertados de uma invasão depois que um alarme contra roubo soou. A polícia chegou ao local em poucos minutos. Foram levados vários itens de grande significado histórico. Isso inclui o rosário de ouro carregado por Mary, rainha dos Escoceses, em sua execução em 1587, várias taças de coroação dadas pela soberana ao conde Marechal da época e outros tesouros de ouro e prata. O rosário tem pouco valor intrínseco como metal, mas como um pedaço da história da família Howard e da herança da nação, é insubstituível.
Ainda de acordo com a mesma nota, o vidro do mostruário onde esses objetos costumavam ficar em exposição foi quebrado à força pelos ladrões e seu conteúdo levado. Um porta-voz do castelo de Arundel disse que “os itens roubados têm um valor monetário significativo, mas, como artefatos únicos da coleção do duque de Norfolk, possuem uma importância histórica incomensuravelmente maior e inestimável”.

Vitrine onde o rosário de Mary Stuart costumava ficar em exposição, ao lado de outros objetos ligados à soberana.
Durante quase todo o período vigente da pandemia do novo coronavírus, o castelo de Arundel esteve fechado para visitação. Apenas recentemente, no dia 18 de maio, suas portas foram novamente abertas ao público, em consonância com as diretrizes de distanciamento social. Harriet Hadfield, repórter da Sky News, disse que os moradores locais estão se perguntando “como os ladrões conseguiram invadir uma fortaleza medieval no coração da comunidade” e levado o precioso rosário da trágica rainha da Escócia? Segundo as investigações policiais, é possível que um sedã 4×4, que foi encontrado carbonizado nas proximidades de Barlavington, possa estar envolvido na operação criminosa. O porta-voz do castelo ainda fez um apelo aos visitantes que estiveram no local entre os dias 18 e 21: “qualquer pessoa com informações vá até a polícia para ajudá-la a devolver esses tesouros de volta aos seus lugares”. Chris Tapsell, que dirige uma loja de antiguidades local, disse à Sky News: “Qualquer pessoa normal não seria capaz de vender [os tesouros], mas um criminoso provavelmente os terá pré-vendido, ou tem uma ideia do que pretende fazer com eles”.

Castelo de Arundel, em Sussex (Inglaterra).
Não obstante, Chris Tapsell acrescenta que os objetos roubados poderiam também ser contrabandeados para o exterior, até países como Itália ou Holanda, e vendidos para coleções privadas sem que os compradores saibam a respeito de seus proprietários legais. Nesse caso, as contas do rosário poderiam ser desmembradas do todo e usadas como garantia para o pagamento. A peça de ouro original do século XVI era usada por Mary presa ao cinto do seu corpete, caindo pendente pela saia do vestido. Nas contas douradas, podia ser colocada essência perfumada. Após a morte da soberana, o objeto passou para as mãos de Anne, esposa de Sir Philip Howard e condessa de Arundel. O crucifixo de ouro se reuniu mais tarde ao rosário em 1696, quando Mary Howard (mãe do 8º e 9° duques de Norfolk) o comprou das mãos de um monge beneditino em Paris. Mary Stuart o teria dado de presente ao abade de Westminster, que esteve preso na Torre de 1560 a 1584. A detetive policial Molly O’Malley disse: “Se você receber uma oferta ou ouvir falar de alguém oferecendo à venda qualquer um dos itens roubados, também gostaríamos de escutá-lo”.
Fontes:
Daily Record – Acesso em 24 de maio de 2021.
Sky News – Acesso em 24 de maio de 2021.
The Scotsman – Acesso em 24 de maio de 2021.
Western Advocate – Acesso em 24 de maio de 2021.
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