Por: Renato Drummond T. Neto
Em 9 de setembro de 1543, uma bebezinha era coroada rainha dos escoceses na capela do palácio de Linlithgow. Para a cerimônia, uma pequena coroa de ouro foi montada, destinada a repousar na cabeça daquela criança inconsciente da grande responsabilidade que recaía sobre suas costas. A menina era ninguém menos que Mary Stuart, filha do falecido rei James V com a nobre francesa Marie de Guise. Desde o momento de seu nascimento, em 8 de dezembro do ano anterior, Mary havia se tornado o partido mais cobiçado da Europa. Reis como Henrique VIII da Inglaterra e Francisco I da França a desejavam como esposa para seus herdeiros. Por linhagem sanguínea, a soberana também tinha uma forte pretensão ao trono dos Tudor. Malgrado seu trágico destino, Mary acabou perdendo tudo o que a vida lhe colocou no colo quando deu seu primeiro suspiro. Sua desventura já foi narrada em biografias, romances, filmes e séries de televisão, contribuindo assim para que ela se tornasse uma das rainhas mais celebradas de todos os tempos. Embora poucos vestígios materiais de sua existência tenham sobrevivido, o castelo de Edimburgo, na Escócia, colocou novamente em exposição ao público a coroa com que a monarca foi sagrada soberana dos escoceses.

Regalia da Coroa escocesa, no castelo de Edimburgo.
Com o início da pandemia do novo coronavírus em 2020, o castelo de Edimburgo havia fechado as portas para visitação do público. Agora, a curadoria do Museu reabriu a instituição, destacando a regalia utilizada na coroação de Mary Stuart, que inclui sua coroa e cetro. Atualmente, a peça, feita com base em um modelo adulto, é o exemplar mais antigo em exposição na Grã-Bretanha, que sobreviveu ao desmonte das joias reais pela Revolução no século XVII. As peças permaneceram escondidas até o Ato de União de 1707, quando foi criado o Reino Unido. Naquele período, quem reinava sobre aqueles domínios era a rainha Anne, última representante da dinastia Stuart e descendente direta de Mary. Muitas décadas depois, as joias foram redescobertas pelo célebre romancista Sir Walter Scott, cuja produção bibliográfica inclui títulos dedicados à trágica rainha da Escócia. Graças a um novo sistema de enfileiramento gerenciando na Crown Square, a joias da coroa podem novamente ser apreciadas pelo público, seguindo os devidos protocolos de distanciamento social.

A regalia da Coroa da Escócia, no Castelo de Edimburgo. A Coroa foi feita a partir de 1540, quando o rei Jaime V ordenou que o ourives de Edimburgo, John Mosman, refizesse a peça original. O diadema na base é feito de puro ouro escocês, incrustado com 22 gemas e 20 pedras preciosas retiradas da antiga coroa. Pérolas de água doce dos rios da Escócia também foram usadas na confecção. A coroa pesa 3 lb 10 onças (1644 g). Foi remodelada em 1540 por James V, pai de Mary Stuart, quando o capuz de veludo e a base de arminho foram adicionados.
Além dessas inovações, o piso do Museu será demarcado com círculos ao redor da mundialmente famosa espada cerimonial. Códigos QR serão aplicados às vitrines de exposição, dando acesso a uma guia virtual de áudio, narrando a história de cada peça. O castelo de Edimburgo costuma ser um dos locais mais visitados na Grã-Bretanha, devido à importância de sua construção. No dia 30 de abril de 2021, o ambiente foi reaberto para o público que comprou as entradas na pré-venda, iniciada no início do mês. Não só o castelo de Edimburgo, como também o palácio de Linlithgow (onde Mary nasceu e foi coroada), o castelo de Stirling, o castelo de Urquhart, o castelo de St Andrews e a abadia de Melrose foram reabertas para visitação. Ou seja, 70% do Patrimônio Histórico da Escócia (HES) reativou seus sites de ingressos, enquanto outros pontos de vendas devem ser novamente abertos ao longo dos dias. Isso só foi possível graças ao sucesso das medidas de contenção da Covid no país. Dessa forma, quase 1000 anos de história escocesa poderão novamente ser desfilados aos olhos do observador.

O castelo de Edimburgo, na Escócia.
Como Mary Stuart era uma bebê na época de sua ascensão ao trono, o governo ficou nas mãos de regentes até que ela atingisse a maioridade. Em 1549, quando tinha sete anos, a soberana foi mandada sigilosamente para a França, onde seria educada na corte do rei Henrique II, enquanto sua mãe ficaria governando em seu lugar. Sob os auspícios da família real francesa e de seus parentes Guise, Mary foi educada para se tornar a próxima rainha consorte. Em 24 de abril de 1558, aos 15 anos, ela se casou com o delfim Francisco, mais tarde rei Francisco II. Infelizmente, o tempo de Mary como rainha da França foi curto, tendo enviuvado em dezembro de 1560, aos 18 anos. No ano seguinte, ela retornou para a Escócia, onde assumiu suas funções como monarca reinante. Infelizmente, uma série de conspirações e intrigas, maquinadas pelos lordes escoceses insubordinados, fizeram com que a rainha tomasse várias atitudes precipitadas e se envolvesse numa guerra contra sua própria nobreza. Em 1568, sem ter a quem recorrer, ela pediu asilo para sua prima, Elizabeth I da Inglaterra. A partir de então, começariam os anos de encarceramento de Mary em solo estrangeiro, que terminariam apenas com sua execução, em 7 de fevereiro de 1587, por ordem da própria Elizabeth.

Mary Stuart, rainha da Escócia, por artista desconhecido.
Alex Paterson, presidente-executivo da HES, visitou o castelo de Edimburgo na quinta-feira, dia 29 de abril, para uma prévia antes da reabertura oficial da exposição ao público. Segundo ele:
Como antes, haverá medidas para facilitar o distanciamento social, bem como inovações para a experiência do visitante, incluindo novas tours de áudio e conteúdo digital. Sabemos o quanto as pessoas gostam de poder acessar ambientes históricos e trabalhamos duro para fornecer uma combinação de locais em todo o país, com mais de 70 por cento de nossos espaços sendo inaugurados no dia 30 e muitos outros em uma base gradual nos próximos meses. Na véspera do que é uma reabertura histórica, tem sido ótimo estar no castelo para ver todo o trabalho árduo das equipes se concretizando enquanto nos preparamos para receber os visitantes mais uma vez.
Conforme dito anteriormente, as medidas de distanciamento social foram seguidas à risca. Os visitantes estarão usando protetores faciais, tanto em espaços abertos quanto fechados. Haverá também um controle de entrada por grupos, com sistemas unilaterais implantados em alguns locais, permitindo que as pessoas façam pagamento sem ter contato físico com o cobrador. Todos os castelos e palácios seguirão os padrões operacionais mínimos estipulados pela HES, desenvolvidos para estabelecer uma referência para a reabertura segura desses locais históricos e a retomada de suas atividades operacionais. Os ingressos devem ser reservados online com antecedência, no site da HES.
Fonte: EDINBURGH NEWS
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