Peça central da coroa perdida de Henrique VIII é encontrada com um detector de metais!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Um pequeno rei dourado se ergue da lama, após ficar escondido dos olhos do mundo por mais de 400 anos. A figura, que mede aproximadamente 6 centímetros, foi encontrada em 2017 na região de Northamptonshire e pode ter sido parte da coroa perdida do rei Henrique VIII. A joia foi desmantelada por Oliver Cromwell em 1650, durante a Guerra Civil inglesa. Usando um detector de metais, o escavador Kevin Duckett desenterrou a pequena peça, cuja imagem representa o rei Henrique VI segurando o orbe e o cetro real nas mãos. Ele encontrou o objeto 30 minutos depois de começar a fazer uma busca pelo campo de Little Oxendon. Após anos de pesquisas, alguns especialistas concluíram que o artefato se trate realmente de uma das peças centrais da coroa do famoso monarca inglês, que teria sido removida antes que Cromwell ordenasse seu desmanche, juntamente com outras joias medievais, incluindo a coroa original de Eduardo, o Confessor, que era usada especialmente nas cerimônias de coroação dos soberanos da Inglaterra.

Na base da figura, pode-se ver a iniciais S. H. de São Henrique, em referência a Henrique VI, o monarca que teria desencadeado a Guerra das Duas Rosas no século XV e foi postumamente considerado santo.

Com efeito, o Sr. Duckett disse que começou a cavar em uma região com solo instável, próxima a um lago. “Eu cavei, joguei um torrão de terra para cima e lá fora estava o brilho do ouro. Foi surpreendente ver aquela pequena figura olhando para mim, enquanto eu limpava sua sujeira. Foi um momento incrível”, disse o técnico de 49 anos. Tendo iniciado suas pesquisas pelo palácio de Hampton Court, onde se encontra em exposição uma réplica da coroa de Henrique VIII, Kevin concluiu que a peça achada por ele se tratava de uma parte da original. “Fiquei absolutamente maravilhado quando olhei para a coroa, vi esta joia e percebi que era exatamente a mesma [que eu havia descoberto]. Foi alucinante”, disse Duckett. Na base da figura, pode-se ver a iniciais S. H. de São Henrique, em referência a Henrique VI, o monarca que teria desencadeado a Guerra das Duas Rosas no século XV. Conforme ressalta a historiadora Leanda de Lisle: “Primeiro, as pessoas decidiram que embora tivesse sido um péssimo rei, ele fora um homem bom e o declararam santo”.

Usando um detector de metais, o escavador Kevin Duckett desenterrou a pequena peça.

A coroa foi descrita pela primeira vez durante o reinado de Henrique VIII. Inicialmente, a peça incluía três figuras de Cristo, uma de São Jorge e outra da Virgem Maria e seu filho. Relatos posteriores à morte do soberano, em 1547, revelam que os três Cristos foram substituídos por três monarcas, entre eles Henrique VI. Segundo Leanda de Lisle, biógrafa do rei Charles I (último monarca a usar a coroa real), é possível que a figura, assim como as outras peças do conjunto, tivesse sido removida antes da Guerra Civil estourar em 1640. A descoberta aconteceu nas proximidades do campo da batalha de Naseby, de onde o rei Charles e seus companheiros se viram forçados a fugir depois de terem sido derrotados pelo exercido de Cromwell. Durante a fuga, o monarca deixou para trás todos os seus objetos e papeis, incluindo itens de valor. Isso explicaria como parte das joias da coroa acabaram parando naquela localidade. Em 1646, Charles finalmente se rendeu aos seus inimigos e em 30 de janeiro de 1649 foi executado em Whitehall. Sua coroa (ou o que restou dela – pesando 7 libras e seis onças, avaliadas pelo Parlamento em £ 1.100) foi reduzida a moedas e 344 gemas individuais.

Charles I em 1631 ao lado da coroa. Pintura de Daniel Mytens.

Por outro lado, Leanda de Lisle acrescenta: “Não podemos ter certeza de que seja uma parte da coroa Tudor, mas isso é possível – o que a torna muito importante. Mesmo se não for, ainda é bastante interessante”. De acordo com a historiadora, durante o processo de Reforma da Igreja no século XVI e a Guerra Civil no século XVII, “as obras de arte religiosas foram quase todas destruídas e agora nos resta muito pouco, então esta figura de ouro é incrivelmente rara”. Segundo informação dos Palácios Históricos Reais, a coroa pode ter sido feita tanto para Henrique VII quanto para seu filho, Henrique VIII, sendo sucessivamente utilizada nas coroações dos outros monarcas da dinastia Tudor: Eduardo VI, Maria I e Elizabeth I. Depois disso, o rei Charles I foi retratado ao lado da peça em 1631, permitindo assim que os especialistas a recriassem de forma “muito precisa”. A réplica atualmente se encontra em exposição no palácio de Hampton Court. O Museu Britânico classificou a figura achada por Kevin Duckett como um “distintivo de peregrino”, feito no final da Idade Média.

Réplica da coroa de Henrique VIII, exposta no palácio de Hampton Court.

Contudo, mais pesquisas ainda precisam ser feitas até que se tenha certeza de que a peça tenha feito parte da coroa perdida de Henrique VIII. Para que seja adquirida por algum Museu, é necessário que o objeto passe pela avaliação de outros pesquisadores independentes. Porém, na opinião de Julian Evan-Hart, editor da Treasure Hunting Magazine, existe 99,9% de chances de que o item seja autêntico. Em caso afirmativo, seu valor estipulado seria algo acima de 2 milhões de libras. “Esta pequena estatueta esmaltada de ouro, além de suas quase certas associações históricas, é de fato um achado fantástico”, acrescentou Julian. Tanto Kevin Duckett quanto o dono das terras onde a joia foi encontrada teriam direito de receber uma recompensa pelo valor de mercado, no caso de um inquérito comprovar que ela seja propriedade da Coroa, ou se alguma instituição demonstre interesse na sua aquisição.

O Sr. Duckett criou esta imagem para mostrar como sua descoberta (foto à esquerda) parece semelhante em comparação com a réplica.

Atualmente, o escavador aguarda para que seu achado seja adicionado à coleção real do palácio de Hampton Court, ao lado de sua réplica. Com efeito, Lucy Worsley, curadora-chefe dos Palácios Históricos Reais, disse: “É uma ótima notícia que, após séculos de sono subterrâneo, essa pequena figura dourada seja mais uma vez revelada, e é tentador imaginar sua verdadeira história. Seria parte de uma coroa há muito perdida?”. Para a pesquisadora, não podemos ter “certeza se algum dia saberemos, mas mesmo assim, ela fornece uma janela incrível para o mundo dos Tudor e a habilidade e arte dos ourives do século XVI”.

Fontes:

BBC News – Acesso em 03 de fevereiro de 2021.

Daily Mail – Acesso em 03 de fevereiro de 2021.

Express UK – Acesso em 03 de fevereiro de 2021.

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