ROBBINS, Sarah J. Malala: Minha história em defesa dos direitos da meninas. Tradução de Lígia Azevedo. São Paulo: Seguinte, 2020.
Em 12 de outubro de 2012, uma garota paquistanesa, residente no vale do Swat, se preparava para mais uma dia de aula na escola local. Meses antes, o ensino para garotas havia sido proibido por uma congregação de extremistas religiosos, que usavam de violência para impor um estilo de vida onde a educação seria apenas privilégio dos homens. A garota então levantou sua voz contra a ignorância e o mundo todo a escutou. Seu nome é Malala Yousafzai e ela tinha uma prova naquele dia 12. De volta para casa, no ônibus escolar, ela e suas amigas conversavam tranquilamente sobre as questões da avaliação, até que o veículo de repente parou. Um homem do Talibã, movimento fundamenta islâmico, entrou no carro e perguntou quem era Malala. A única coisa de que a jovem se lembra depois disso foi de acordar em uma cama de hospital em Birmigham, na Inglaterra, a léguas de distância de sua família e de sua casa.

Malala Yousafzai
A história de Malala se tornou famosa no mundo todo, assim como sua campanha em prol dos direitos femininos por uma educação de qualidade. Vencedora do Prêmio Nobel da Paz em dezembro de 2014, sua cruzada foi contada primeiramente no livro Eu sou Malala: A história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã, publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2013. Em seguida, ela lançou a obra Longe de casa: Minha jornada e histórias de refugiadas pelo mundo (Seguinte, 2019), que compila narrativas sobre as vidas de outras garotas refugiadas ao redor do mundo, que ela conheceu durante suas peregrinações com o Fundo Malala, destinado à educação feminina. Agora, uma nova edição do seu primeiro livro, com tradução de Lígia Azevedo e linguagem adaptada para o público infanto-juvenil por Sarah J. Robbins, acaba de sair pela editora Seguinte, um selo da Companhia das Letras.
Em Malala: minha história em defesa dos direitos das meninas, escrito em parceria com Patricia McCormick, acompanhamos a história da garota paquistanesa, filha de um professor e diretor de escola, que cresceu entre as paredes de uma sala de aula. Seu sonho de criança, ela conta, era se tornar uma médica e por isso se dedicava com afinco aos estudos. Mas, à medida em que a situação política no vale do Swat ficava periclitante, devido aos conflitos entre o Talibã e as forças do exército, ela sentiu que a defesa dos direitos de seu povo e, principalmente, de seu gênero, era mais urgente. Assim, no início de 2009, aos 13 anos, Malala começou a escrever um blog para a BBC, contando como era a vida sob o Talibã. Em seguida, passou a aparecer na mídia, discursando para grandes audiências. Por seu ativismo, foi agraciada com o Prêmio Internacional da Paz para Crianças e o Prêmio Nacional da Paz para Jovens.

Malala (Edição infantojuvenil): Minha história em defesa dos direitos das Meninas. Editora Seguinte, 2020.
Infelizmente, a campanha de Malala começou a incomodar os extremistas religiosos, que queriam um regresso aos antigos costumes islâmicos, amordaçando assim as vozes femininas com o uso das burcas. Em meio a ameaças de morte, a jovem não se calou. Em um de seus discursos, ela disse: “Não é a Idade da Pedra. Mas parece que estamos regredindo. Cada vez mais, as meninas estão sendo privadas dos seus direitos. Não temos medo de ninguém e vamos seguir com nossa educação. Esse é o nosso sonho”. Enquanto isso, escolas eram destruídas e o medo espalhado entre a população. Malala conta em seu livro das noites em que toda a família dormia agarrada no quarto dos pais, ouvindo o som das explosões e rezando para que Deus, ou Alá, poupasse suas vidas. A situação parecia ter sido controlada, até aquele fatídico dia 12 de outubro, quando ela foi gravemente baleada na cabeça, dentro ônibus que a trazia de volta pra casa.
A nova edição de Eu Sou Malala possui uma linguagem leve e prazerosa. É como se de fato estivéssemos sentados numa mesa, tomando um café com a autora e ela nos contasse toda a sua história. O livro ainda contém belíssimas ilustrações feitas por Joanie Stone de cenas e lembranças descritas por Malala. O texto flui de uma forma surpreendente e pode ser lido de um só fôlego. Por meio de suas palavras, Malala Yousafzai nos ensina o amor ao próximo e a ter esperança, principalmente no sonho de que a educação possa transformar as pessoas. Como a própria disse em seu discurso ao Nobel da Paz: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem salvar o mundo”. Atualmente, ela continua vivendo na Inglaterra, onde ingressou na Universidade de Oxford e dá continuidade aos projetos desenvolvidos pelo Fundo que carrega seu nome, auxiliando garotas de todas as partes do globo.
Renato Drummond Tapioca Neto
Graduado em História – UESC
Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade – UESB