Por: Renato Drummond Tapioca Neto
A casa de bonecas da rainha Mary de Teck, consorte do rei George V do Reino Unido, é simplesmente considerada a maior, mais bela e luxuosa casa de bonecas do mundo! Montada entre os anos de 1921 e 1924 pelo renomado arquiteto Sir Edwin Lutyens, a estrutura contou com a colaboração de mais de 1.500 artesãos, pintores e fabricantes do início do século XX. “Ela foi construída para durar mais do que todos nós. Para levar ao mundo no futuro esse nosso padrão diferenciado. É uma tentativa séria de expressar nosso tempo e mostrar em pequenas proporções os componentes da nossa época corrente”, disse A.C. Benson no livro The Book of The Queen’s Doll’s House (1924). A casa em miniatura contém os mais diversos cômodos, que reproduzem os ambientes de uma mansão paladiana, como uma sala de visitas, um salão de jantar, uma biblioteca contendo pequenos exemplares escritos pelos maiores nomes da literatura de então, um adega abastecida com minigarrafas de vinho, além de um belíssimo jardim criado por Gertrude Jekyll. Nenhum detalhe foi esquecido, nem mesmo a fiação elétrica que ilumina a casinha, a água corrente que sai da tubulação nas duas temperaturas e os elevadores funcionais. Cada cômodo foi minuciosamente mobilhado, como se esperasse para que nós explorássemos seus segredos.

A fachada da casa de bonecas da rainha Mary (fotografia de David Cripps).

O jardim criado por Gertrude Jekyll.

No lado oeste da casa, há uma garagem com cinco vagas. Todos os grandes fabricantes britânicos da época estão representados aqui: Daimler, Lanchester, Rolls-Royce, Sunbeam e Vauxhall. Cada empresa forneceu modelos personalizados nas cores marrom e preto, gravados com um brasão ou cifra real.

A planta do primeiro andar da casa, desenhada por Sir Edwin Lutyens.

Montada entre os anos de 1921 e 1924 pelo renomado arquiteto Sir Edwin Lutyens, a estrutura contou com a colaboração de mais de 1.500 artesãos, pintores e fabricantes do início do século XX.
Durante o reinado de George V, a rainha Mary foi uma das personalidades mais importantes da monarquia, não apenas pelo papel que desempenhou na fundação da dinastia de Windsor, em 1917, como também na reorganização do funcionamento da Casa Real. Assim que seu marido ascendeu ao trono em 1910, ela trabalhou na restauração dos palácios reais, dando-lhes um estilo próprio e eliminando tudo o que ela considerava de mau gosto. Amante da harmonia e da beleza, a rainha Mary era também uma colecionadora compulsiva. Da mesma forma que seu marido juntava selos em grandes e pesados livros encadernados, a soberana adquiria pares de móveis elegantes, telas de pintores famosos e reunia serviços de prata pertencentes à Coroa. Aos poucos, seu acervo de objetos foi se tornando famoso. Quando ela visitava um antiquário ou uma loja de móveis, por exemplo, era capaz de passar horas e horas barganhando o preço de algo que lhe interessava. Seus anfitriões tinham o costume de esconder em suas casas seus itens mais raros e preciosos, por receio de que a rainha manifestasse desejo por algum deles. De nada adiantava! No final, a rainha Mary saia com um sorriso no rosto e mais uma bugiganga para o seu valioso repositório.
O palácio de Buckingham, tal como o conhecemos hoje, deve muito ao seu trabalho como decoradora. Para valorizar suas qualidades intrínsecas, ela livrou seus corredores daquela quantidade enorme de pequenos bibelôs, para dar lugar a um tesouro de tapeçarias de cetim vermelho e esculturas em bronze. Ela retirou do sótão os antigos móveis empoeirados do período georgiano e lhes deu um novo acabamento. Também ordenou que suntuosos quartos de banho fossem instalados, assim como o aquecimento central. Levando tudo isso em consideração, podemos concluir que a inspiração para a criação da famosa casa de bonecas da soberana veio a partir de seu trabalho de restauração no antigo palácio da rainha Vitória. À medida em que os artesãos fabricavam banheiras em miniatura, camas, cômodas e cadeiras, a própria Mary podia se sentar confortavelmente na sua poltrona e contemplar o magnífico trabalho que fizera na sua própria residência. Muito do estilo e conduta da Casa Real a partir de então se deve a ela. Valores esses que mais tarde a soberana passaria para sua neta, a atual rainha Elizabeth II, ao introduzi-la nos deveres e cerimoniais da realeza.

O quarto dos servos nos andares inferior e superior do mezanino só podem ser acessadas pela escada traseira ou pelo elevador de serviço, fornecendo assim um exemplo de como era a vida dos funcionários do palácio na época.

As respectivas suítes do rei e da rainha podem ser acessadas no segundo andar, pela escada de mármore. Cada quarto contém artigos e decorações específicas para as necessidades do proprietário. O teto do quarto do rei foi pintado por George Plank, que sutilmente entrelaçou as notas da primeira linha do Hino Nacional em uma treliça de jardim.

As paredes do quarto da rainha são revestidas de damasco cinza-azulado, refletindo o estilo da década de 1920. Ambas as camas têm colchões de crina de cavalo em cima de molas e garrafas de água quente foram colocadas sob os lençóis.

A sala de estar da rainha.
Inicialmente, a casa de bonecas era um projeto da princesa Marie Louise, prima do rei George V. Ciente de que a rainha Mary era uma admiradora de miniaturas e belos objetos, a princesa decidiu então que a casinha seria um presente para ela. Após a Primeira Guerra Mundial, o arquiteto Sir Edwin Lutyens começou a trabalhar no desenho do pequeno edifício. Chefiado por ele, um comitê decidiu como seria o estilo da casa, de modo que todo o seu conteúdo fosse da mais alta qualidade e em perfeitas proporções. Assim sendo, o comitê decidiu que o projeto deveria ser um empreendimento coletivo, com os custos e a mão de obra distribuídas entre o maior número de profissionais possíveis. Para atrair contribuintes, Lutyens organizava jantares no Savoy regularmente. Graças ao auxílio que ele recebeu em tais eventos, o arquiteto conseguiu concluir a casa em 1924. Ao todo, cerca de 250 artesãos e fabricantes, 60 artistas e decoradores, 700 pintores, 600 escritores e 500 patrocinadores se empenharam no projeto (estima-se que esses números sejam ainda maiores!). Dessa forma, o conteúdo da casa foi produzido por artífices de todo o país, representando o que havia de melhor no artesanato da época.
“Quantas residências em Londres, mesmo em Berkeley Square e Park Lane, têm uma biblioteca que consiste em duzentos livros escritos pelas próprias mãos de seus autores e uma coleção de mais de setecentas aquarelas de artistas vivos?”, escreveu E.V. Lucas. “Duvido que você possa encontrar a contraparte disso no verdadeiro palácio de Buckingham”, completou o autor, enaltecendo a magnificência da biblioteca da casa de bonecas da rainha Mary. A coleção de arte do pequeno edifício é composta por desenhos, aquarelas, esboços, impressões e gravuras. As obras recebidas totalizaram 750 e cobrem uma vasta gama de assuntos e estilos, produzidos por mais de 700 artistas da época. Mas as pinturas não se limitam às telas em miniatura. Em muitos dos quartos, tetos e paredes são adornados com murais. Edmund Dulac (1882–1955), por exemplo, pintou contos de fadas nas paredes da creche e o teto do guarda-roupas do rei apresenta nus femininos, pintados por Wilfrid de Gelhn (1870–1951). Além disso, a coleção da casa inclui 50 partituras musicais autografadas e não publicadas, encadernadas em couro e gravadas com o monograma da rainha. Os músicos que contribuíram com o projeto incluem nomes importantes como Gustav Holst, Frederick Delius, Arthur Bliss, John Ireland e Arnold Bax.

A biblioteca.

O berçário.

O saloon.

A sala de Jantar. Aqui, atrás de portões de grade totalmente funcionais, um serviço de jantar de prata para 18 pessoas é mantido. Quando o jantar não estava envolvido, o Saloon no andar de cima teria sido usado para entretenimento formal. Seu conjunto de cadeiras e sofás são no estilo Luís XV, cobertos com bordados incrivelmente minúsculos.

A adega.
A estrutura foi exposta pela primeira vez em Wembley por um período de sete meses e mais de 1,5 milhão de pessoas a viram. No ano seguinte, em 1925, ela foi transferida para o castelo de Windsor e instalada em uma sala projetada pelo próprio Lutyens, onde pode ser vista até hoje. Para além de seu apego à cultura material, a rainha Mary de Teck deu incondicional apoio ao rei nas fases mais turbulentas de seu reinado, principalmente durante a Guerra. Proibiu o consumo de bebidas alcoólicas no palácio, pelo menos “enquanto durassem as hostilidades”, e se dedicou a ajudar os soldados feridos. Ela também obrigou outras mulheres de sua família a seguirem seu exemplo. Quando uma delas se queixou de que estava fatigada de visitar tantos hospitais, a rainha Mary respondeu: “pertenceis à família real de Inglaterra. Nós nunca nos cansamos e adoramos hospitais”. Seu senso de dever e abnegação foi adotado numa época em que a família real era vista com forte hostilidade por causa de suas origens alemãs. Para se identificar com o nacionalismo britânico, eles alteraram o nome da Casa Real e varreram para debaixo do tapete suas conexões com outras dinastias estrangeiras, aproximando-se mais de seus súditos. A rainha Mary viveu até os 85 anos, falecendo em março de 1953.
Para maiores informações, acesse o site da Royal Collection Trust, clicando aqui!
Referências Bibliográficas:
CARTER, Miranda. Os três imperadores: três primos, três impérios e o caminho para a Primeira Guerra Mundial. Tradução de Manuel Santos Marques. Alfragide, Portugal: Texto Editores, 2010.
KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.
MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.
MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70.
Tudo isso é funcional p pessoas ou p.bonecas e crisnças?
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