Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Por séculos, a imagem de Ana Bolena tem sido relacionada a inúmeros rumores originados enquanto ainda vivia na corte e desfrutava do favor do rei. Entre eles, podemos facilmente identificar os famosos seis dedos que possuía em uma das mãos, ou as inúmeras manchas que se dizia estarem espalhadas pelo seu corpo. Mesmo após a morte dela (1536), pessoas juraram que viram seu fantasma vagueando pelos locais por que passara, ou mesmo lebres (a marca da feiticeira) correndo em bando no aniversário de seu assassinato. Acusada de inúmeros crimes de lesa majestade, inclusive de incesto com o próprio irmão, eis que surge uma banal possibilidade levantada acerca da paternidade desta senhora: poderia ela própria ter se relacionado com o pai? Nesse caso, não me refiro a Sir Thomas Bolena, mas ao rei Henrique VIII, que segundo as más línguas do período, teria tomado por amante Elizabeth Howard, mãe daquela que viria a ser sua segunda esposa.

Uma tez morena, rosto oval, olhos grandes e lábios salientes sempre foram características físicas descritas em Ana Bolena.
Tal hipótese foi levantada quando Maria Bolena partilhava do leito real, para conseguir vantagens para a família. Seu pai, como se sabe, era um homem ambicioso, a ponto de fazer de sua primogênita numa prostituta pra conseguir o que queria. Sob esse aspecto, não seria de todo impossível que antes disso, tivesse também transformado a esposa em uma concubina do rei, que, por sua vez, poderia tê-la engravidado. Porém, uma análise cronológica dos acontecimentos torna essa alternativa equivocada e imprecisa. De acordo com os registros, Ana Bolena nasceu provavelmente entre os anos de 1500-1501 em Blickling Hall, em Norfolk, e aos doze anos foi enviada à corte de Margarida da Áustria, nos Países Baixos, em 1513, quando Henrique contava quatro anos no trono e dedicava devoção pela rainha Catarina. Nascido em 1491, o filho homem mais novo de Isabel de York e Henrique VII fora criado desde a tenra idade para a vida clerical, até que o herdeiro do trono, Arthur, morre, fazendo do irmão o próximo na linha de sucessão.
A partir de 1502, o jovem Henrique passa a receber toda a proteção possível da família e de seus preceptores, uma vez que era o único varão do rei. Nesse sistema, excluíam-se esportes perigosos e exposição demasiada a ambientes que podiam lhe prejudicar a saúde, mesmo com cortesãos. Por esse período, Elizabeth Howard e Thomas Bolena haviam a pouco se casado e tido uma prole considerável de filhos (um a cada ano, de acordo com a carta que Sir Thomas escrevera ao secretário Cromwell). Em 1509, o jovem príncipe Henrique assume o trono, sendo o oitavo a reinar com esse nome. Toma como sua consorte a viúva do irmão, por quem era apaixonado. Entre as damas que viriam a compor o séquito de Catarina de Aragão, estava a mãe de Maria, Ana e George, e foi aí quando provavelmente se envolvera com rei.
Dado o fato de que, em 1529, Henrique não se pronunciou acerca da virtude da esposa na primeira noite do casal, é possível presumir que na ocasião ele próprio era virgem e inexperiente. Como um marido apaixonado, é pouco crível de que escolhesse uma amante a essa altura do campeonato. Eric Ives, um dos principais biógrafos de Ana Bolena, descarta o envolvimento de Henrique com Elizabeth Howard, dizendo que:
“… O rumor do relacionamento entre Henrique e a esposa de Thomas Bolena foi amplamente difundido, mas nada ainda foi descoberto para contrariar a negação do rei; o mais provável é que confundiram Elizabeth Bolena com Elizabeth Blount (a conhecida amante de Henrique). Depois partidários católicos endossaram esse erro na afirmação de que Ana Bolena era filha de Henrique VIII! Para conseguir tal façanha Henrique teria que ter sido astuto o suficiente para escapar das medidas de proteção de seu pai, assim como um tanto precoce – em 1501 ele tinha 10 anos de idade.” (IVES, 2010, pag. 16).¹
Quando essa falácia chegou aos ouvidos do rei, de que ele e a progenitora de sua amada eram amantes, teria respondido que “com a mãe nunca”. Todavia, se adotarmos 1507 como o ano de nascimento de Ana Bolena, quando Henrique tinha 16 anos, então as circunstâncias ofereceriam uma probabilidade de paternidade.

Os filhos de Henrique VII e Elizabeth de York possuíam rosto redondo, cabelos louro-avermelhados, pele leitosa, olhos e lábios pequenos, como podemos observar nos retratos dos irmãos Margaret, Henrique e Maria Tudor (respectivamente).
Entretanto, uma série de outros fatores poria essa afirmação em Cheque: primeiramente a severa rede de proteção a que o príncipe estava submetido, conforme descrito anteriormente (e reafirmado pelo excerto acima); segundo, sua compleição física. Ao se analisar os retratos dos filhos de Henrique VII e Isabel de York, se percebem que todos eles apresentam características em comum, como os cabelos louro-avermelhados, olhos e lábios pequenos, íris azul, pele leitosa e rosto redondo. Como herança genética do avô, rei Edward IV, também eram altos e bem formados de corpo. Já Ana Bolena possuía vários traços corporais que contrastavam com o dos Tudor, não necessariamente herdados da família da mãe, mas de sua ascendência paterna: o rosto oval, olhos grandes e negros, lábios salientes, busto não muito avantajado, pele azeitonada, e cabelos escuros, que segundo Antonia Fraser, ela certamente os obteve graças à avó irlandesa, mãe de Sir Thomas.
Por outro lado, faz-se necessária uma análise das características físicas das filhas de Henrique VIII com Catarina de Aragão e Ana Bolena: Maria e Elizabeth (respectivamente). Ao se analisar os retratos da futura Maria I, veremos uma mulher de cabelos cor de cobre, pela alva, rosto redondo, olhos e boca pequena. Não obstante, ela possuía também uma forte herança genética da mãe, como, por exemplo, a estatura e a própria tonalidade dos cabelos. Uma autêntica Tudor, em suma, mas também uma herdeira da casa de Trastâmara. Já em Elizabeth percebemos um rosto oval como o da mãe, olhos grandes também, mas uma pele perolada e uma cabeleira louro-avermelhada, adquiridas pelo lado paterno. Dessa forma, não seria possível presumir que se Ana Bolena fosse realmente filha do rei, portaria pelo menos algumas das feições do mesmo? Mas, pelo contrário, o aspecto físico dos Bolena era muito mais marcante na rainha Ana, inclusive maior do quem em seus irmãos George e Maria.

As filhas de Henrique VIII, princesas Elizabeth e Maria (respectivamente).
Não obstante, Henrique tinha consciência de todos os seus possíveis bastardos e não cometeria o erro de se relacionar com a filha de uma amante passada. A literatura também foi muito responsável pelas dúvidas sobre a paternidade de Ana. Em The Cuncubine, de Norah Lofts, Elizabeth Howard é descrita como uma mulher leviana e que havia mantido relações com o rei. Mas a trama de um romance, embora venha a contribuir, e muito, para a escrita do passado, não deve ser tomada como fonte exata para se investiga-lo. Sendo assim, diante do que foi exposto, não acredito que Henrique VIII fosse pai de Ana Bolena, porém não ignoro a possibilidade de que este tenha mantido relações sexuais com a mãe desta, dado ao fator ambição que era inerente ao caráter de Sir Thomas Bolena, um homem capaz de jogar as próprias filhas na cama de seu soberano para se promover. Dessa forma, cabe então aos pesquisadores da área lançarem mais luz a essa questão, na tentativa de desmitificar tamanho escândalo ligando o rei e sua Lady.
Notas:
¹Traduzido da obra em inglês pelo autor.
Referências Bibliográficas:
FRASER, Antonia. As Seis Mulheres de Henrique VIII. Tradução de Luiz Carlos Do Nascimento E Silva. 2ª edição. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.
IVES, Eric W. The life and death of Anne Boleyn: ‘the most happy’. – United Kingdom: Blackwell Publishing, 2010.
LOADES, David. As Rainhas Tudor – o poder no feminino em Inglaterra (séculos XV – XVII). Tradução de Paulo Mendes. – Portugal: Caleidoscópio, 2010.
LOFTS, Norah. Ana Bolena – o amor de Henrique VIII. Tradução de C. E. Schleier. – São Paulo: Edições MM, 1976.
Texto editado a partir de: “Poderia Ana Bolena ser filha de Henrique VIII?“
porque ANA BOLENA
foi matada enforcada
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Olá, Tamirys. Ana Bolena não foi enforcada, mas decapitada de acordo com a vontade do rei, devido ao fato de ter sido julgada culpada de crimes como traição, adultério, incesto e bruxaria. Tais acusações, por sua vez, careciam de uma base sólida de argumentação, de modo que todas as provas levantadas não passaram de maquinações do secretário Cromwell para derrubar a rainha e deixar o caminho livre para Henrique VIII escolher outra esposa.
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O rei abriu uma igreja fala com boca cheia que deus a castigou que Ana não consegue dar um filho homem, mais soube mandar matar a Ana sua esposa fiel ,leal inteligente. E diz crê em Deus e faz a maldade com a mãe de sua própria filha, coitada de Ana não precisava de inimigo seu marido já era seu próprio inimigo. Tem aquela frase dormia com cobra e acordei picada. ,👉ATEIA
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Show e isso mesmo Renato , amo aninha minha diva !
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Sou muito fã dessa história…
E de Ana Bolena… Ela foi ousada e forte.
Toda vez que assisti o filme: “A outra”, eu choro com a morte de Ana… Mas me alegro com a atitude de Maria Bolena em relação a filha de Ana.
Sou muito fã também de Elizabeth a ruivinha …
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