Por: Renato Drummond Tapioca Neto
Conclusão: Uma reputação irremediavelmente abalada
Desde 1774 (ano que marca a subida de Luís XVI ai trono), o parlamento havia se oposto a muitas das decisões do rei. Apesar de não estar presente no tribunal, ficou claro que uma decisão favorável ao cardeal de Rohan seria o mesmo que declarar Maria Antonieta culpada aos olhos do público. Sendo assim, ela esperava que a condenação do cardeal fosse declarada. Contudo, ao ver dos magistrados, Madame de La Motte era a verdadeira responsável pelo golpe. A opinião pública, por sua vez, era totalmente a favor do clérigo, que o considerava vítima das pretensões da rainha. Obviamente, a soberana não se acomodou, e fez como intermediário seu o barão de Breteuil, para que este tentasse convencer o promotor público da participação de Luís de Rohan. Mas as provas contra o réu não eram suficientes para aplicar um veredito de culpabilidade.
Com efeito, as supostas cartas que ele trocara com “Maria Antonieta da França” haviam sido queimadas por ordens de seu proprietário. Do contrário, a mera apresentação das mesmas, bastaria para limpar a honra da soberana. Enquanto isso, a multidão de parisienses fazia circular pelas cidades todas as mínimas notícias do processo em forma de panfletos, que tinham por finalidade exaltar a inocência do cardeal, e a difamação da imagem de Antonieta.

As Memórias de Jeanne de La Motte Valois, publicadas em Londres, em que a autora diz que Maria Antonieta tinha participação no caso do colar de Diamantes e que, ainda por cima, mantinha um relacionamento com a rainha.
Às seis horas da manhã do dia 31 de maio, começou a sessão de sentença. A população se aglomerou ao redor do Palácio da Justiça, e lá permaneceu até às dez da noite na espera do veredito. Jeanne e seu amante, Réteaux de Villet foram declarados culpados: ele fora banido do reino, enquanto ela seria açoitada em praça pública e depois marcada com ferro em brasa com um V de voleuse (ladra). Todavia, o que gerou maior comoção nacional fora a absolvição de Rohan, recebida pelas pessoas com um grito de “Vive Le Cardinal”. O rei, indignado com o veredito, retirara do príncipe de sangue o cargo de grande capelão, e o exilou na abadia de La Chaise-Dieu. A rainha, por sua vez, estava inconsolável. Anos mais tarde, Napoleão evidenciara o erro da monarquia no caso do colar de diamantes da seguinte forma:
“A rainha era inocente e, para tornar pública a própria inocência, quis que o Parlamento fosse juiz. O resultado foi que se considerou a rainha culpada” (apud ZWEIG, 1981, pag. 185).
Logo, os súditos começaram a castigar a figura de sua soberana apelidando-a de Madame Déficit, e aplicando o título em um de seus quadros expostos na Grande Galeria. Algum tempo depois, quando consegui fugir da prisão e se refugiar na Inglaterra, Jeanne de La Motte, presuntiva descendente de Henrique II, publicara sua versão do L’affair Du Collier, em que afirmava que a rainha sempre estivera ciente da compra do colar, e que, além de duto, eram amantes¹. Infelizmente, para Maria Antonieta, que naqueles tempos estava decida a se tornar uma soberana mais preocupada com o povo e ciente de seus erros, era tarde demais.
Notas:
¹Jeanne de La Motte morreu em Londres em 23 de Agosto de 1791, após cair da janela de seu quarto. Para alguns, fora assassinada por partidários da família real francesa. Entretanto, o mais provável é que estivesse a empreender uma tentativa de fuga de seus credores.
Referências Bibliográficas:
FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Tradução de Maria Beatriz de Medina. 4ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2009.
LEVER, Evelyne. Maria Antonieta: A última rainha da França. Tradução de S. Duarte. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
WEBER, Caroline. Rainha da Moda: como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução. Tradução de Maria Luiza X. De A. Borges. – Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
ZWEIG, Stefan. Maria Antonieta. Tradução de Medeiros e Albuquerque. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.