Suposta mecha de cabelos embranquecidos de Maria Antonieta é leiloada em Paris!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Um lenda popular diz que, horas antes de Maria Antonieta ser executada, em 16 de outubro de 1793, seu cabelo teria ficado completamente branco, devido ao estresse causado pelo julgamento no Tribunal Revolucionário. Inclusive, a ciência batizou essa patologia como “síndrome de Maria Antonieta”. Porém, esse é mais um entre os muitos mitos ligados à rainha da França. As mechas loiras da esposa de Luís XVI, que outrora foram razão de orgulho, embranqueceram precocemente durante seus últimos anos de vida, devido às situações estressantes experimentadas durante a primeira fase da Revolução. Para além disso, a saúde de seus cabelos foi comprometida em função da moda! Suas madeixas eram puxadas e repuxadas para se acomodarem a penteados extravagantes, que podiam chegar a 1m de altura. Recentemente, um medalhão contendo uma mecha do cabelo branco da rainha foi vendido em um leilão, ocorrido em Paris.

Maria Antonieta diante do Tribunal Revolucionário. Sua figura estava completamente emaciada, apesar dos seus 37 anos (Gravura de Cazenove, 1794).

Ao longo de sua vida, Maria Antonieta distribuiu várias mechas de seus cabelos, decorando anéis e broches, para seus amigos mais íntimos. Essa era uma prática muito comum no século XVIII, que se manteria acesa nos períodos seguintes. Alguns desses relicários hoje podem ser apreciados em várias instituições pela Europa, como no Museu Britânico, no Museé Carnavalet e na Conciergerie, onde Antonieta passou suas últimas semanas de vida. Enquanto esteve presa na Torre do Templo, entre 1792 e 1793, a monarca já não tinha mais à sua disposição o famoso cabeleireiro Léonard, que outrora montara verdadeiras obras de arte no topo de sua cabeça (a mais notável foi uma réplica do navio de guerra francês, La Belle Paule). Era sua cunhada, madame Élisabeth, que cortava seus cabelos. Não se sabe o destino dos fios, uma vez que a rainha costumava recolhê-los para a confecção de mementos.

Memento com moldura de latão, contendo uma suposta mecha de cabelo de Maria Antonieta. A peça foi leiloada em Paris por 7.500 euros.

Contudo, uma suposta mecha de cabelo, que remonta à fase em que ela esteve encarcerada junto com a família no Templo, teria sobrevivido. Os fios brancos estão atados por uma linha preta e acompanham um pedaço de fita da mesma cor. Junto com o medalhão, uma nota manuscrita feita por autor desconhecido diz o seguinte: “O cabelo de Maria Antonieta, rainha da França, foi dado a mim por um promotor da Comuna [governo revolucionário] encarregado das inspeções da prisão do Templo no momento em que esta infeliz mulher foi detida lá”. Não se sabe quem seria o destinatário do memento ou quais as razões que teriam levado Maria Antonieta a lhe dar um presente como esse. Tal gesto era considerado “uma prova de amor ou amizade”, conforme ressalta o leiloeiro Jean-Pierre Osenat, em depoimento ao jornal The Times.

Nota manuscrita que acompanha o memento com os cabelos brancos de Maria Antonieta: “O cabelo de Maria Antonieta, rainha da França, foi dado a mim por um promotor da Comuna [governo revolucionário] encarregado das inspeções da prisão do Templo no momento em que esta infeliz mulher foi detida lá”.

Quando Maria Antonieta compareceu para o primeiro dia de julgamento no Tribunal Revolucionário, em 14 de outubro de 1793, sua figura causou verdadeiro espanto diante da audiência nas tribunas. Famosa por sua frivolidade e por supostamente escarnecer da miséria do povo com a frase “que comam brioches”, a ex-rainha mais parecia uma senhora de 60 anos, a despeito dos seus 37. Seu rosto continha muitas rugas de expressão e seus cabelos estavam completamente brancos. A madeixas foram depois rudemente tosquiadas pelo carrasco Sanson na manhã do dia 16, deixando assim o pescoço da vítima livre para a lâmina da guilhotina. Em seguida, os fios foram provavelmente queimados, para que não fossem feitos ícones com os restos mortais da monarca. Dessa forma, a mecha leiloada, caso realmente tenha pertencido a Maria Antonieta, não pode ter sido coletada instantes antes de sua morte. Ela pertence, portanto, a um período anterior.

Maria Antonieta se dirige ao Tribunal Revolucionário, por Paul Delaroche.

O medalhão com os cabelos e a nota manuscrita, por sua vez, foi vendido para um comprador anônimo por € 7.500 (aproximadamente R$ 48.138,72). Outra das antigas posses da rainha, um livros de orações (cujo lance inicial era de € 80.000, cerca de R$ 513.479,68), porém, não conseguiu atrair potenciais compradores. Os objetos ligados à última rainha da França absolutista se dissiparam pouco depois de sua morte. Antonieta, que já possuiu a maior coleção de joias da Europa, estava sem quaisquer de seus ornamentos quando fora julgada e condenada. Seu guarda-roupas, que antes ocupava três cômodos do Palácio de Versalhes, resumia-se no final a um vestido preto, um xale de viúva, uma touca e uma chemise branca de musselina, traje que ela escolheu para enfrentar seu destino, naquela manhã do dia 16 de outubro de 1793, na Praça da Revolução.

Fonte:

HOWARD, Harry. The lock of white hair ‘cut from Marie Antoinette’ hours before the French queen’s execution. 2025 – Acesso em 27 de maio de 2025.

Deixe um comentário