Por: Renato Drummond Tapioca Neto
O que mulheres como Elizabeth II do Reino Unido, Margrethe II da Dinamarca, Ntfombi Twala da Suazilândia e Beatrix dos Países Baixos possuem em comum? Para além do fato de terem sido quatro mulheres liderando monarquias na segunda metade do século XX, elas foram retratadas pelo olhar irreverente do artista Andy Warhol. Numa série de 16 serigrafias, feitas em 1985, Warhol imortalizou o perfil de cada uma das soberanas, usando diferentes paletas de cores vivas, que chamam a atenção do observador. De muitas formas, ele foi responsável pela apropriação das referidas monarcas como verdadeiros ícones da cultura pop, razão pela qual tanto se fala de cada uma delas até os dias de hoje.

As 16 pranchas da série “Rainhas Reinantes”, de Andy Warhol, representando Elizabeth II do Reino Unido, Margrethe II da Dinamarca, Ntfombi Twala da Suazilândia e Beatrix dos Países Baixos.
Um dos maiores nomes do movimento do Pop Art, Warhol já havia mostrado seu fascínio por celebridades e figuras políticas em obras que retratam Marilyn Monroe e o presidente John F. Kennedy. O conceito por trás de suas serigrafias mistura elementos como cultura de massa, publicidade e expressão artística. Ele também se dedicou a outros gêneros como escultura, fotografia e cinema. Dessa forma, Warhol se tornou um dos artistas mais referenciados da arte moderna, sendo um dos primeiros a usar a técnica da serigrafia para produzir retratos em múltiplas versões. A série “Rainhas Reinantes” (Reigning Queens) é um bom exemplo disso. Nas obras, Beatrix, Elizabeth, Margrethe e Ntfombi surgem como matriarcas poderosas e chefes de Estado, cujo direito ao trono provinha de seu nascimento e não pelo casamento.

Elizabeth II do Reino Unido
Além das 16 pranchas originais, outra série “de luxo” foi produzida (também chamada de “edição Royal”), utilizando pó de diamante ou “vidro moído” para ressaltar ainda mais as cores. O portfólio completo ficou pronto em meados da década de 1980, durante os últimos anos de vida do artista, fase em que ela estava mais prolífico. Foi por volta dessa época que Warhol começou a criar laços com artistas em ascensão no cenário nova-iorquino, como Jean-Michel Basquiat, Julian Schnabel e David Salle. Nessa época, seu reconhecimento criativo tinha ganhado novo fôlego, razão pela qual ele se concentrou em diferentes personalidades da década. Esse é o caso das quatro rainhas, que para Andy Warhol personificavam a ideia de celebridade política, combinada ao estilo de arte empresarial que ele desenvolvia.

Margrethe II da Dinamarca
De acordo com a descrição no site Artsy.net:
Criado em 1985, “Reigning Queens” é o maior portfólio de serigrafias de Andy Warhol. A série apresenta 16 gravuras coloridas retratando quatro rainhas governantes da época: Rainha Elizabeth II da Inglaterra, Rainha Beatrix da Holanda, Rainha Margrethe II da Dinamarca e Rainha Ntombi Twala da Suazilândia. Notavelmente, “Rainhas Reinantes” inclui apenas rainhas que assumiram o trono por direito de nascença, não por casamento. Warhol, que era fascinado por imagens universais, baseou essas serigrafias nos retratos oficiais do estado das rainhas, escolhendo essas representações porque muitas vezes eram produzidas em massa em selos e moedas. Em 2012, a rainha Elizabeth II da Inglaterra comemorou 60 anos no trono, comprando quatro dos retratos de Warhol para a Royal Collection, trazendo o artista pop um passo mais perto de seu notório desejo: “Quero ser tão famoso quanto a rainha da Inglaterra”.
Andy Warhol se baseou em fotografias oficiais das soberanas, usadas na época para emissão de selos, cédulas e moedas. Vale ressaltar que nenhuma das quatro posou diretamente para ele. Usando um projetor, os perfis das monarcas foram gravados sobre pranchas em cores abstratas, algo que era considerado uma marca do artista. Segundo a Tate Galleries, as edições Royal possuem “um efeito brilhante e extravagante”. As versões do artista para Elizabeth II, na opinião da revista Time, retratam a monarca “como qualquer outra celebridade, congelada no tempo e em cores brilhantes”. Em 2012, a Royal Collection adquiriu quatro gravuras da coleção de luxo. Elas são as únicas do acervo da coleção de arte do Palácio para as quais a soberana não posou e/ou comissionou.

Ntfombi Twala da Suazilândia.
Talvez as versões de Elizabeth II tenham ficado mais conhecidas do que as outras três, em grande parte por causa da proeminência da rainha britânica nos meios de comunicação da época, como rádio e televisão, incluindo a música-protesto “God Save The Queen”, da banda Sex Pistols. As pranchas foram baseadas numa fotografia de 2 de abril de 1975, tirada no castelo de Windsor, quando a monarca tinha 49 anos, por Peter Grugeon. Mais tarde, a imagem seria utilizada nas comemorações do Jubileu de Prata da soberana (25 anos de reinado), em 1977. A British Royal Collection escreveu a seguinte descrição das versões criadas pelo artista na década seguinte: “Warhol simplificou o retrato de Grugeon para que tudo o que resta seja um rosto semelhante a uma máscara. Todo o caráter foi removido e somos confrontados por um símbolo do poder real”.

Beatrix dos Países Baixos
As obras foram expostas pela primeira vez no Leo Castelli Gallery de Nova York, entre os meses de setembro e outubro de 1985. Warhol teria ficado chateado com o local da exposição, uma vez que, na sua opinião, o público de uma república como a dos Estados Unidos jamais saberia apreciar corretamente aquelas obras de arte. Ele manifestou sua insatisfação da seguinte forma em seus diários: “Eu simplesmente odeio George Mulder por mostrar aqui na América. Eles deveriam ser apenas para a Europa – ninguém aqui se importa com a realeza e será outra crítica ruim”. Parece que o artista estava pressentindo o tipo de comentários que viriam a seguir, uma vez que o crítico de arte, Wayne Koestenbaum, classificou o conjunto como o “fundo do poço” da carreira de Warhol. Já Anthony Haden-Guest, escreveu que a série “foi corretamente vista como um ataque descarado ao rico mercado kitsch”, no seu livro de 1998.
Referências Bibliográficas:
HODGE, Susie. Breve história da arte moderna: Um guia de bolso dos principais movimentos, obras, temas e técnicas. São Paulo: Olhares, 2024.
REVOLVEL GALLERY – Acesso em 06 de novembro de 2024.













