A Biblioteca dos Tudor: livros da poderosa dinastia inglesa são destaque em exposição!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

O período em que a Inglaterra foi governada pela Casa dos Tudor, de 1485 a 1603, coincidiu com uma das fases de maior poder da Coroa Britânica. Sob o reinado de seus monarcas, não apenas o comércio floresceu e a economia se dinamizou, como também houve maior valorização da arte e da literatura nacional. Além disso, foi durante os 118 anos de regência da dinastia que as duas primeiras soberanas na história inglesa ascenderam ao trono por direito próprio: Maria I e Elizabeth I, que pavimentaram o caminho para as outras quatro rainhas que viriam nos séculos seguintes. Durante a gestão de Henrique VII (fundador da família real em 1485 após vencer o rei Ricardo III), até a morte da rainha Elizabeth I, última representante da genealogia, os Tudor deixaram um impressionante legado cultural, que ainda atrai a atenção das pessoas, mesmo 500 anos depois. Seja através de filmes, séries, biografias, romances ou exposições, nunca se falou tanto de uma dinastia de reis na Inglaterra como essa. Atualmente, eles são alvo de uma nova amostra no Metropolitan Museum of Art, em Nova York.

The Tudors: Art and Majesty in Renaissance England, captura diversas peculiaridades dos reis, rainhas, príncipes e princesas da família real, incluindo seu amor pelos livros. Uma educação primorosa, que priorizava o estudo de matérias avançadas como Latim, Retórica, Grego, Literatura, Direito, entre outras, fazia parte do programa reservado aos príncipes e princesas da Casa Real, desde que Henrique VII assumiu o trono. Em seguida, ele se casou com a rainha Isabel de York, com quem teve quatro filhos: Arthur, príncipe de Gales, Margaret, rainha da Escócia, Henrique VIII, e Mary Rose, rainha da França. Na exibição que agora se encontra aberta no The Met, cerca de 100 objetos, incluindo retratos e livros ligados aos principais nomes da dinastia, estão ao alcance dos olhos públicos. Ricas tapeçarias, armaduras e esculturas também se encontram em exposição. Os maiores destaques, porém, ficam para os livros de horas e manuscritos raros, contendo belíssimas ilustrações pintadas a mãos, utilizando materiais como ouro e outras tintas fabricadas com metais preciosos.

Livro de Horas de Mary da Inglaterra, rainha da França, 1500-1505. Velino (95 folhas), 38 miniaturas. Na coleção da Bibliothèque Municipale de Lyon.

Entre os itens mais belos da coleção, podemos destacar o Livro de Horas de Mary da Inglaterra, rainha da França, datado em cerca de 1495-1500 e com iluminuras pintadas com têmpera sobre velino, atribuídas ao Mestre Claude de França. A obra teria sido dada a Mary por seu noivo, o rei Luís XII, em 1514, quando a irmã mais nova do rei Henrique VIII cruzou o canal da mancha para se casar com o já idoso monarca francês. Infelizmente, Luís faleceu poucas semanas depois, deixando a jovem Mary viúva e livre para contrair segundas núpcias, desta vez com Charles Brandon, duque de Suffolk.

Além do Livro de Horas de Mary, constam na exposição duas edições do Astronomicum Caesareum, texto de cunho astrológico que a realeza costumava utilizar para mapear as estrelas e, com base nisso, tomar decisões críticas, especialmente em casos que envolvessem conflitos armados. Um dos exemplares pertenceu ao rei Henrique VIII e foi confeccionado em 1540 por Georg e Petrus Apianus, com xilogravuras coloridas à mão por Michael Ostendorfer. De acordo com o The Met, “Henrique VIII, que possuía os melhores livros contemporâneos do mercado, provavelmente mantinha sua cópia ao lado de outros livros astronômicos na Secret Jewel House, na Torre de Londres”.

Jean Mallard (francês, ativo 1534/1553) “O Saltério de Henrique VIII”, 1540, têmpera em pergaminho. Na coleção da Biblioteca Britânica.

Com efeito, outra obra que chama a atenção é o Atos dos Apóstolos e o Apocalipse, um belíssimo manuscrito de origem flamenga, feito em pergaminho por volta de 1519-1520. Nas suas páginas, encontra-se uma belíssima pintura atribuída a Lucas Horenbout, principal miniaturista na corte do rei Henrique VIII, ou então a outro membro de sua família, Susanna Horenbout. As imagens apresentam um dragão Tudor e um cão da raça galgo, rosas Tudor (mais tarde adotas como símbolo da coroa inglesa, com a rosa branca dos York dentro da rosa vermelha dos Lancaster) e a ponte levadiça Beaufort, em referência à avó de Henrique VIII, Margaret, considerada por muitos historiadores como a matriarca da dinastia.

Entre as obras que também se encontram em exposição, podemos destacar: o Saltério de Henrique VIII (1540),  livro de orações confeccionado em pergaminho e pintado com têmpera, contendo miniaturas do artista francês Jean Mallard. Este volume era usado pelo próprio monarca, no qual ele aparece representado fazendo suas anotações manuscritas; a Bíblia Coverdale, impressa em 1535, com folha de rosto desenhada por Hans Holbein, o Jovem, e A Grande Bíblia de 1540, impressa em velino, com folha de rosto atribuída a Lucas Horenbout. Esta última edição, que pertencia ao rei Henrique VII, foi pintada à mão e impressa em pergaminho

Instrução de uma mulher cristã é outra obra de destaque na exposição. Escrita pelo espanhol Juan Luís Vives a pedido da rainha Catarina de Aragão, o texto deveria orientar a jovem princesa Maria, única filha do primeiro casamento do rei Henrique VIII, no seu futuro papel como soberana reinante. O livro (dedicado a Catarina) pode ser considerado como o primeiro tratado sobre educação feminina escrito no Renascimento. A edição que se encontra no Metropolitan Museum data de 1557 e pode ter pertencido à Lady Elizabeth, mais tarde rainha Elizabeth I, após a morte de sua irmã, Maria I.

Vista da instalação de The Tudors: Art and Majesty in Renaissance England, em exibição até 8 de janeiro de 2023 no Metropolitan Museum of Art.

Outros livros que constam na exposição são: Tabula Cebetis, and De Mortis Effectibus, um manuscrito acadêmico de 1507, transcrito por um frade italiano, possivelmente como um presente para o rei Henrique VII; Octonários sobre a vaidade e a inconstância do mundo (c. 1600), um manuscrito em tinta e aquarela, feito por uma artista mulher, Esther Inglis (de origem francesa ou britânica), que transcreveu e pintou os textos devocionais; The First and Chief Groundes of Architecture Used in All the Auncient and Famous Monymentes (1563) de John Shute, que pode ser considerado como o primeiro tratado de arquitetura impresso em inglês. Shute o escreveu a pedido do rei Edward VI, único sucessor do sexo masculino do rei Henrique VIII, falecido em 1553. A obra, porém, só foi publicada durante o reinado de sua irmã, a rainha Elizabeth I.

“A literatura renascentista inglesa desta época, particularmente as peças de William Shakespeare, ainda continua mundialmente famosa”, disse o co-curador da exposição, Adam Eaker, também associado ao departamento de pinturas europeias. “Esta exposição nos dá a oportunidade de apresentar ao público do The Met as impressionantes artes visuais do período e as maneiras pelas quais artistas e patronos usavam imagens para navegar nas águas traiçoeiras da vida da corte. Em vez de uma história ilustrada da monarquia Tudor, oferece um novo olhar sobre as incríveis artes figurativas e decorativas feitas ou adquiridas para a corte”. A exposição permanecerá em exibição até 8 de janeiro de 2023.

Fonte: Fine Books – Acesso em 05 de novembro de 2022.

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