Drácula e Elizabeth II: como o famoso vampiro está ligado à mais longeva das rainhas!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Entre os muitos personagens famosos que estão ligados à finada rainha Elizabeth II e ao seu filho, o rei Charles III, podemos destacar figuras como Ana Bolena, Mary Stuart, e até mesmo, dizem alguns, indivíduos mais distantes no tempo, como o profeta Maomé. Porém, o que poucos imaginam é que a monarca e seu sucessor descendem de ninguém menos que Vlad Tepes III, príncipe de Valáquia, que governou na segunda metade do século XV. Também conhecido como Vlad, o Empalador, ele foi imortalizado no romance ficcional de Bram Stoker e se tornou o vampiro mais famoso da Literatura, rebatizado de “Conde Drácula”. Seus descendentes acabaram se misturando a outras Casas Reais no continente, como os Württemberg, passando assim sua linhagem até a família real britânica. Elizabeth II podia retraçar sua ancestralidade 17 gerações, até chegar ao renomado nobre que viveu na região dos Cárpatos.

‘Pintura de acácia’ da Rainha Elizabeth II por William Dargie, 1955 (Acervo do Museu Nacional da Austrália).

Contudo, Vlad Tepes III não era conde, conforme ficou mais conhecido. Ele era filho natural de Vlad II Dracul, que também fora governante de Valáquia, no ano de 1436. Durante a guerra contra o Império Otomano, o jovem e seu irmão mais novo, Radu, foram feitos prisioneiros, como uma forma de chantagear seu pai. Em 1447, Vlad II e seu primogênito, Mircea, foram assinados por João Corvino, que era regente da Hungria. Como novo Voivoda da Valáquia, foi instalado então Ladislau II, que era primo em segundo grau de Vlad III. No ano de 1456, ele invadiu o território com o apoio do povo húngaro e destronou Ladislau, tomando seu lugar como Voivoda. Uma vez no poder, Vlad III Tepes lutou ferozmente contra os muçulmanos, passando a ser conhecido pela brutalidade de suas sentenças. Muitos dos prisioneiros de guerra eram enfiados em estacas e deixados lá para morrer. Assim nasceu o epíteto de “Vlad, o Empalador”.

Retrato de Vlad III no Palácio de Ambras (c. 1560), supostamente uma cópia de um original feito durante sua vida.

De acordo com algumas pesquisas de genealogia, Vlad III Tepes teve duas esposas. Com uma delas, chamada Cneajna Báthory, teve Mihnea I (também conhecido como Mihnea, O Mau), que foi príncipe de Valáquia. Sua descendência seguiu adiante, com o príncipe Alexandre II e Mihnea II. Todos eles foram, em algum tempo, governantes de Valáquia e sua descendência se ramificou entre as famílias nobres que viviam na região dos Cárpatos e além. Na outra mão, Vlad III Tepes teve outro filho, também chamado de Vlad. Esse IV Vlad assinava como Vlad Drakwlya, e reivindicou sem sucesso a Valáquia por volta de 1495. Esse nome tem origem no apelido do pai de Vlad III, que era conhecido como Vlad Dracul (O Dragão, em Romeno), sendo membro da Ordem de mesmo nome. Dracula, por sua vez, significa filho de Dracul.

Vídeo mostrando a ligação entre Vlad III tepes e a rainha Elizabeth II.

É a partir do quarto Vlad Drácula que o sangue do empalador corre nas veia da família real britânica, graças ao casamento da rainha Mary de Teck, sua descendente direta. As netas e bisnetas é Vlad IV se casaram com importantes famílias da Romênia e da Hungria, quando a condessa CClaudine Rhédey von Kis-Rhéde se tornou esposa morganática de  Alexandre de Württemberg. Eles foram pai de Francis, Duque de Teck e, portanto, avós da rainha Mary. A linhagem passou da seguinte forma:

Vlad Tepes III (“conde” Drácula)
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Vlad Drácula IV
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Vlaicu Drácula
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Vlad Drácula
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Borbála Bilky
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Vanesca Kornis
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Gáspár Kendeffy
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Judit-Anna Kendeffy
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Agnes-Izabella Bánffy
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Borbála Kapy
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Mária Thoroczkay
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Mihály Rhédey
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László Rhédey
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Condessa Claudine Rhédey
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Francis, Duque de Teck
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Rainha Mary de Teck
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Rei George VI
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Rainha Elizabeth II
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Rei Charles III

O próprio rei Charles III já admitiu ter consciência entre ele e Vlad Tepes III. Tela de Jonathan Yeo.

Em 1897, Bram Stoker publicou seu romance, transformando Vlad III tepes na figura do conde Drácula. A personagem, porém, se baseia mais nas lendas folclóricas de vampiro da Europa Oriental, do que na figura do próprio príncipe de Valáquia. Na Romênia, ele é tido como um herói nacional, por ter conseguido impedir a invasão muçulmana e defendido os cristãos, mesmo que lançando mão de técnicas tão brutais. O próprio rei Charles III, quando era príncipe de Gales, admitiu sua admiração por Vlad Tepes III e que tinha conhecimento de sua linhagem. Em vista à Romênia, o atual monarca chegou a passar pela região dos Cárpatos e outros lugares relacionados à vida do príncipe de Valáquia, que faleceu em 1477, mas que continua vivo (embora transformado em morto-vivo) no imaginário coletivo.

Bibliografia Consultada:

COUTINHO, Mário. Nobreza de sangue: Vlad e Báthory. Cotia: Pandorga, 2022.

KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.

MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.

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