Por: Renato Drummond Tapioca Neto
A arte dos mosaicos foi empregada na antiguidade nas mais diversas formas. Desde a decoração de pisos e paredes até a composição de quadros, pedras coloridas, seixos e vidros eram combinados para dar vida à imaginação humana. Tendo se originado na Antiga Mesopotâmia, por volta do III Milênio antes de Cristo, a técnica foi aperfeiçoada na Grécia e em Roma. Montados sobre gesso ou argamassa, os padrões geralmente representavam cenas das vidas dos Deuses e Heróis, como os que se encontram preservados em Zeugma e outros sítios arqueológicos na Sicília. Mais tarde, a prática foi incorporada por outras culturas, como a islâmica, e utilizada para o revestimento de templos religiosos, mesquitas e abadias. As combinações passaram a ser não-figurativas, privilegiando as formas geométricas em vez de personagens míticos. Hoje em dia, a arte dos mosaicos ainda é bastante apreciada pela arquitetura de grandes edifícios, sem que sua beleza se deixe perder por entre a selva de concreto das grandes cidades.
Nessa matéria, selecionamos alguns exemplos da arte sublime dos mosaicos na antiguidade e como ela influenciou outros artistas ao longo dos séculos. Começando nas Antigas Civilizações, sua técnica foi aperfeiçoada pelo Império Bizantino, depois pelos Árabes, culminando com a arte no interior das Igrejas. Dos grandes templos, chegaram ao interior das casas. A arqueologia, por sua vez, foi de suma importância para que essas obras fossem trazidas novamente à luz do dia, resgatando seu esplendor outrora soterrado por camadas de terra. Do barro à vida, os mosaicos podem nos contar uma história interessantíssima através de seus padrões intrincados, jogos e combinações de cores. Conforme a cantiga infantil nos induz a observar, pedrinhas de brilhantes, quando utilizadas para ladrilhar ruas e paredes, expressam um sentimento sublime que não se perdeu. Em vez disso, floresceu, aumentando ainda mais o fascínio pela criação humana através dos tempos.

Mosaico grego de 2.200 anos, encontrado por um time internacional de arqueólogos na região da cidade de Zeugma, uma antiga província grega na Turquia. O descobrimento da obra de notória beleza foi de grande relevância para os estudos da arte greco-romana. As representações estão em tal estado de preservação, que pouco aparentam ter mais de 2 milênios de história!

De acordo com o professor Kutalmış Görkay, que lidera o time de arqueólogos por trás da descoberta, os mosaicos coloridos eram parte integrante das casas da cidade antiga.

Chão de mosaicos gregos, com aproximadamente 2.200 anos, encontrado na cidade de Zeugma. O pavimento pertencia a uma antiga habitação, erguida à beira do rei Eufrates. Com o rebaixamento solo ao longo das eras, os mosaicos atualmente só podem ser apreciados quando as águas do rio estão em maré baixa.

Um gatinho malhado em cima do mosaico de um tigre, localizado no terraço das ruínas de uma habilitação na antiga cidade grega de Éfeso, atualmente na Turquia. O local era famoso por abrigar o templo da Deusa Ártemis, considerado uma das 7 maravilhas do mundo antigo. Hoje, suas ruínas recebem turistas de várias partes do mundo, que podem caminhar pela rua Curetes até a famosa biblioteca de Celso e conhecer os belíssimos mosaicos antigos que sobreviveriam ao tempo.

Um dos maiores mosaicos do período pré-romano já encontrados. Entalhado no chão das ruínas do Palácio de Aigai, ele demonstra padrões muito bem elaborados que representam o poder da Antiga Macedônia. Depois do Partenon, na Acrópole de Atenas, o Palácio de Aigai é considerado a segunda estrutura melhor preservada que remonta à época da Grécia clássica.

“O tapete mágico”. Arqueólogos trabalhando em um chão de mosaicos com mais de 10 mil m², que remonta ao antigo Império Romano, encontrado em Antioquia, na Turquia. Os terremotos ocorridos no local deram ao chão esse aspecto ondulado, fazendo com que os mosaicos parecessem o famoso tapete voador dos contos árabes.

Chão de mosaicos do Antigo Império Romano, escavado embaixo de um vinhedo em Negrar di Valpolicella, na Província de Verona, Itália.

Chão de mosaicos que remonta ao antigo Império Romano, encontrado por arqueólogos no subsolo de uma rua da cidade de Hvar (ou Lesina, em italiano), uma Ilha do mar Adriático localizada na costa da Dalmácia, na Croácia.

Chão de mosaicos na Villa Romana del Casale, na Sicília. Declarado como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, o sítio arqueológico é um dos mais belos pontos turísticos da Sicília, com as ruínas de seu magnífico Palácio composto por 48 dependências, todas decoradas com mosaicos que retratam cenas cotidianas no Antigo Império Romano. As cenas retratadas representam o cotidiano dos camponeses, o que é bastante raro nesse tipo de arte. As imagens se constituem fonte preciosas para o estudo da vida dos plebeus na Roma Antiga.

Chão de mosaicos descoberto entre as ruínas de uma antiga igreja bizantina, localizada no atual sítio arqueológico de Khirbet Beit Lei ou Beth Loya, nas planícies judaicas de Israel. Figuras geométricas formam uma moldura para uma cena da vida no mar, com uma embarcação à deriva, remando contra a maré, enquanto peixes nadam ao redor.

Ruínas de uma antiga pia batismal que remonta à época do Império Romano. Está situada na Basílica de St. Vitale, na cidade de Sbeitla, na Tunísia. Ramos de flores formam uma moldura ao redor do tanque, que certamente era utilizado para cerimônias de batismo nos primórdios do cristianismo.

O incrível chão de mosaicos em mármore da Catedral de Florença, na Itália, datado do século XVI.

Na Abadia de Westminster, em Londres, existe o interessante Pavimento Cosmati. O chão de mosaicos foi descrito por Shakespeare como “o chão do céu”, com seu rico simbolismo criado para evocar “o padrão eterno do universo”. Neste espaço aconteceram as cerimônias de coroação de todos os monarcas ingleses, desde Henrique III no século XIII, até Elizabeth II em 1953.

Mosaicos do antigo império romano, encontrados no distrito de Leicester, na Inglaterra, durante os trabalhos de reconstrução de uma fábrica localizada ente a Highcross Street e a Great Central Street. O processo de extração e restauração dos achados foram liderados pela equipe de Serviços Arqueológicos da Universidade de Leicester (Ulas). Os mosaicos encontradas apresentam padrões geométricos complexos, provavelmente feitos durante o século IV d.C. Richard Buckley, diretor da Ulas, disse: “Os mosaicos são uma descoberta significativa para Leicester e ficamos emocionados que tantas pessoas quisessem vê-los quando foram descobertos.” Os arqueólogos também descobriram no local grandes quantidades de cerâmica, moedas, broches, contas, grampos de cabelo, peças de jogos e objetos de manicure, bem como um cabo de faca decorado, fundido em liga de cobre, que aparentemente retrata uma cena mostrando vítimas atiradas aos leões no anfiteatro.

Mosaico em estilo grego clássico, que utiliza um impressionante efeito de sombras para dar realismo à forma da água e dos peixes. Conhecido como mosaico Koi Fish, de autoria do artista Gary Drostle, a obra oferece um belíssimo simulacro de peixes dentro de um aquário. A arte pode ser admirada em Croydon, Surrey, na Inglaterra.

Chão de ladrilhos hidráulicos do século XIX, descoberto durante as escavações feitas numa obra de modernização do sistema de esgotos do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Os ladrilhos se encontravam 75 cm abaixo do nível do solo. Os pesquisadores envolvidos no processo de reconhecimento e catalogação do achado, concluíram que o pavimento remonta aos tempos do Barão de Nova Friburgo, António Clemente Pinto, português que chegou ao Brasil em 1821 e construiu o edifício, na época chamado de Palácio Nova Friburgo.

Detalhe de uma fonte no Jardim das Princesas, no Paço de São Cristóvão (RJ), que até o incêndio de 2018 funcionou como Museu Nacional. Ali, a Imperatriz D. Teresa Cristina D. Teresa deu à posteridade uma prova de sua sensibilidade artística, através dos objetos de decoração que ela mesma aplicou nos jardins. Utilizando-se para este trabalho de materiais tais como conchas e cacos de louça, ela revestiu os bancos, fontes e paredes do Jardim das Princesas com interessantíssimas colunas de mosaicos, combinando cores e formas, por meio de uma técnica conhecida como “embrechamento”. A criatividade e a harmonia do conjunto resultante não deixam dúvidas quanto ao espírito delicado e artístico da esposa de D. Pedro II.
Obs. As imagens contidas nesse post foram usadas para fins educacionais. Não possuímos quaisquer direitos sobre elas. Caso você identifique os nomes dos fotógrafos, ficaremos muito felizes em acrescentar os devidos créditos.
Referências Bibliográficas:
HODGE, Susie. Breve História da Arte. São Paulo: Olhares, 2021.
HODGE, Susie. Breve história da arte moderna: Um guia de bolso dos principais movimentos, obras, temas e técnicas. São Paulo: Olhares, 2024.













