Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Em 25 de junho de 1870, a rainha Isabel II renunciava oficialmente ao trono da Espanha, no seu exílio em Paris. Na ocasião, os Bourbon haviam sido destronados por uma Revolução Republicana e Militar, com participação do povo, dois anos antes. Pouco querida entres seus súditos, Isabel abdicou em nome de seu filho, Afonso, Príncipe das Astúrias. Quatro anos depois, o herdeiro finalmente ascendeu ao trono, quando da restauração monárquica. Já sua mãe, que recebera em batismo o nome da famosa rainha guerreira do século XV, faleceu em Paris, no Palácio de Castela, em 1903. Desde que a primeira Isabel unificara o território espanhol ao lado de seu marido, o rei Fernando II de Aragão, com a expulsão dos mouros em 1492, apenas duas mulheres a sucederam no trono: sua filha, Joana I de Castela, e sua descente no século XIX, Isabel II. Todas essas soberanas herdaram a Coroa apenas devido à ausência de herdeiros do sexo masculino. Esse também parece ser o caso de Leonor, a atual Princesa das Astúrias. Ela se tornou herdeira presuntiva de seu pai, já que não possui irmãos.

A infanta Sofia da Espanha e sua irmã mais velha, Leonor, Princesa das Astúrias.

Nascida no dia 31 de outubro de 2005, em Madrid, a presuntiva herdeira da Coroa é a filha mais velha do rei Filipe VI com a rainha Letizia. A princesa veio ao mundo quando seus avós, Juan Carlos e Sofia da Grécia, ainda ocupavam o trono, antes de abdicarem em favor de seu primogênito, que se tornou rei em 2014. Quando de seu nascimento, Leonor era a segunda na Linha de Sucessão. Pouco depois, seus pais tiveram outra filha, a infanta Sofia, que veio ao mundo em 2007. Caso esta segunda criança tivesse sido um bebê do sexo masculino, então Leonor poderia perder seu posto hereditário. Embora discussões ainda estejam em andamento para atualizar as Leis de Sucessão da Coroa Espanhola, esta ainda privilegia a linhagem masculina em detrimento da feminina. Tendo sido batizada com águas do Rio Jordão no dia 14 de janeiro de 2006, numa bela cerimônia realizada nos jardins do Palácio da Zarzuela, em Madrid, Leonor teve como padrinhos os seus avós paternos, o rei Juan e a rainha Sofia. Dizem que sua mãe, a rainha Letizia, não tinha uma boa relação com a sogra, razão pela qual as netas foram criadas com certo distanciamento da avó.

A Princesa Leonor pode se tornar a primeira rainha da Espanha em quase 200 anos, desde Isabel II no século XIX.

Além de poder retraçar sua linhagem a poderosas monarcas castelhanas, como a rainha Isabel, a Católica e sua filha, Juana (pejorativamente chamada de “A Louca”), Leonor descende de uma poderosa linhagem de soberanas reinantes, que inclui a imperatriz Maria Teresa da Áustria e a rainha Vitória. Afinal, a Princesa das Astúrias é trineta de Victoria Eugénia de Battenberg, rainha consorte da Espanha e neta da poderosa monarca que emprestou seu nome a uma Era. Em 1931, quando a Guerra Civil derrubou novamente a monarquia, os Bourbon se exilaram na Suíça. Foi nesse contexto que nasceu o futuro rei Felipe VI. A velha Victoria Eugénia faleceria no exílio em Lausanne, na Suíça, em 15 de abril de 1969, aos 81 anos. Ela viveu o suficiente para batizar seu bisneto, o pai da Princesa Leonor. A monarquia Bourbon, por sua vez, seria restaurada em 22 de novembro de 1975, com o rei Juan Carlos I (neto de Vitória Eugénia). A partir de então, Filipe se tornou o Príncipe das Astúrias, título reservado apenas ao herdeiro do trono espanhol. Sua mãe, a rainha Sofia da Grécia e da Dinamarca era prima do príncipe Philip, duque de Edimburgo e marido da rainha Elizabeth II. Isso, por sua vez, só reforça as conexões entre a família real inglesa e a família real espanhola.

A Princesa Leonor aos 18 anos, em 2023, usando a Ordem do Tosão de Ouro.

Quando criança, Leonor foi matriculada no Colégio Santa Maria de los Rosales, uma instituição privada de orientação católica. Quando seu pai ascendeu ao trono da Espanha em 2014, após a abdicação de Juan Carlos, Leonor então se tornou a 36ª Princesa das Astúrias. Tanto ela quando sua irmã, Sofia, estavam presentes na cerimônia de aclamação do pai como rei Filipe VI. Nesse mesmo ano, em 12 de outubro, a pequena Leonor participou de seu primeiro compromisso como herdeira presuntiva do trono, nas celebrações do Dia Nacional da Espanha. Por ocasião de seu aniversário de 10 anos de idade, em 2015, seu pai lhe concedeu a Ordem do Tosão de Ouro, a mais alta Insígnia da Coroa. Em 2021, aos 16 anos, Leonor ingressou no Ensino Secundário no UWC Atlantic College, no País de Gales, onde concluiu seus estudos com Bacharelado Internacional, em maio de 2023 (a princesa Ingrid Alexandra, herdeira presuntiva do trono da Noruega, também concluiu seus estudos nessa mesma instituição). Nesse mesmo ano, Leonor deu início à sua formação militar na Academia Geral de Saragoça, onde também cursa o Ensino Superior.

Atualmente, a princesa está dando seguimento ao seu treinamento militar.

Na qualidade de herdeira presuntiva do trono, a jovem, que tem 19 anos, detém os títulos de Princesa das Astúrias, Princesa de Girona, Duquesa de Montblanc, Condessa de Cervera e Senhora de Balaguer. Além disso, Leonor é presidente honorária da Fundação Princesa das Astúrias e da Fundação Princesa de Girona. Em julho de 2024, ela vez sua primeira visita oficial de Estado a Portugal, representando a Espanha na qualidade de herdeira do trono, tendo sido recebida tanto pelo Presidente da República, quanto pelo Chefe de Governo. A princesa Leonor, que dentro de alguns meses completa 20 anos, é fluente em castelhano, inglês e catalão, além de ter estudado mandarim. Atualmente, ela está cursando o Ensino Superior numa série de Instituições Militares, que contemplam passagens pelo Exército, pela Marinha e pela Aeronáutica, para prepará-la para seu futuro papel como monarca reinante. À bordo do navio da Marinha, Leonor visitou diversos países, incluindo o Brasil. Entre os interesses pessoais da filha do rei Felipe VI e da rainha Letizia, destacam-se o piano e o canto, além de esportes como equitação e natação. A jovem ainda se destaca ainda pela defesa das causas sociais e humanitárias.