Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Não é de agora que monumento erguidos em homenagem à rainha Vitória (que reinou sob um vasto império entre os anos de 1837 e 1901), têm sido alvo de manifestantes. Tanto no Canadá quanto na Austrália e no Reino Unido, estátuas representando a monarca entronizada foram derrubadas de seus respectivos pedestais, pichadas com tinta vermelha e/ou então decapitadas. A cruzada contra símbolos que remontam ao passado colonialista da Grã-Bretanha ganhou força em pleno ano de 2020, em decorrência do movimento Black Lives Matter, quando o mundo vivia os piores momentos da pandemia de Coronavírus. Hoje, outra estátua da monarca, erguida em frente ao hotel QVB de Sydney, na Austrália, foi pichada por grupos nacionalistas durante uma ação de protesto, por ocasião da passagem do rei Charles III e da rainha Camilla pela cidade.

Estátua de bronze da rainha Vitória entronizada, com o orbe e o cetro nas mãos, em frente ao Hotel QVB, em Sydney.

A polícia recebeu uma ligação denunciando o ato por volta da 5h30 da manhã de 22 de outubro (conforme o fuso-horário UTC/GMT + 10 horas). Uma foto enviada por um ouvinte do programa Ben Fordham Live on 2GB mostra jatos de tinta vermelha por toda a base de pedra triangular de três metros da estátua, atingindo a figura de bronze representando a tetravó do rei Charles. Segundo testemunho de um ouvinte para a Fordham: “parece tinta vermelha. Eu posso ver que três policiais estão mantendo vigília ao redor neste momento… uma viatura está estacionada bem atrás”. De acordo com o depoimento do corpo NSW de polícia, a cena do crime já foi estabilizada e agora eles estão investigando os possíveis culpados da ação criminosa. O ato de vandalismo, ocorrido durante a viagem de cinco dias do monarca à Austrália, não deixa de ser um sinal de protesto.

Jatos de tinta vermelha foram jogados na base triangular de pedra da estátua.

Afinal, nem todos ficaram felizes com a visita do rei Charles e da rainha consorte. Todo o progresso da visita foi pontuado por protestos antimonarquistas. O incidente da tinta vermelha aconteceu apenas um dia depois que a senadora Lidia Thorpe confrontou a dupla enquanto estava na capital, em Canberra. A senadora indígena gritou vários sentimentos anticolonialistas no Great Hall de Canberra.

Devolvam-nos a terra que vocês roubaram de nós”, ela gritou. “Vocês cometeram genocídio contra nosso povo. Nossos ossos, nossos crânios, nossos bebês, nosso povo. Vocês destruíram nossa terra.

“Isso aconteceu horas antes do rei e da rainha visitarem a Opera House, logo abaixo da estrada”, disse Edwina Bartholomew, no Sunrise. “Ninguém foi pego ainda, mas como você pode imaginar, essa área tem muitas câmeras de segurança, então eles vão vasculhar tudo para descobrir quem fez isso durante a noite”.

A polícia ainda está tentando identificar os responsáveis.

Durante anos anteriores, a população australiana arraigou um forte sentimento antimonárquico, que atingiu seu ápice em 1983. Para aplacar o ânimo da população, o então príncipe Charles resolveu fazer uma tour pela Austrália e pela Nova Zelândia, carregando consigo a sua jovem esposa, Diana, princesa de Gales. O sucesso da viagem, aliado ao carisma da princesa, conseguiu reverter o quadro naquela ocasião. Nem por isso, focos de descontentamento deixaram de estourar nos anos seguintes, gerando assim uma enorme preocupação no Palácio. Afinal, não é de hoje que políticos nacionalistas querem a ruptura da Austrália com a família real e a criação de um governo independente, regido por um sistema republicado, em vez de uma monarquia parlamentarista. Nesse sentido, as estátuas da rainha Vitória, erguidas em vários pontos do país, são um lembrete constante do imperialismo britânico naquela região.

Um profissional tenta remover a tinta vermelha dos pés da estátua.

Por ter seu rosto estampado em selos, cédulas, moedas, flâmulas e monumentos, Vitória acabou se transformando na representação física de todo um passado que australianos e canadenses querem sepultar. As sequelas do neocolonialismo se fazem presentes até os dias de hoje, especialmente em países africanos, devido às políticas de segregação social, empobrecimento e drenagem dos recursos naturais. Olhando por esse prisma, fica fácil entender a razão de alguns grupos nacionalistas, que buscam destruir monumentos nos quais essa memória nefasta se cristalizou. A estátua da rainha Vitória que foi pichada em frente ao hotel QVB foi instalada na década de 1980, durante o reinado de Elizabeth II. Charles e Camilla devem permanecer cinco dias na cidade australiana, visitando vários lugares importantes, incluindo a Opera House.

Fontes:

2GB Sydney – Acesso em 21 de Outubro de 2024.

9 NEWS – Acesso em 21 de Outubro de 2024.

News Sydney – Acesso em 21 de Outubro de 2024.