“A rainha perdida da Inglaterra”: raro retrato de Lady Arbella Stuart, prima de Elizabeth I, é encontrado!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Em 1592, Nicholas Hilliard, o famoso miniaturista da corte da rainha Elizabeth I, pintou um retrato medindo 21,1cm por 17,6cm da prima da monarca, Lady Arbella Stuart, uma potencial herdeira do trono britânico. Nascida em 1575, Lady Arbella era filha de Charles Stuart, V conde de Lennox e neto da princesa Margaret da Inglaterra, rainha consorte dos Escoceses. Isso significava que a moça era uma descendente direta do rei Henrique VII, fundador da dinastia Tudor, além de prima do rei James VI dos Escoceses. Aos 16 anos, Lady Arbella possuía uma incrível semelhança com a velha soberana, em seus anos de juventude: pele de alabastro, cabelos ruivos, rosto oval e um porte delgado. Basta observamos a pintura recém-descoberta de Hilliard para termos uma comparação entre as duas.

Lady Arbella Stuart, em 1592. Miniatura feita por Nicholas Hilliard. Coleção Particular.

Na pintura de gabinete, Lady Arbella posa nos jardins do Palácio de Greenwich, usando um vestido branco ricamente adornado com contas e bordados de estrelas douradas. Ela usa uma gola alta rendada, que serve de apoio para seu rosto. Os cabelos foram penteados para trás, deixando o topo estrategicamente elevado para exibir joias e pérolas. Todo o conjunto remete aos retratos de Elizabeth I, nos quais ela encarna o epíteto da “rainha virgem”. Lady Arbella ainda segura uma guirlanda de flores coloridas da altura do ventre, o que simbolizava fertilidade e a continuidade da linhagem real. Em 1592, quando a obra foi finalizada, a monarca reinante tinha 59 anos e sem a menor possibilidade de vir a se casar e/ou gerar sucessores para o trono. Isso acabou criando uma preocupação entre seus conselheiros, em torno do potencial herdeiro.

Lady Arbella ficaria conhecida como “a rainha perdida da Inglaterra”, uma vez que ela foi preterida em detrimento de seu primo, James VI da Escócia, que ascendeu ao trono inglês como James I. Seu retrato foi descoberto em uma coleção particular pelas historiadoras da arte Elizabeth Goldring, do Centro para o Estudo do Renascimento da Universidade de Warwick, e Emma Rutherford. Embora a obra não esteja assinada, não resta dúvidas de que o traço seja de Hilliard, o primeiro artista inglês a alcançar projeção internacional, graças ao patrocínio da rainha Elizabeth I. Ele era bastante conhecido por seu trabalho como miniaturista, um gênero artístico também chamado de “limning”. Porém, existem pouquíssimas pinturas de gabinete feitas pelo seu pincel. A que retrata LArbella é uma entre as menos de dez catalogadas.

A obra de Hiliard guarda notável semelhança com a tela A “rainha virgem”, por Marcus Gheeraerts, o jovem, retratando a rainha Elizabeth I.

Com efeito, a pintura de gabinete podia ser pendurada na parede, como também exposta sobre uma cômoda, como uma espécie de porta-retratos, ou ainda decorar o interior de um estojo para joias. A Dra. Elizabeth Goldring, do Centro para o Estudo do Renascimento da Universidade de Warwick, disse: “Emma e eu estamos emocionadas por ter feito essa descoberta. A miniatura do gabinete de Hilliard de Arbella enriquece nossa compreensão não apenas de sua produção artística, mas também da complexa paisagem política e da cultura visual do final da Inglaterra elisabetana”. Na década de 1590, a jovem era vista como uma herdeira em potencial de sua prima e uma alternativa viável ao rei James VI, impedindo assim que a coroa inglesa passasse para as mãos de um monarca escocês, o que acabou acontecendo.

Impedida de assumir a coroa pela política dos conselheiros da rainha, que preferiam ver um homem no poder em vez de outra mulher, Lady Arbella teve uma vida pouco convencional para as nobres de seu tempo. Desafiando o rei James, ela se casou em 1610 com um homem de sua escolha, William Seymour, II duque de Somerset e outro pretendente ao trono. Por sua ousadia, Arbella foi colocada sob prisão domiciliar e seu marido enviado para a cadeia. Depois de uma tentativa fracassada de fuga do país, ela foi capturada e encarcerada na Torre de Londres, onde veio a falecer em 25 de setembro de 1615, depois de se recusar a comer. Na opinião de Emma Rutherford: “A vida de Arbella foi mergulhada em intrigas e estratégias políticas. O retrato de Hilliard de Arbella captura sua estatura real e potencial como futura rainha, oferecendo um vislumbre do mundo da política da corte elisabetana”.

Fonte:

Warwick University. Rare portrait discovered of ‘England’s Lost Queen’ – a cousin of Elizabeth I and a threat to her throne. 2024 – Acesso em 13 de agosto de 2024.

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