Carta com quase 500 anos, datada no início do reinado de Mary Stuart, é restaurada!

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Em 1546, uma carta, escrita em nome na pequena rainha dos escoceses, Mary Stuart, concedia novas terras ao IV conde de Argyll, Archibald Campbell, por seus serviços prestados à Coroa, em razão da execução de cerca de 50 rebeldes. Naquele período, a autoridade da jovem monarca, uma criança, era contestada tanto dentro quanto fora das fronteiras de seu reino, devido à impopularidade dos seus regentes, especialmente da rainha-mãe, Marie de Guise. Ao sul, o rei Henrique VIII planejava casá-la com seu herdeiro, Edward, príncipe de Gales, anexando assim o trono da Escócia ao da Inglaterra e da Irlanda. Guardado dobrado por quase 500 anos, o documento endereçado ao conde estava quase se esfacelando, até que uma equipe de restauradores conseguiu preservar a maior parte do seu conteúdo.

Uma mesa de luz revela onde havia buracos no documento, que data de 1546

Mary Stuart se tornou rainha quando tinha apenas 6 dias de nascimento, após a morte precoce de seu pai, o rei James V, em 14 de dezembro de 1542. Tendo vindo ao mundo no dia 8 daquele mês, no Palácio de Linlithgow, em West Lothian, ela reinou até o ano de 1567, quando foi forçada a abdicar do trono em favor do seu filho de um ano, o futuro James VI da Escócia e I da Inglaterra. Os próximos 19 anos de sua vida foram passados em cativeiro inglês, quando uma conspiração envolvendo seu nome para assassinar a rainha Elizabeth I acabou por levá-la a julgamento. Condenada por alta-traição, embora não fosse súdita de sua prima, Mary foi sentenciada à morte por decapitação. A execução da trágica rainha ocorreu no dia 8 de fevereiro de 1587, no castelo de Fotheringhay.

Mary Stuart, rainha da Escócia, reinou de 1542 até sua abdicação forçada, em 1567.

Documentos sobre os primeiros anos do reinado de Mary, contendo sua assinatura, são relativamente raros. A carta endereçada a Archibald Campbell é um deles. Ela era mantida no Castelo de Inveraray, propriedade da família Argyll, e foi conservada pela equipe do Highland Archive Centre, em Inverness. Uma vez que o trabalho de restauração fora concluído com sucesso, a carta deve ser devolvida para seu antigo lá, para que possa ser transcrita e estudada. Richard Aitken, conservador sênior do centro de arquivos High Life Highland (HLH), disse: “A carta chegou até nós dobrada e muito frágil, com muitas áreas sensíveis. Infelizmente o selo, que seria cera de abelha, está em fragmentos. Não sobrou muita coisa”.

O conservador sênior, Richard Aitken, no Highland Archive Centre.

Após ter sido cuidadosamente desdobrada, testes foram feitos com a tinta usada na escrita do texto, para aplicar o método de conservação mais seguro. O documento recebeu em seguida uma espécie de “banho”, em um procedimento conhecido como lavagem de fitato (complexo de ácido fítico e elementos minerais, sendo um agente quelante que reduz a biodisponibilidade mineral). Isso ajudou a remover o excesso de ácido do papel e a repor suas fibras. Depois dessa etapa, uma camada de papel japonês, um tecido usado em reparos de livros, foi delicadamente adicionada para tampar os buracos no documento. Aplicou-se também tecido no reverso, para alinhar e dar mais sustentação ao documento.

O Livro do Tesoureiro de Inverness tem sido outro dos projetos de restauração do centro.

Com efeito, o documento conservado em Inverness teria sido escrito em nome da rainha menina pelo regente real. Acredita-se que a assinatura de Mary esteja no verso do papel. Outro trabalho de conservação do centro de arquivos inclui a restauração do Livro do Tesoureiro de Inverness. Com mais de 220 páginas, ele registra as finanças da propriedade, entre os anos de 1732 e 1790, incluindo pagamentos por execuções realizadas para carrascos. O centro é um dos quatro na área das Terras Altas, com os outros em Wick, Portree e Fort William. Os arquivos do serviço datam de 1200. Os registros documentais de Inverness, uma vez contados, poderiam se estender por cerca de seis quilômetros.

Fonte:

BBC – Acesso em 22 de julho de 2024.

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