Por: Renato Drummond Tapioca Neto
A princesa Margaret do Reino Unido, condessa de Snowdon, é reconhecida por ser uma das mulheres mais belas e glamorosas da história da família real britânica. Para se ter uma ideia, na década de 1950, ela era também uma das solteiras mais cobiçadas pelos noivos em disposição. Seu charme hollywoodiano, acompanhado por uma tendência a transgredir o conservadorismo da realeza, era o contraponto perfeito para com a irmã mais velha, Elizabeth II. A monarca era mais sóbria e contida em seus gestos do que a princesa que, por sua vez, amava uma boa festa regada a champanhe, cigarros e companhias masculinas. Margaret também tinha o talento único para abrilhantar qualquer evento no qual estivesse representando a Coroa, fosse em inaugurações, estreias de filmes e peças teatrais, ou exposições. Em tais ocasiões, ela lançava mão de algumas das mais belas peças de joalheira guardadas nos cofres reais, escolhidas especialmente para combinar com seus vestidos de alta costura e penteados. Algumas de suas joias pessoais, como a icônica Tiara Poltimore, foram leiloadas após sua morte, em 2002, enquanto ouras ainda permanecem intactas no acervo do atual rei Charles III.
BRACELETE ART DÉCO

Bracelete de pérolas cultivadas e diamantes, em estilo Art Déco, que pertenceu à princesa Margaret.

Princesa Margaret Rose aos 19 anos, posando em 1949 para as lentes de Cecil Beaton. Em destaque, o bracelete de pérolas e diamantes.
Em 2021, uma das joias do acervo pessoal da princesa Margaret, que ela usou por quase toda a vida, foi leiloada pela casa londrina Dix Noonan Webb. Trata-se de um belíssimo bracelete em estilo Art Déco, com dois fios de pérolas cultivadas e fecho geométrico de diamantes, que a princesa tinha no braço esquerdo quando foi fotografada aos 19 anos por Cecil Beaton, em 1949. A imagem, por sua vez, só seria divulgada no livro de aniversário de 21 anos de Margaret, dois anos depois. A joia foi feita em 1925 pela Cartier e conserva até hoje seu estojo original, de couro vermelho. Foi anteriormente vendida na Christie’s em 2006, durante um leilão das joias de Sua Alteza Real a Princesa Margaret, Condessa de Snowdon. Sobre a sessão de fotos com a princesa usando o bracelete, Beaton se recorda em seu diário pessoa:
“Ela estava em Lords para o jogo Eton e Harrow, e voltou um pouco tarde, mas ela é uma mulher tão rápida, que alguns momentos depois de seu retorno ela apareceu transformada no novo vestido de noite que Hartnell havia lhe fornecido naquela manhã – um vestido sem graça de tule branco bordado com borboletas de lantejoulas e um lenço de tule arco-íris na cintura. Ela parecia muito bonita e usava bastante maquiagem – e os olhos são de um azul penetrante – gata e feroz e muito intocada e jovem…”
Beaton continuou dizendo que do que se lembrava: “‘Isso é muito emocionante’ ela disse enquanto caminhava pelo longo tapete vermelho em direção à sala de estar chinesa, na qual tínhamos colocado todo o nosso complicado aparato. ‘Eu confio que não te arrastei para longe dos Lordes’ – ‘Oh, não foi uma drag’, ela disse…”. E terminou mencionando: “Ela tinha estado acordada até às 5h30 da noite anterior (gosta da paz e do anonimato da discoteca 400) e, no final das duas horas de sessão, começou a murchar e ficou muito cansada…”.
A TIARA POLTIMORE

A belíssima Tiara Poltimore, uma das mais belas joias particulares da coleção da princesa Margaret Rose do Reino Unido.
Diferentemente de outras tiaras usadas pelas mulheres da família real britânica, a tiara Poltimore pertencia exclusivamente à irmã da rainha Elizabeth II e se tornou um adereço intimamente ligado à construção de sua persona pública, a partir do momento em que Margaret a usou no dia de seu casamento, em 6 de maio de 1960. A peça foi confeccionada em 1870 pelha joalheria Garrards (também responsável pela montagem de muitas das joias da realeza) a pedido de Lady Poltimore, esposa do segundo barão de Poltimore, Tesoureiro da rainha Vitória entre os anos de 1872 a 1874. Margaret comprou a tiara meses antes de seu casamento com o fotógrafo Antony “Tony” Armstrong-Jones. Seu design delicado apresenta intricados padrões florais e arabescos incrustados com diamantes, que podem ser desmontados e usados também na forma de um belíssimo colar e broches. A princesa Margaret a adquiriu num leilão ocorrido no ano de 1959 por 5.500 libras. Mas, após fazer parte da coleção de um dos membros mais importantes da família real, a importância e a historicidade da peça a tornaram muito mais valiosa. Após a morte da princesa, seus herdeiros venderam a Tiara Poltimore em 2006 num leilão organizado pela Christie’s, angariando a impressionante soma de 962.400 libras (cerca de 1,7 milhão de dólares). O comprador, por sua vez, preferiu não se identificar.
A PARURE DE TURQUESAS PERSAS

A princesa Margaret, condessa de Snowdon, usando colar, brincos e a tiara de diamantes e turquesas persas.
No seu aniversário de 21 anos, em 1951, a princesa Margaret recebeu de sua mãe, a rainha Elizabeth Bowes-Lyon, uma magnífica parure de turquesas persas e diamantes. A coleção, na verdade, começou quando a princesa ainda era uma bebê, com um cordão de contas de turquesas e pérolas. Ela foi crescendo ao longo dos anos, passando a incluir uma tiara, um colar, brincos pendentes combinando, um grande broche quadrado e várias peças de cabelo. A peça principal, a tiara, foi confeccionada pela Garrarg e comprada pela rainha Mary de Teck no início do século XX. Infelizmente, não se sabe se a soberana chegou a usar a peça antes de dá-la de presente de casamento para a esposa de seu filho Bertie, duque de York (futuro rei George VI), em 1923. A duquesa deu uma nova roupagem à joia, que era em estilo russo, mandando retirar seu arco superior de diamantes, para lhe dar um design mais aberto e moderno. Com a morte da princesa Margaret, parte da coleção de turquesas foi leiloada pela Christie’s, enquanto o colar de contas foi herdado por sua filha, Lady Sarah. Já a tiara, retornou para os cofres reais. Não se sabe se foi um presente vitalício oferecido à princesa, ou se a joia era de cunho pessoal.
CARTIER HALO TIARA

A princesa Margaret usando a Cartier Halo Tiara, em combinação com seu colar de diamantes, o Queen Mary’s Diamond Riviere, e um deslumbrante vestido desenhando por Christian Dior.
A belíssima Cartier Halo Tiara, inteiramente cravejada com diamantes dispostos sobre uma base de ouro branco com padrões de conchas. A joia foi confeccionada pela Cartier no ano de 1938 a pedido do rei George VI para sua esposa, a rainha Elizabeth Bowes-Lyon. Seis anos depois, em 1944, a tiara foi dada à princesa Elizabeth (futura soberana), em razão do seu aniversário de 18 anos. Quando ascendeu ao trono, em 1952, Elizabeth II herdou uma vasta coleção de joias, incluindo peças que remontavam ao reinado da rainha Vitória no século XIX. Essas joias, embora fossem em sua maioria propriedade da Coroa e não da pessoa da soberana, podiam ser passadas adiante pela monarca para uso de algum membro da família real em eventos oficiais. A princesa Margaret, por exemplo, usou a Cartier Halo Tiara em muitas ocasiões durante a década de 1950, combinando com seu colar de diamantes, o Queen Mary’s Diamond Riviere. Durante a coroação de sua irmã, em 2 de junho de 1953, ela também usou a peça, combinando-a com sua coroa de princesa. Em seguida, a Cartier Halo Tiara esteve entre as posses da princesa Anne, até ser vista novamente ornando a fronte de Kate Middleton, atual princesa de Gales, no dia do seu casamento com o príncipe William, em 2011.
O COLAR TECK HOOP

A princesa Margaret combinando o colar Teck Hoop com a Tiara Poltimore.
Podendo ser usado também como uma tiara, o colar Teck Hoop foi criado na década de 1860 para a mãe da rainha Mary de Teck, a princesa Maria Adelaide, duquesa de Teck. Seu design consiste em argolas de prata e couro, cravejada com diamantes. Em seguida, a joia passou para a cunhada da rainha Mary, Margaret, marquesa de Cambridge. Não se sabe se foi um simples empréstimo ou se o colar/tiara foi de fato herdado pela marquesa. O fato é que ele retornou para os cofres reais e voltou a ser usado pela rainha Elizabeth Bowes-Lyon, que gostava de colocá-lo em uma armação de tiara sobre a cabeça. A princesa Margaret foi a próxima mulher da família real a utilizar o colar. Elas costumava combiná-lo com sua estupenda tiara Poltimore ou então com a Tiara da Flor de Lótus. A peça passou das mãos da rainha-mãe para a princesa em caráter pessoal. Tanto, que hoje o colar Teck Hoop se encontra entre as posses do filho da princesa Margaret, David, segundo conde de Snowdon.
O QUEEN MARY’S DIAMOND RIVIERE

A famosa fotografia da princesa Margaret do Reino Unido, tirada em 1959 por Tony Armstrong Jones, seu futuro marido. Na imagem, a princesa usa dois brincos de pérolas pendentes e o colar Queen Mary’s Diamond Riviere.
Sem dúvidas, uma das joias preferidas da princesa Margaret era o Queen Mary’s Diamond Riviere, um belíssimo colar de diamantes que a rainha Mary de Teck ganhou em 1933 de Mount Stephen. Margaret acabou herdando o colar da avó e o usou ao longo da vida, incluindo em uma de suas fotos mais polêmicas. Tirada em 1959 por Antony “Tony” Armstrong-Jones, seu futuro marido, a foto causou algum desconforto na época, por causa da pose pouco convencional de Margaret, já que ela aparece desnuda do colo para cima e sem qualquer sugestão de estar vestida, exceto pelo uso do Queen Mary’s Diamond Riviere, que recebe amplo destaque na fotografia, e de um brinco de pérola redonda pendente. A família real teria desaprovado a imagem e considerado a atitude da princesa como irresponsável. No ano seguinte, ela se casava com o fotógrafo. Em 2006, o Queen Mary’s Diamond Riviere foi vendido por impressionantes US$ 1,8 milhão.
A TIARA FLOR DE LÓTUS

A princesa Margaret, condessa de Snowdon, usando a Tiara Flor de Lótus em uma fotografia ao lado de seu marido, Antony Armstrong-Jones, conde de Snowdon.
Encomendada à joalheria Garrard por ocasião do casamento do príncipe Bertie, duque de York, com Lady Elizabeth Bowes-Lyon em 1923, a Tiara Flor de Lótus possui um design que faz muita referência ao estilo Art Déco da década em que foi confeccionada. Pequenos diamantes dispostos em formato de flores de lótus (segundo a iconografia do Antigo Egito) aparecem ao longo de todo o arco da joia, intercalados com pérolas ornamentadas, despontando do topo das flores. A rainha-mãe costumava usá-la na década de 1920 de acordo com a moda do período, cobrindo a testa em vez de no topo da cabeça. Nas décadas seguintes, a princesa Margaret faria largo uso da joia em diversas ocasiões, combinando-a com outros diamantes de sua coleção. Embora sua aparência pareça modesta, se comparada com outras tiaras mais opulentas da coleção real, esta peça (também chamada de Queen Mother’s Papyrus Tiara) possui valor estipulado entre 3 e 4 milhões de libras esterlinas. Serena Stanhope, nora da princesa Margaret, usou a tiara no dia de seu casamento com David, visconde Linley, em outubro de 1993. Com a morte da princesa, a joia retornou para os cofres reais, onde permaneceu até o ano de 2015, quando ressurgiu embelezando Catherine, então duquesa de Cambridge.
GARGANTILHA DE PÉROLAS COM FECHO DE DIAMANTES

Margaret em 1951, em foto comemorativa do seu aniversário de 21 anos. Em destaque, a gargantilha de pérolas e o bracelete.
Como muitas mulheres da família real, a princesa Margaret possuía sua própria gargantilha de pérolas com fecho de diamantes, que ela costuma usar combinando com seu bracelete, feito com os mesmos materiais. A joia consiste em uma gargantilha com seis fios de pérolas, unidas por uma presilha de diamantes, que Margaret usou nos icônicos retratos feitos por Cecil Beaton, durante as sessões para seu álbum de aniversário de 21 anos. A ideia por trás da foto era mesclar a imagem da filha do rei George VI com a fantasia dos contos de fadas. Diferentemente de outras joias pessoais da princesa, a gargantilha foi herdada por sua filha, Lady Sarah.
A TIARA FLORAL SNOWDON

Lady Sarah Chatto, usando os broches de flores de diamantes de sua mãe em forma de tiara, e os brincos de pérola, no dia de seu casamento.
É comum que noivas da realeza utilizem tiaras no dia de seu casamento. Quando Lady Sarah Armstrong-Jones se uniu em matrimônio com Daniel Chatto, em 1994, por exemplo, ela usou os broches de flores de diamantes de sua mãe, dispostos em uma armação sobre a cabeça. O arranjo acabou ficando conhecido como Tiara Floral Snowdon, em referência ao título de nobreza do pai de Lady Sarah, Antony. As joias foram um presente de casamento dele para a princesa Margaret, em 1960. A então condessa Snowdon costuma usá-las como broches, antes de emprestar as três peças para que sua filha as usasse como tiara no dia de seu próprio matrimônio. A princesa ainda emprestou os famosos brincos de pérolas redondas sustentadas por fios de diamantes, com os quais Margaret foi fotografa por Antony em 1959, para o grande dia da filha. Atualmente, Lady Sarah Chatto é a proprietária tanto dos broches, quanto dos brincos. Ela utilizou as flores de diamantes durante o funeral de sua mãe, em 15 de fevereiro de 2002, e no funeral da rainha Elizabeth II, em 18 de setembro de 2022.
Referências Bibliográficas:
BROWN, Tina. Diana: crônicas íntimas. Tradução de Iva Sofia Gonçalves e Maria Inês Duque Estrada. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
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KELLEY, Kitty. Os Windsor: radiografia da família real britânica. Tradução de Lina Marques et. al. Sintra, Portugal: Editorial Inquérito, 1997.
MARR, Andrew. A real Elizabeth: uma visão inteligente e intimista de uma monarca em pleno século 21. Tradução de Elisa Duarte Teixeira. São Paulo: Editora Europa, 2012.
MEYER-STABLEY, Bertrand. Isabel II: a família real no palácio de Buckingham. Tradução de Pedro Bernardo e Ruy Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2002.
MORTON, Andrew: Diana – sua verdadeira história em suas próprias palavras. Tradução de A. B. Pinheiros de Lemos e Lourdes Sette. 2ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.













